O novo filme de Jonathan Demme, Rachel Getting Married é uma interessante comédia dramática familiar, filmada com estilo e garra de documentarista. Retrata o tal casamento de Rachel (Rosemarie Dewitt), mas não tem a noiva como protagonista, mas a problemática irmã, Kym (Anne Hathaway, de O Diabo Veste Prada), que chegou ao Festival de Cinema de Veneza saída de uma clínica de reabilitação para alcoólatras.

O filme exibe uma vocação coral, com o foco espalhado por vários personagens, registrados por uma câmera ágil que lembra a de um documentário. "De fato, busquei esse tipo de linguagem e a experiência como documentarista me ajudou agora na ficção", disse Demme, vencedor do Oscar com O Silêncio dos Inocentes. Anne disse que gostou do desafio, sua primeira personagem dark: "Kym tem caráter obscuro, sombrio, talvez. Mas é honesta. Vive as suas dificuldades com orgulho e dor. Mergulhei nela. Jamais havia interpretado algo do gênero. Amei estar no centro dessa confusão. Foi difícil e complexo."

Na última quarta-feira, Veneza exibiu também The Sky Crawlers, de Mamoru Oshii, segunda animação japonesa em concurso. A outra é Ponyo, de Hayao Miyazaki, que se tornou cult e continua à frente entre os favoritos ao Leão de Ouro (a revista Ciak publica boletim diário com os resultados das votações, como termômetro).

Os jornais locais acordaram para o que chamam de "crise de Veneza". A freqüência caiu 12% em relação a 2007. Vieram menos filmes de Hollywood e, portanto, menos estrelas no tapete vermelho. Os concorrentes da competição principal decepcionam. Os dirigentes (Paolo Baratta, da Bienal de Veneza, e Marco Müller, diretor do festival) justificam: culpa da crise do dólar. Depois, a greve dos roteiristas de Hollywood impediu o término de possíveis participantes. Quanto aos filmes presentes? "São o que havia de melhor disponível", justifica Müller. E o fato de Miyazaki estar à frente das preferências? "Ponyo é o mais esplêndido exemplo de pop art contemporâneo", diz. Não convenceu.