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Epidemia de coronavírus desperta medo de sair de casa

Especialistas em psicologia recomendam que é preciso organização e pensamentos positivos

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
23/03/2020 | 00:01
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 Com a pandemia do novo coronavírus se espalhando pelo Brasil e o medo que paira no ar, muitas pessoas estão optando por ficar em casa, em quarentena, medida recomendada, inclusive, pelos órgãos públicos. E toda essa insegurança faz com que algumas pessoas sintam realmente medo de circular pelas ruas, mesmo quando necessário, e manter contato com outras indivíduos.

É o caso da andreense Fernanda Maria da Silva, 29 anos, que já trabalha de sua residência há alguns dias. Ainda assim, o medo não a deixa tranquila. Não quer sair na rua, mesmo se precisa. Ontem foi ‘obrigada’. “Saí para buscar um pouco de comida por que já estava acabando”, explica.

Efrem Pancev, 39, é dono de um bar em Santo André, município onde reside. Já fechou o estabelecimento, antes mesmo de ser obrigado, e está em sua residência. Mas sua preocupação não cessa. “Tenho medo de sair de casa. Minha mulher trabalha em UTI de hospital e não quero pegar essa doença e passar para as pessoas.”

Pancev tem tomado as precauções que pode. A mulher de 62 anos que trabalha em sua casa já foi devidamente dispensada. “Mas segue recebendo, é claro. Ela tem carteira de trabalho assinada”, reforça. Para ocupar a cabeça ele faz as tarefas do lar, enquanto a mulher segue na preocupante labuta hospitalar. “Faço comida, lavo, tento manter a rotina de acordar cedo. A noite eu relaxo, tomo uma cerveja e ouço música”, explica.

Rafael Marin, 32, de Santo André, também tem medo de ir para a rua. Ele já trabalha de casa, mas quando precisa sair, a primeira coisa que faz ao retornar é tomar banho. Ele diz que o que mais o incomoda é a agonia de não saber o que vai acontecer. E se preocupa com avô, de 89 anos, com quem vive. “Tenho medo de me infectar e passar para ele”, diz.

O DESCONHECIDO ASSUSTA
Segundo o psicólogo André Correia, de São Bernardo, o que causa medo não é ficar em casa, mas o descontrole por estar na rua em uma situação como a que se vive hoje. “Pode despertar desespero, uma sensação de perda de controle. De a pessoa não conseguir ter sobre seus olhos a situação toda, em equilíbrio. Daí surta”, explica.

O profissional alerta para outra situação, de quando se está em quarentena. “Ficar dentro de casa, com tédio, com falta do que de fazer, com falta de estímulo e sendo bombardeado de informações negativas, sendo boa parte delas fake news, podem despertar angústia, medos, desencadear sensações de tristeza que podem estimular estados depressivos. Nunca passamos por isso, então, são situações hipotéticas do que pode acontecer.”

É o que reforça a psicóloga de São Caetano Luisa Chiocheti. Ela diz que durante a reclusão, pode-se entrar em contato com sentimentos e outras questões desagradáveis, como solidão e preocupação, por exemplo. Pode até ser um gatilho para a depressão ou até mesmo para transtornos obsessivos.

Correia sugere que a pessoa, ao sentir algo estranho por estar confinada, deve lembrar que estar em casa nesse momento é uma opção para o bem. “Quando você pensa nisso, a sensação de assumir o controle aumenta um pouco mais. Isso tira o estresse e alivia o peso da pressão do mundo exterior”, afirma.

Para o profissional, é preciso ter cautela para a pandemia não se tornar também uma situação de histeria. “É quando o meu desespero se torna o seu desespero e do outro e do outro e assim por diante. Isso também seria muito perigoso, um desastre emocional. Não é bom muitas pessoas desesperadas e em pânico. Além de tudo, não favorece o sistema imunológico. Quando estamos em depressão, preocupados, ansiosos, nosso sistema responde negativamente”, diz.

Ele afirma ser necessário, durante a reclusão, descansar, fazer contato virtual com a família, conversar, estreitar laços. “Fale sobre amenidades e não só sobre coronavírus. Temos que cuidar do que está doente e exercitar o que está saudável, nossos pensamentos. Tem de rir, se divertir. Isso estimula o bom funcionamento do nosso sistema imunológico. Temos de estar bem para enfrentar as coisas.”

Segundo Luisa, a pessoa que se sentir estranha durante a reclusão deve tentar se reestruturar, pensar que é passageiro, tentar manter pequenas coisas da rotina em funcionamento o mais normal possível. Pode ser uma saída para a adaptação deste momento. “Pensar que é algo coletivo, e deixar de lado pensamentos como ‘justo na minha vez de viajar isso foi acontecer’, procurar pensar ‘o que posso fazer para ajudar alguém que esteja necessitado e mais vulnerável’, manter-se em movimento, físico e mental, aproveitar para colocar tarefas em dia. Sabe aquelas que a gente nunca tem tempo de fazer? Então.”

Ela lembra também que os profissionais da psicologia estão trabalhando para dar suporte para quem precisa, mesmo em meio à pandemia. E frisa: “Não espere para procurar ajuda”. Luisa diz que pacientes que já estão em acompanhamento psicológico poderão continuar na modalidade virtual. “Basta conversar com o seu psicoterapeuta e ajustar os detalhes. Lembrando que este modelo de atendimento é preconizado pelo Conselho Federal de Psicologia. Para os que ainda não fazem tratamento, mas estão percebendo a necessidade de fazê-lo agora, não espere. Procure indicações de profissionais habilitados para atendê-lo em formato virtual.”




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