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Pisamos fundo no holandês
Por Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
09/12/2009 | 07:00
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No dia 3 de julho de 1974, a Seleção Brasileira dizia adeus à Copa do Mundo da Alemanha. Mesmo com craques do quilate de Rivellino, Leão, Luis Pereira, Edu e Jairzinho, o scratch canarinho foi surpreendido por uma fantástica, devastadora e poderosa Holanda, apelidada carinhosamente de Laranja Mecânica. Exatos 35 anos depois, uma nova máquina holandesa volta a surpreender a Pátria de Chuteiras. Desta vez, porém, não se trata de futebol, mas de carros. Estamos falando do superesportivo de luxo Spyker C8 Spyder, que o Diário teve a oportunidade de acelerar.

O modelo, juntamente com o C8 Laviolette, passa a ser importado oficialmente para o Brasil pela Platinuss. O preço é bastante amargo. Para pouquíssimos paladares: parte de R$ 1,15 milhão, mas, dependendo dos opcionais, pode chegar a R$ 1,3 milhão. Paga-se - e muito bem - pela exclusividade, afinal, a produção de cerca de 100 unidades por ano é artesanal. "É o terceiro ou quarto esportivo de quem já tem, por exemplo, uma Ferrari ou um Porsche", revela Carsten Preisz, vice-presidente de vendas e marketing da Spyker. A fábrica da Spyker mudou-se recentemente para Conventry, na Inglaterra - antes era na cidade de Zeewolde, na Holanda, onde ainda permanecem outros departamentos da empresa, como engenharia, vendas e marketing.

Antes de domar um animal chucro, é preciso observá-lo. Analisá-lo minuciosamente para não levarmos um tombo. Equipado com motor Audi 4.2 V8 (mesmo do R8), de 400 cv de potência e 48,9 mkgf de torque, o Spyder revela números interessantes: velocidade máxima de 300 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos. Tal rendimento é possível pela excelente relação peso-potência - 3,125 kg/cv. O bólido utiliza materiais leves e resistentes. O alumínio, por exemplo, está presente no motor, na transmissão e no chassi.

Finalmente chega o momento tão aguardado: Acelerar! E, logo de cara, a primeira dificuldade é a mais simples: entrar. É necessário um mapa com coordenadas exatas para encontrar o botão que faz abrir a porta tipo tesoura - localizado atrás do espelho retrovisor externo. Tudo em benefício da aerodinâmica.

A posição de dirigir não é das mais confortáveis. Lembremos: trata-se de um esportivo, e não de um sedã luxuoso! A sensação é de estar sentado no chão. No entanto, todos os comandos estão muito bem posicionados, principalmente a transmissão manual de seis velocidades. "É um verdadeiro carro de corrida", diz Betinho Gresse, piloto da Stock Car e nosso instrutor/moderador durante o teste.

Ronco forte. O coração batendo mais forte! Adrenalina nas veias! Pisamos fundo e exigimos o máximo do Spyder. A arrancada e as retomadas são incríveis. Andar em altas velocidades é definitivamente a missão deste foguete sobre rodas. Rapidamente ultrapassamos a marca dos 200 km/h - e olha que nem chegamos à sexta marcha!

O barulho é de arrepiar. É possível sentir o coice do bruto a cada mudança de marcha e a vontade do motor de que se acelere mais.

Os pedais, encravados no assoalho como nos carros de competição, são duros. É preciso ter força nas pernas para chegar ao final do curso. Os três - acelerador, freio e embreagem - são muito próximos um do outro, ideais para os que têm pés pequenos (azar para os que calçam mais de 40). De acordo com Gresse, essa proximidade dos pedais facilita o punta-taco (artifício utilizado por pilotos profissionais pelo qual o condutor acelera e freia ao mesmo tempo com o pé direito para melhor equilibrar o carro em uma entrada de curva).

Os engates das marchas são justos e duros. É necessário ter muita atenção para não deixar em ponto-morto, como o jornalista que aqui escreve fez algumas vezes (papelão!). Os freios são poderosos. Nas frenagens mais bruscas sentimos a ação do cinto de segurança nos impedindo de dar com o peito no volante. A suspensão é rígida ao extremo. Característica típica dos carros de alto rendimento. As rodas de 19 polegadas garantem a estabilidade nas curvas e ajudam a manter o bichão sob controle.

Nas saídas de curva é preciso ter muito cuidado. O Spyder é desprovido de eletrônica - uma bênção para os que buscam uma tocada totalmente esportiva. Sem controle de tração e estabilidade, ao dar uma solada raivosa no acelerador numa curva, o conversível facilmente derrapa de traseira. Muitas vezes, dependendo da habilidade de quem está ao volante, é fácil perder o controle. "Acelere progressivamente", aconselha o prudente Gresse.

Como tudo que é bom dura pouco, após algumas voltas na pista chegou a hora de desligar o brinquedo e ir para casa. A sensação que fica, no entanto, é de realização. Dizer que o C8 Spyder é apenas mais um esportivo seria overdose de arrogância. O conversível é, sim, espetacular! E assim como em 1974, quando a Laranja Mecânica de Johann Cruyff surpreendeu o Brasil, o Spyder repetiu a dose 35 anos depois. Um brinde aos holandeses!




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