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Caso de homofobia vai a júri dia 8
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
31/07/2006 | 07:24
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Está marcado para o próximo dia 8, terça-feira, o julgamento de Fabiano Maio Eleno, 23 anos. Gago, como é conhecido, é um dos acusados pelo assassinato de Rodrigo Monteiro Sakavicius, 23. O crime ocorreu em agosto de 2004, na Vila de Paranapiacaba, onde Sakavicius faria um ritual de iniciação na religião wicca, que tem seus pilares na bruxaria. Ele foi enforcado e esfaqueado. Seu corpo foi enterrado em um matagal e encontrado 16 dias depois, em estado avançado de decomposição. Na delegacia, o comparsa de Gago, Robson Gonçalves da Silva, 25, o Zóio, justificou a crueldade. A vítima era homossexual.

Um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia, uma das organizações GLBTS (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros e Simpatizantes) mais importantes do país, mostra que 2.511 homossexuais foram assassinados no Brasil desde 1980. Só no ano passado, foram registrados 81 casos. São Paulo foi o segundo Estado com a maior concentração de crimes – nove no total, atrás apenas do Rio de Janeiro, com 12 ocorrências. Gago, no entanto, sempre negou a tese de homofobia para o crime. Segundo ele, o plano era assaltar Sakavicius. O rapaz reagiu e acabou sendo esfaqueado por Zóio, que depois o enforcou.

Contradições à parte, Gago, assim como seu comparsa, é acusado de homicídio triplamente qualificado (motivo fútil, uso de asfixia e traição) e ocultação de cadáver. Caso seja condenado pelo júri, pode pegar até 33 anos de prisão. Apesar de ser réu confesso do crime, o advogado de Gago, Joel Marcondes dos Reis, tentará sua absolvição. A alegação é de que Gago foi torturado pela polícia para confessar sua participação no crime. Ele foi preso depois de Zóio, no escritório onde trabalhava como vendedor de planos de saúde, no Centro de Santo André. Para evitar marcas em seu corpo que pudessem ser identificadas no exame de corpo delito, os policiais teriam – segundo Gago– utilizado listas telefônicas para abafar os socos. "Temos um laudo que comprova isso", diz o advogado.

Gago aguarda o julgamento no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá e será julgado em separado de Zóio, justamente por conta dessas contradições. O envolvimento dos dois, no entanto, é claro. Amigos, estavam fumando maconha quando foram abordados por Sakavicius, no fim da tarde do dia 29 de agosto de 2004. O rapaz havia deixado o apartamento onde morava com os pais, no bairro do Bom Retiro, região central de São Paulo, em busca de um lugar com mato, água e espaço livre, onde faria sua iniciação na wicca. Zóio e Gago sugeriram a Sakavicius que pegasse uma trilha na Serra do Mar que o levaria à vacaria.

A área é um conhecido reduto de usuários de drogas em Paranapiacaba. Gago e Zóio disseram ser guias da AMA (Associação de Monitores de Paranapiacaba), organização que recebe o suporte da Prefeitura de Santo André para promover atividades na Vila ferroviária, e – segundo a polícia – teriam cobrado R$ 5 pela informação. Gago de fato havia pertencido aos quadros da AMA, mas foi dispensado da entidade dias antes por não cumprir os horários de serviço. Já Zóio jamais integrou o grupo. Mais tarde, segundo o depoimento de Gago para polícia, os dois resolveram ir até a vacaria, curiosos em saber o que Sakavicius estava fazendo. O encontraram sentado no chão, com um incenso.

Foi aí que Zóio teria anunciado o assalto. Segundo Gago, a decisão de matar o rapaz foi tomada por medo de que ele e o parceiro pudessem ser reconhecidos. O próprio Zóio, no entanto, tem outra versão para o caso. Disse que os dois foram até a vacaria para saber se, de fato, Sakavicius era homossexual. Chegando lá, pegaram um cadarço e o enrolaram no pescoço do rapaz e passaram a perguntar se ele era gay. Zóio puxou uma ponta, enquanto Gago puxava outra. Sakavicius teria respondido com uma negativa à pergunta. Teve as mãos amarradas. Zóio pegou a faca que Gago trazia e golpeou três vezes o pescoço de Sakavicius. No dia seguinte, voltaram à vacaria para enterrar o corpo.

Quando escondia o cadáver, Zóio resolveu pegar para si o tênis que Sakavicius usava. O calçado foi encontrado em sua casa, no dia da prisão. Após meses de investigação, policiais da divisão de homicídios da delegacia seccional de Santo André chegaram até ele após uma denúncia. A testemunha, identificada como "x" no processo, disse que estava em um bar quando ouviu Zóio dizer que havia matado Sakavicius por ele ser "bicha", "boiola". Foi o próprio Zóio quem entregou Gago.

Após serem presos, as versões para o crime começaram a mudar. Enquanto Gago negava sua participação no crime, Zóio passou a negar a homofobia como motivação para o assassinato e a dizer que não havia enforcado o rapaz – o que levaria por terra duas das três qualificantes do crime, motivo fútil e uso de asfixia. Zóio também passou a negar que tenha voltado para a vacaria para ocultar o corpo de Sakavicius, o que também o livraria de outra acusação. Com isso, sua pena máxima cairia de 33 para 20 anos, considerando que ele conseguiria se livrar da terceira qualificante do homicídio: a traição.

Para a irmã da vítima, Patricia Sakavicius, a justiça só será feita caso o júri aceite na íntegra a denúncia feita pelo Ministério Público contra os acusados e os condene à pena máxima.

Entenda o caso

Rodrigo Monteiro Sakavicius deixou o apartamento em que morava com os pais no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, na tarde do dia 29 de agosto de 2004 para fazer um ritual de iniciação na religião wicca. Seu corpo foi encontrado 16 dias depois, em um matagal em Paranapiacaba, em estado de decomposição.

Por Zóio
Robson Gonçalves da Silva confessou à polícia ter matado Sakavicius quando foi preso. Zóio, como é conhecido, e Fabiano Maio Eleno, o Gago, o enforcaram com um cadarço de tênis. Depois, Zóio amarrou as mãos do rapaz e o esfaqueou. Na época, ele atribuiu o crime ao fato da vítima ser homossexual. Em novo depoimento, já preso, Zóio voltou a assumir a autoria do crime, mas disse ter agido sozinho, sem auxílio de Gago. O motivo, dessa vez não teria sido a homossexualidade de Sakavicius, mas sim vingança pelo rapaz ter paquerado semanas antes sua mulher.

Por Gago
Assim como Zóio, Fabiano Maio Eleno admitiu à polícia ter matado Sakavicius quando foi preso. Segundo ele, o crime não foi causado por homofobia.

Os dois queriam assaltar o rapaz, que reagiu e foi esfaqueado por Zóio. Só então eles
resolveram amarrá-lo e enforcá-lo. A decisão de matá-lo foi tomada por medo de um
possível reconhecimento. Quando voltou a prestar depoimento, Gago também mudou sua versão para o crime. Disse que é inocente e que foi torturado pelos policiais para confessar o assassinato.




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