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Tipos sanguíneos e suscetibilidades para a Covid-19
Antônio Carlos do Nascimento
21/12/2020 | 00:01
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A medicina ortomolecular nunca me incomodou pelo quanto lhe faltasse de sustentação científica em seus diagnósticos e condutas, nem mesmo pelas fortunas gastas pelos pacientes que se submetiam a seus conceitos, notadamente no início deste século, mas uma das elucubrações ortomoleculares me trouxe transtornos.

Centenas de vezes tive que responder a pacientes que não havia qualquer conexão entre obesidade e tipo sanguíneo, nem tampouco existiam dietas específicas que fossem mais prováveis ao emagrecimento a depender de tipos sanguíneos. 

Penso que esta lembrança tenha motivado meu desdém inicial para a sugestão de alguns cientistas acerca da possível relação entre a tipagem sanguínea ABO-Rh e as suscetibilidades e gravidade da Covid-19, porém, logo atentei que para esta suspeita está sendo oferecido grande número de pesquisas tuteladas por serviços de enorme prestígio científico.

O artigo publicado em 12 de julho deste ano no Annals of Hematology com o título Blood Type And Outcomes in Patients With Covid-19 (Tipo sanguíneo e desfechos em pacientes com Covid-19), avaliou os pacientes diagnosticados com Covid-19, entre os dias 6 de março e 6 de abril, nos cinco maiores hospitais do Estado de Massachussets, nos Estados Unidos. A pesquisa não encontrou clara conexão entre tipos sanguíneos e gravidade da doença, mas o baixo número de pacientes (1.289), entre outros impedimentos, não permitiu conclusões mais robustas.

Porém, mais recentemente, dois artigos do Blood Advances (publicação da Sociedade Americana de Hematologia) mostram resultados mais insinuantes para a citada relação.

Com o título Reduced Prevalence of Sars-CoV-2 Infection in ABO blood group O (Prevalência reduzida de infecção por Sars-CoV-<CS10.4>2 no grupo sanguíneo O), os pesquisadores mostram estudo no qual foram avaliados 473 mil indivíduos dinamarqueses, testados positivos para Covid-19, entre 27 de fevereiro e 30 de julho de 2020. Os dados sugeriram que aqueles com tipos sanguíneos A, B ou AB podem ser mais suscetíveis à Covid-19, quando comparados com portadores do tipo O.

Em outro artigo, intitulado The Association of ABO Blood Group With Indices of Disease Severity And Multiorgan Dysfunction in Covid-19 (A associação do grupo sanguíneo ABO com índices de gravidade da doença e disfunção de múltiplos órgãos em Covid-19), é apresentado estudo que avaliou pacientes internados com Covid-19, entre os dias 21 de fevereiro e 28 de abril de 2020, em seis hospitais metropolitanos de Vancouver, no Canadá. Pesquisadores concluíram que pacientes com Covid-19 gravemente enfermos com grupo sanguíneo A ou AB possuem risco aumentado de necessidade de ventilação mecânica, insuficiência renal com exigência de diálise e tempo de internação prolongado em unidade de terapia intensiva, quando comparados a pacientes de tipos sanguíneos O ou B.

É quase certo que não encontraremos qualquer proteção absoluta para infecções virais que não se explique pela resposta imunológica, a qual, pode ser naturalmente gerada pelo contágio viral, ou, na opção mais prudente, a vacinação. 

Contudo, alguns indivíduos parecem ser menos propensos à infecção, considerando os mesmos convívio e exposição nos quais outros se infectam, enquanto naqueles que desenvolvem a doença, vê-se intensidades diferentes diante de cenários iguais de tratamento e condições clínicas prévias. Entre tantas interrogações, nada clareia mais nossos futuros que a imunização vacinal, pois, ainda que não nos garanta blindagem perene, pois não possui o testemunho do tempo, é segura, sob o crivo da ciência.




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