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A dona do pincel

Tarsila do Amaral, cuja obra tem atraído multidões ao Masp, tem história detalhada em biografia

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
19/05/2019 | 07:21
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Romulo Fialdini/Divulgação


Tarsila do Amaral era uma mulher à frente de seu tempo. Dona de uma trajetória libertária, a pintora modernista – que tem atraído multidões para exposição de suas obras em cartaz no Masp até 28 de julho – tem sua história recontada na biografia Tarsila do Amaral, a Modernista (Edições Sesc São Paulo, 241 páginas, R$ 100), que ganhou a quinta edição, revista e ampliada.

De autoria da professora e ensaísta mineira Nádia Battella Gotlib, a obra, lançada inicialmente na década de 1980, resgata a trajetória da artista plástica, com detalhes sobre a sua resistência tanto em prol da diversidade afetiva quanto da sua produtividade artística. “O que mais me chamou atenção não foi só a Tarsila como artista, mas como mulher mesmo. Ela era de uma família tradicional conservadora, endinheirada, mas soube fazer as escolhas dela ainda que contrariasse os Amaral, que não eram mole não. Quando ela se separou do primeiro marido não gostaram. Daí começou a namorar o Oswald (de Andrade) e eles também estranharam. Depois foi à Rússia com um psiquiatra marxista. Quando se relacionou com o escritor Luis Martins, muito mais novo (eram 20 anos de diferença), soube superar e lutar pelo que queria”, enumera a escritora. O seu primeiro marido, o médico André Teixeira Pinto, queria que ela largasse as artes para se dedicar apenas à vida doméstica, o que os levou à separação. 

“Tarsila não é só uma pintora que teve sucesso e lutou para desenvolver seriamente a profissão. Ela teve um trabalho muito regular do ponto de vista profissional, mas também se afirmou enquanto mulher do ponto de vista afetivo sentimental”, acrescenta Nádia.

Dividido em oito partes – Esboço, Primeiros Traços, Circuito Modernista, Pau-Brasil, Antropofagia, O Social, Últimos Traços e Moldura –, o livro traz imagens belíssimas e as informações que vão dos primeiros tempos da pintora às suas viagens e estudos, vida pessoal e, claro, seu papel no cenário das artes plásticas.

Por meio de cartas depoimentos, entrevistas, textos, poemas, memórias e reproduções de pinturas e desenhos é possível observar a influência dela na produção brasileira tanto nas artes visuais como na literatura, assim como seu vanguardismo relativo ao papel da mulher na sociedade. “O livro também traz um lado pouco conhecido dela, o de jornalista. Chegou a escrever mais de 300 matérias publicadas pelos jornais”, diz.

Nádia diz que a pintora teve seu talento reconhecido em vida, mas nem tanto. O fato de Abaporu estar exposto no Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires) ajudou muito a difundir seu nome. “Acho que a divulgação depois da internet tem outra dimensão, a gente não pode comparar. Ela fez várias retrospectivas em vida. Chegou a expor em Paris em 1928. Na década de 1950, por exemplo, participou da bienal de Veneza, mas a repercussão da exposição no Masp é realmente muito grande”, analisa a escritora. Ela conta que chegou a ficar três horas na fila para conseguir entrar no museu de São Paulo que, até o momento, recebeu 116 mil visitantes para a mostra Tarsila Popular, que hoje, por causa da Virada Cultural, tem entrada gratuita.  




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