Economia Titulo Desvendando a economia
Compreender o comportamento da economia é complexo
Sandro Maskio
23/08/2021 | 00:01
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Costumo dizer que quando o tema é economia, diversas pessoas gostam de palpitar, como quem comenta sobre a Seleção Brasileira de futebol e as decisões do técnico. Em especial após a derrota da Seleção em uma partida ou sua eliminação em um campeonato, diversas vezes nos vemos envoltos em conversas em que alguém critica as decisões do técnico, a escalação dos jogadores, o esquema tático do time e temas afins. Quando não, nós mesmos emitimos avaliação como se fôssemos grandes entendedores de esquemas táticos de futebol, montagem de equipes, motivação de times; com duras críticas aos jogadores e técnicos.

Em relação a temas econômicos, não raras vezes também nos deparamos com conversas e debates em que os interlocutores expõem várias críticas às decisões adotadas na condução da política econômica e às estratégias para o desenvolvimento econômico produtivo, como se fossem profundos conhecedores dos fatores que definem o funcionamento e a trajetória da economia.

Entretanto, a dinâmica da economia está atrelada à interação de diversos fatores, que por vezes tornam sua compreensão complexa. Assim como devem ser complexas as interações entre os vários elementos que influenciam o desempenho da Seleção de futebol.

O atual momento nos traz alguns exemplos desta complexidade. No cenário internacional, o segundo e terceiro trimestres de 2020 foram marcados por forte desaceleração da economia em diversos países, como reflexo da pandemia. Já no primeiro trimestre deste ano, alguns países começaram a demonstrar nítidos sinais de retomada da atividade econômica, em especial aqueles que conseguiram amenizar os efeitos do coronavírus e sua transmissão, acompanhado da adoção de pacotes de estímulo à reconstrução econômica. União Europeia e Estados Unidos, neste último item, são exemplos.

Ocorre que a recuperação da atividade econômica não se dá no mesmo ritmo em todos os países. Em geral, os desenvolvidos se mostram mais adiantados neste processo. Com isso, têm ampliado a demanda por insumos de produção em ritmo elevado. Entretanto, na outra ponta, os principais fornecedores destes insumos, em especial as comodities minerais como aço e cobre, e produtos semimanufaturados provêm em grande parte de países em desenvolvimento, que têm apresentado ritmo de retomada da economia bastante mais lento.

Como efeito, temos visto um descompasso entre a demanda por insumos de produção e a capacidade de oferta dos mesmos, que tem se mostrado aquém do necessário. A retração da atividade produtiva nos trimestres anteriores e a lenta recuperação destas economias levaram à queda nos estoques destes insumos e agora enfrentam dificuldade para conseguir atender toda a demanda. Isso tem se refletido na alta da cotação de diversos bens comercializados internacionalmente, afetando o nível de preços no mercado internacional e também no mercado local, como explicamos nesta coluna há algumas semanas.

Este desencontro entre oferta e demanda no mercado internacional é fruto da desorganização das cadeias de produção, que nas últimas décadas ampliaram sua internacionalização e, consequentemente, a dependência entre as estruturas produtivas dos diferentes países.

Neste aspecto, outra questão que está em jogo, e é tema de especulações entre diversos analistas, refere-se às estratégias de política de desenvolvimento produtivo adotadas pelos diferentes países diante do atual quadro. Parece bastante claro que tanto Estados Unidos como União Europeia farão esforços para reindustrializar suas economias, com a forte mão invisível do Estado. Bem como para ampliar suas qualidades competitivas por meio das competências tecnológicas e inovativas, conforme está claro nos enormes mecanismos de estímulos adotados em ambos.

Neste horizonte, a China certamente não ficará atrás nesta corrida, tendo em vista os grandes avanços produtivos e tecnológicos já demonstrado pelo país oriental, além da grande ambição em se tornar a maior economia do planeta.

Não parece um cenário nada simples de compreender. Muito menos de fazer prognósticos assertivos. A complexidade está em reconhecer os principais fatores que atuam sobre a dinâmica da economia e sua trajetória, e ter habilidade de analisar os movimentos.

Enquanto isso, não está clara qual a estratégia de reposicionamento da economia brasileira no cenário internacional, seja no âmbito produtivo, competitivo e/ou setorial. Como um apreciador de futebol, fico na torcida para que as estratégias de atuação sejam eficientes e ocorram em tempo de produzir algum resultado favorável.  




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