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Aprender a ler e a escrever: sonho que virou realidade e exemplo em meio à pandemia

Incentivada pelas filhas e com apoio da professora, auxiliar de limpeza em escola da rede municipal aproveitou as aulas remotas para, enfim, estudar

Publieditorial
09/06/2021 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


A pandemia do novo coronavírus vai deixar para sempre marcas profundas de tristeza devido à perda de milhares de vidas e de gratidão àqueles que venceram a batalha contra a doença, mas também haverá quem conquistou vitórias que serão lembradas e aproveitadas ao longo da vida. Caso da auxiliar de limpeza Elisângela Alves de Morais, 37 anos, que superou traumas do passado, a vergonha e o medo para encontrar forças, mergulhar de cabeça e realizar o que, para ela, era o principal sonho: aprender a ler e a escrever. Chegou lá, empurrada pelas filhas e apoiada nos ensinamentos e carinho da professora da rede municipal de ensino de Santo André Rosilene do Nascimento.

Moradora do Parque João Ramalho, Eli, como gosta de ser chamada, não teve a iniciativa de buscar uma escola antes, justamente por traumas do passado. Vontade ela tinha, mas faltava a coragem para superar os medos. O empurrão, então, veio das filhas Nathalia, 25, Ana Paula, 21, e Ana Carolina, 16. Cansadas de ver o sofrimento da mãe e sabendo da vontade que ela tinha de retomar os estudos, elas começaram a forçar Eli, que trabalha em escola municipal de Santo André, a apostar nas aulas. “Minha mãe achava que estava tarde demais para tentar estudar. Mas nunca é tarde para aprender. E tenho muito orgulho dela, que agora já forma as palavras sozinha”, disse Ana Paula, revelando que, antes, a mãe precisava levar as filhas para que pudesse fazer qualquer atividade simples do dia a dia.</CW> 

“Relutei, porque tinha vergonha de voltar a estudar com essa idade. Tinha muito medo do que iam pensar, e também de assumir aos colegas de trabalho que eu não lia”, completou a auxiliar de limpeza, que largou os estudos ainda muito jovem por razões que preferiu não expor. “Parei de estudar aos 13 anos, por problemas pessoais. O trauma me causou espécie de apagão, como se nunca tivesse frequentado nem um ano de escola. Depois disso, passei toda minha vida, até o ano passado, vivendo no escuro”, diz Eli.

A auxiliar conta que, no ano passado, decidiu “pegar firme” nas aulas on-line e aproveitar a presença das filhas em casa para focar nos estudos. “Comecei a ler em plena pandemia. Agora, neste ano, estou começando a escrever. Ainda tenho dificuldade, mas já avancei muito. As aulas remotas, pelo menos para mim, foram excelentes”, comemora. 

Com sua história de superação, Eli tornou-se incentivo para colegas de trabalho, já que a empresa que a contratou – e que presta serviçoa à Prefeitura andreense – fez uma homenagem para ela, utilizando seu relato como exemplo. “É muito bom ver pessoas que pararam de estudar se espelhando em mim. Pessoas que trabalham comigo vieram me falar que vão tentar voltar para a sala de aula. Fico muito feliz. As pessoas não podem desistir de si mesmas”, disse a auxiliar de limpeza. “É como se eu tivesse saído do escuro mesmo. Lendo e escrevendo vejo luz na minha vida ”, comemora Eli. O que era medo, vergonha e trauma agora virou exemplo de coragem e força de vontade para Santo André.

"Comecei a ler em plena pandemia. Agora, neste ano, estou começando a escrever. Ainda tenho dificuldade, mas já avancei muito. As aulas remotas, pelo menos para mim, foram excelentes”. 




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