Montadora também admite que pode vender ou alugar prédios administrativos com a mudança da sede no início de 2021 ao Interior
Além da transferência da sede administrativa da Toyota em São Bernardo, onde estava desde 2015, para Sorocaba, no Interior, para onde vai em janeiro de 2021, o Centro de Pesquisa Aplicada da montadora também está de mudança marcada.
Inaugurado em 2016, o espaço destinado ao desenvolvimento de tecnologia da marca foi o primeiro a ser construído na América Latina – só existem outros centros do tipo na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. A ideia era aumentar o índice de nacionalização de componentes automotivos e desenvolver novos projetos.
O Centro de Pesquisa Aplicada integrou investimento de R$ 70 milhões da montadora japonesa entre 2015 e 2017, na revitalização da planta de São Bernardo. O aporte foi fruto do programa do governo federal Inovar-Auto, que incentivou o desenvolvimento de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) no setor automotivo até dezembro de 2017.
Saiu do centro de pesquisa na região, por exemplo, em 2018, o primeiro protótipo de híbrido com motor de combustão interna flex, ou seja, movido tanto com o uso de gasolina e etanol como a eletricidade. O projeto foi desenvolvido em conjunto entre equipes de engenharia de São Bernardo e do Japão.
Na avaliação do coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV Antonio Jorge Martins, a decisão de acompanhar a mudança da sede para Sorocaba, onde há unidade fabril mais moderna e mais próxima das outras plantas, em Porto Feliz e Indaiatuba, também no Interior, visa ampliar a racionalização de recursos e competitividade – embora represente para a região uma perda do ponto de vista de desenvolvimento de tecnologia. “Existe uma forte crise no setor automotivo em que o mercado está 35% menor do que no ano passado e, diante disso, as montadoras têm buscado alternativas para se adequar à nova realidade e compensar a queda na produção e nas vendas. Algumas, inclusive, têm demitido”, apontou.
A Toyota afirmou, inclusive, que como parte de um planejamento de longo prazo para tornar a empresa mais enxuta e competitiva, os prédios onde hoje funcionam os setores administrativo e de engenharia, poderão ser vendidos ou alugados.
Segundo Martins, o cenário não é exclusividade brasileira, pois o mercado mundial está caindo, ao passar de 89 milhões para 70 milhões de unidades ao ano. “Não à toa, temos visto volume intenso de parcerias entre as marcas para fazer frente ao avanço de empresas de tecnologia no desenvolvimento de carros autônomos”, assinalou.
PDV
De acordo com a Toyota, já foi aberto PDV (Programa de Demissão Voluntária) para todos os colaboradores do setor administrativo em todas as plantas no País. “As pessoas interessadas têm até o fim de outubro para se pronunciar. O plano tem benefícios adicionais, incluindo manutenção do plano de saúde por um período de tempo e consultoria de RH (recursos humanos) para recolocação no mercado de trabalho, entre outros”, informou a empresa, sem detalhar os benefícios. “Esse plano pretende chegar a 300 pessoas e todas elas terão o suporte e o respeito por toda a sua contribuição para a Toyota do Brasil.”
Procurado, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou que desconhece que a abertura do PDV já foi efetuada, uma vez que haverá reuniões entre a entidade e a montadora de hoje até sexta-feira para a definição das condições do programa.
MUDANÇA
Conforme o Diário noticiou na edição de sábado, a sede administrativa da companhia, hoje no bairro Planalto, seguirá para a planta de Sorocaba, onde há cerca de 2.000 colaboradores e são fabricados os modelos Etios e Yaris. Trata-se da unidade mais moderna no País, inaugurada em 2012.
Atualmente, a fábrica de São Bernardo produz componentes que abastecem a planta de Porto Feliz, e motores do Etios, Yaris e Corolla. A unidade também exporta peças para os Estados Unidos, para montagem do Camry. Na fábrica da região, a mais antiga da Toyota no Brasil, fundada em 1962, há em torno de 1.700 trabalhadores. A empresa garantiu que não há planos para a extinção da produção na cidade.
Na segunda-feira, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), se reuniu com a diretoria da montadora e se colocou à disposição para tentar rever a situação e fazer com que o setor administrativo permaneça na cidade. Sobre o encontro, a Toyota disse que foi para comunicar da decisão e “reforçar que a fábrica segue em operação, como um importante hub (concentrador) de exportação”.
(Colaborou Yara Ferraz)
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.