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Belas mulheres e cinema: a fábrica de mitos sexuais nunca pára
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
06/08/2006 | 09:12
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O que têm em comum cinema e parede de borracharia? Os dois dão uma bela moldura para corpos femininos esculturais, que uma vez reproduzidos em filmes ou em cartazes, na tela ou sobre a banheira que certifica o pneu furado, fazem os freqüentadores masculinos esquecerem a real natureza de sua visita: assistir a um filme ou consertar o pneu. A sensualidade feminina é tão presente no cinema e em sua formação como arte que uma das mais corriqueiras atividades extra-tela é a eleição anual das mulheres mais bonitas e mais sexies do écran, veiculadas por revistas como People e Esquire e por mídias como o canal de TV E! Entertainment. Uma eleição geralmente divulgada ao fim do ano e que sacia também a divulgação febril de listas, que a internet somente favoreceu.

O cinema nunca frustrou a propagação do mito sexual feminino. Um mito que fez Rita Hayworth submeter-se a eletrólise, para modificar o desenho de seu couro cabeludo, e a outras medidas drásticas para afiliar-se ao ideal de beleza dos anos 40 (uma figura de beleza que seria barbarizada por Orson Welles, então seu marido, para filmar A Dama de Shangai). Um mito que inflacionou o valor da imagem de Marilyn Monroe, que teve fotos suas, clicadas em 1949 por Tom Kelley para a Playboy, estimadas em até US$ 850 mil por ocasião de um leilão. Um mito que arrasta multidões de produtores de testosterona para o cinema pela simples presença de uma musa (não há outro meio que explique a realização de filmes como Mulher-Gato, com Halle Berry, e Electra, com Jennifer Garner). Um mito que expande-se pelo audiovisual, seja seu suporte o cinema ou a televisão – vide a recente cena de nudez completa de Ana Paula Arósio na novela Páginas da Vida, cena que constitui-se em tentativa de desmitificação como parte de uma estratégia de conquistar audiência – Ana Paula nua recicla Ana Paula lolita.

Nesse sentido, a crítica norte-americana Elizabeth Ann Kaplan é bibliografia básica. Em A Mulher e o Cinema – Os Dois Lados da Câmera (editora Rocco), aponta o desejo como um dogma patriarcal que usa a sensualidade como meio para tornar a mulher marginal, alienada. Ou seja, uma visão que exalta o corpo para calar a boca. Para referendar que Hollywood multiplica essa hierarquia da imagem e do desejo, Elizabeth menciona Roland Barthes e sua leitura de que o cinema se dissocia da realidade ao reivindicar que o mito e os signos que cria e veicula (o corpo estetizado, as insinuações sexuais) são substitutos do corpo real, não exatamente representações do mundo real. Parece coisa das antigas esse papo de mito patriarcal e signo que canibaliza o objeto real? Pode até parecer, mas funciona até hoje, e Hollywood e os promotores de eleições das “dez mais” sabem disso.

Para ilustrar o mito sexual no cinema – e, de brinde, embelezar duas páginas da edição – o Diário escolheu aleatoriamente uma das recentes listas de “mais, mais”. Selecionou a da revista eletrônica Movie Review, que pretere algumas obviedades e lista atrizes inesperadas, como Jennifer Garner no primeiro posto. Encante-se!




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