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Brasileiro é o nono do mundo que mais gasta com roupas e acessórios

Preços acessíveis foram a justificativa para que no País houvesse dispêndios de R$ 250 bilhões em 2020

Por Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
29/08/2021 | 00:01
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DGABC


O Brasil é o nono do mundo entre os que mais gastam com compras de roupas e acessórios. O País atingiu a cifra de US$ 48 bilhões, ou R$ 249,8 bilhões – com a cotação do dólar a R$ 5,21 – em 2020 em dispêndios com esses produtos. É o que revela pesquisa realizada pela plataforma de descontos cupomvalido.com.br, que reuniu informações da Statista, companhia alemã especializada em dados de mercado e consumidores, sobre o consumo de vestuário em todo o planeta.

À frente do Brasil estão, nessa ordem, Estados Unidos, com desembolso de US$ 359 bilhões, China (US$ 324 bilhões), Japão (US$ 82 bilhões), Índia (US$ 81 bilhões), Reino Unido (US$ 77 bilhões), Alemanha (US$ 77 bilhões), Itália (US$ 58 bilhões) e Rússia (US$ 52 bilhões). A França ocupa o décimo lugar, com US$ 40 bilhões. O levantamento leva em consideração 195 nações, ouviu 1.250 pessoas e não tem recorte regional.

O Estado de São Paulo está na dianteira no País quando o tema é vestimentas, que despendeu 26% do total gasto por aqui. Minas Gerais, com 10%; Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que detêm 7% cada um; e Paraná (6%) fecham os cinco mais gastões. Bahia (5%), Santa Catarina e Pernambuco (4%), Pará e Goiás (3%) completam o top dez.

A justificativa para a liderança da Nação é, como não poderia ser diferente, o preço acessível. Possuir valores baixos é o fator número um para a escolha dos itens a serem levados para casa, com 38% de menções na pesquisa. Inclusive, as classes sociais mais consumistas na hora de bem vestir são, pela ordem, B, com 31% e que tem renda, em média, de R$ 3.085; e a C (21%), com ganhos na faixa de R$ 5.600. O estrado social D, que tem rendimentos na média de R$ 720, vem logo a seguir e representa 16% do consumo na totalidade.

Variedade (33%) e qualidade (30%) dos produtos oferecidos são a segunda e terceira opções na hora de querer ter o bem. E, por fim, pós-venda (28%) e descontos (27%) também são levados em consideração. Dentre os motivos que levam as pessoas às aquisições de roupas e acessórios, 22% dos brasileiros compram para substituir peça antiga. Outros 18% fazem isso para se autopresentear, e 15%, para se sentir melhor.

Apesar do crescimento de vendas on-line, motivado inclusive em razão da quarentena, que fez com que o comércio de um modo geral ficasse quase paralisado devido ao agravamento da crise sanitária causada pelo coronavírus, grande parte dos brasileiros, ainda de acordo com o levantamento, tem nas visitas às lojas físicas a preferência, com 79% das escolhas, contra 17% nas virtuais e 3% na venda direta.

Já em relação às vendas em lojas físicas, a Renner tem o maior volume de comercializações desses produtos, com R$ 9 bilhões, seguida pela C&A, com R$ 5 bilhões, e Alpargatas, com R$ 3 bilhões. Na sequência, Lojas Marisa e Calçados Beira Rio, ambas com R$ 2 bilhões cada.

Alternativas às lojas físicas confirmam a alta no consumo no Grande ABC

Lukas Hudsonn Alves Oliveira, 25 anos, de São Bernardo, corrobora com a pesquisa, tanto em relação à alta procura por roupas e calçados quanto pela atratividade causada pelo menor preço. Ele está nesse ramo desde 2017, em princípio para complementar a renda. Mas, ao perder o emprego, no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), juntou-se à namorada, Priscila Liliane, e deram início às vendas da Vestic Outlet pelo e-commerce, termo em inglês utilizado para designar comércio eletrônico, transações comerciais por meio da internet auxiliadas por equipamento eletrônico.

Seu maior público consumidor está na faixa etária entre 18 e 34 anos, de acordo com estatísticas fornecidas a eles por uma de suas redes sociais. Mas o campo é amplo. “Temos públicos de todas as idades também, principalmente nas periferias de todo o Grande ABC e inclusive até de São Paulo.”

O aumento das vendas nessa modalidade Lukas atribui à “facilidade” que o ramo proporciona ao cliente e ao “estilo que nós trabalhamos”, além, claro, do baixo custo. “O valor mais em conta que os concorrentes é o maior atrativo, pois, assim, a pessoa pode comprar outros produtos, porque muitas vezes gosta de presentear parentes ou familiares. E a entrega é rápida, porque trabalhamos com moto, e também procuramos fidelizar o cliente, porque ele pode pagar na entrega. As pessoas gostam.”

Comércio de roupas e calçados usados, o famigerado brechó, foi o caminho encontrado por Michele Martins Rosa, 41, de Santo André, para driblar a paralisação das atividades causada pelo coronavírus. Ela trabalhava com eventos preparando e servindo a paella, típico prato da culinária espanhola, do qual diz gostar de “brincar seriamente de ser chef nas horas vagas”.

Com o cancelamento dos trabalhos que fazia devido à quarentena imposta pelo Estado para conter a propagação do vírus, ver o desemprego bater à porta e ainda a necessidade de manter os quatro filhos, ela enxergou no negócio oportunidade. “Meu ponto de partida foi o desemprego. Montei no fundo. E também escolhi ter o MR Brechó por ser fissurada por compras nesses locais, onde encontro grandes marcas por preço acessível.” Antes sinônimo de “quinquilharias, algo sem utilidade”, como recorda, hoje enxerga-se de outra forma esse tipo de estabelecimento, diz ela. Michele também considera que a alta procura por seus produtos está relacionada ao desemprego, que ‘colaborou’ para potencializar o negócio, já que faz com que as pessoas procurem por produtos mais baratos e que, apesar de usados, tenham “ótimo estado”.

Não faz distinção quanto aos clientes, mas revela que as maiores consumidoras, claro, são as mulheres. “São bem diversificados, homens, senhoras, senhores, jovens, crianças, todos caíram nas graças do brechó, mas a maioria é mulher. A verdade é que as pessoas tinham vergonha, porque viam como lugar de coisa velha. Mas hoje levam em conta o custo-benefício, porque são peças únicas, tanto atuais quanto retrô".

Mas para tanta procura também se faz necessária a reposição, que diz fazer em visitas a ONGs (Organizações Não Governamentais), bazares, instituições religiosas e “onde encontro produtos abaixo do preço”.

Que o Brasil ultrapasse outras nações e suba nesse ranking fazem parte de seus sonhos, para que, assim, seu negócio esteja sempre em evidência e, claro, suba também seu faturamento. “Brechó tem bom custo-benefício. Além disso, organização do espaço, limpeza, higienização de roupas e acessórios, boa apresentação do local e de produtos foram fatores que contribuíram para diminuir a resistência em relação a esse tipo de consumo e também aumentar as vendas. Hoje brechó é visto como loja de roupas e acessórios, de peças únicas, exclusivas. E um baú onde achamos tesouros.”




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