Setecidades Titulo
Dependentes químicas ficam sem apoio
Gleyma Lima
Especial para o Diário
24/11/2008 | 07:00
Compartilhar notícia


Em cada 13 pessoas que procuram tratamento por dependência química, apenas uma é mulher. O preconceito e a falta de locais apropriados para o público feminino atrapalham quem busca ajuda.

Dados da unidade de dependência de drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mostram que a mulher viciada em drogas ilícitas sofre com preconceito até entre os próprios dependentes. "A mulher dependente química tem vergonha de comparecer a um grupo de recuperação misto para pedir ajuda". afirma o psiquiatra da Unifesp Marcelo Miel. "A sociedade compreende que um homem seja viciado, mas não uma mulher."

Os especialistas dizem que as mulheres se sentem mais à vontade para procurar ajuda quando o tratamento é exclusivamente para elas. Médicos também perceberam que a maioria que procura o tratamento está desacompanhada; apenas as adolescentes vão com os pais. "Raramente ela vai acompanhada de um filho ou com o marido. Eles ajudam menos. Todos têm vergonha", afirma a psicóloga e coordenadora do Promud (Programa de Atenção à Mulher Dependente Química), Sueli Brasiliano.

Um bom exemlpo de atendimento específico para mulheres está no Grande ABC. Uma chácara em Ribeirão Pires cuida exclusivamente das dependentes químicas. O psicólogo Cláudio Amâncio fundou há sete anos a Casa de Clara para atender somente mulheres que possuem este tipo de problema. "Eu tinha três casas voltadas para a recuperação de homens e nenhuma para o sexo feminino e notava que muitas famílias vinham me pedir para internar uma menina e eu não tinha um local apropriado. Foi quando abri a Casa de Clara, em Ribeirão Pires, com capacidade para alojar 30 mulheres", conta.

Entre as internas da chácara está Joana (nome fictício), 29 anos. "Agora estou ciente que para eu me recuperar eu preciso aprender a ser ‘careta', pois só assim conseguirei reconquistar a minha vida."

Amâncio explica que a dependência química age da mesma forma tanto para o homem quanto para mulher. Porém as crises de abstinência são diferentes. "As crises acontecem com mais intensidade para a mulher devido à alteração hormonal e dias da menstruação."

Segundo a coordenadora da Casa de Clara, Cleuza Fernandes, valores como respeito por si e pelo próximo, amor e carinho são temas importantes de serem passados para quem está em recuperação. "As reuniões de grupo que fazemos todos os dias com as internas são os momentos em que elas têm a oportunidade de colocar para fora os sentimentos que estão trancados dentro de cada uma."

A socióloga e coordenadora do Caps (Centro de Apoio Psicossocial) de Santo André, Graziela Barreiro, aprova a metodologia, mas alerta que em alguns casos é necessário um acompanhamento médico para iniciar o processo de um recuperação. "Muitas mulheres demoram para procurar tratamento e por isso, em alguns casos, é necessário que a paciente tome medicamentos para que consiga enfrentar o tratamento de uma forma positiva", afirma Graziela Barreiro. Ela ainda diz que a procura pelo tratamento no Grande ABC teve um aumento considerável nos últimos anos.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;