Economia Titulo Após altos e baixos
Setor automotivo tem desafios na região para se manter como maior polo

Para especialistas, encerramento da Ford em São Bernardo pesa, mas deve estimular reflexão a demais gargalos da indústria no Grande ABC

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
29/12/2019 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


A indústria automotiva do Grande ABC passou por altos e baixos neste ano. Desde anúncios de investimentos e da fabricação de novos modelos até o fechamento de montadora e queda nas exportações. Portanto, o mais pujante setor da região deve esperar por mais desafios em 2020, conforme especialistas, para manter o título de principal polo automobilístico do País.

No total, em 2019 foram anunciados cerca de R$ 15 bilhões de investimentos pelas montadoras, sendo que as cinco – Volkswagen, Scania, Mercedes-Benz, Toyota e General Motors – empregam aproximadamente 31,4 mil trabalhadores. Porém, sem dúvida, o acontecimento mais marcante do ano foi o encerramento de produção da Ford, em São Bernardo. A montadora decidiu sair do mercado de caminhões na América do Sul, o que resultou no fechamento de 2.800 postos de trabalho na cidade, após 52 anos no local.

Apesar de o governo do Estado ter se prontificado a encontrar novo comprador para o parque industrial do bairro Taboão e a Caoa, se manifestado como interessada, as negociações não foram concluídas. Toda a produção foi desligada e, hoje, só o administrativo, que será transferido para a Vila Olímpia, em São Paulo, em março, permanece na unidade. 

Para o coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Jefferson José da Conceição, este é o primeiro assunto que deve ser resolvido em 2020. “O ano de 2019 foi bastante difícil porque deu continuidade à sequência de retrocessos no PIB (Produto Interno Bruto) da região, que de 2016 para cá perdeu 25%. O fechamento da Ford desencadeia uma série de preocupações para o Grande ABC, e ainda estamos no meio do furacão dos impactos que essa decisão causou. Foi o primeiro fechamento de uma grande montadora nas últimas décadas”, afirmou ele.

Segundo Conceição, isso pode gerar “efeito dominó”. “E a primeira pedra já caiu. Esse é a primeiro grande desafio do setor automotivo de 2020: concluir a transferência da fábrica da Ford para outra indústria, preferencialmente de veículos. A região, no entanto, tem outras questões a resolver, como investimentos na área de logística, importantes para manter as empresas locais competitivas com obras que permitem a mobilidade de materiais, equipamentos e insumos. Outro ponto decisivo para ampliar a competitividade é aprofundar o adensamento tecnológico com a aproximação entre empresas e universidades”, pontuou.

“O Grande ABC como um todo tem um potencial tão gigantesco que nós não podemos ficar reféns só de uma indústria. É preciso pensar nos próximos 50 anos. A saída da Ford pode ser um marco para que essas reflexões sejam feitas”, opinou o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, ao chamar a atenção para o desenvolvimento de outros setores além do automobilístico, como o aeronáutico.

Para o coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, as empresas devem aumentar a competição entre si, já que a perspectiva é de melhora do mercado. “Dadas as atuais circunstâncias de renda e hábitos da sociedade como um todo, já que os novos consumidores têm uma demanda menor pelo carro, há de se esperar maior competição e briga de preços pelas fabricantes”, disse.

Outro fator importante para elevar competividade das indústrias, defendido pelas próprias montadoras, é a carga tributária da produção. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o peso dos impostos sobre a venda de automóveis no Brasil pode chegar a 54,8% do preço final ao consumidor. O percentual inclui IPI, ICMS e PIS/Cofins, além de outros tributos embutidos indiretamente sobre itens utilizados na produção. Por exemplo, o consumidor que desembolsou R$ 50 mil pagou R$ 27,4 mil em impostos. Portanto, não fossem os encargos, sairia por R$ 22,6 mil.

Outro levantamento da Anfavea aponta que produzir carro no México custa em torno de 18% mais barato do que no Brasil, o que faz com que, adicionando os impostos de cada país, a diferença final do valor de fabricação possa chegar a até 44%, Ou seja, se um automóvel custa R$ 100 mil para ser feito no Brasil, naquele país consome R$ 66 mil.

OTIMISMO

Para Conceição, a previsão é a de que a produção de veículos na região tenha crescimento de 3% a 5% em 2020. “O que não é ruim, porque estamos falando de um PIB que vai crescer entre 1,5% e 2%, somado ao percentual de vendas que estavam retraídas mais algum aquecimento do mercado automotivo”, disse. Em relação ao emprego, ele destacou que o índice deve se manter sem grandes contratações. Outro ponto que também influenciou na queda da produção foi a crise argentina, principal parceira comercial do setor. Mesmo com novo governo, que teve alguns atritos com o presidente Jair Bolsonaro, os quais já começam a ser superados, a situação parece ser mais de longo prazo. “Na prática, para manterem alcance mundial, as empresas têm de ter fábricas para atingir vários mercados. Considerando a América Latina, nós temos experiência de mão de obra e o maior mercado e capacidade de atingir outros países.”




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