Setecidades Titulo Segurança
TCE aponta condições precárias de atendimento em delegacias da região

Fiscalização flagra prédios deteriorados, longa espera, agentes desmotivados, viaturas sucateadas e distrito policial 24 horas, no Centro de Mauá, fechado

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
11/05/2019 | 08:15
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Divulgação/Tribunal de Contas do Estado


 Moradores do Grande ABC têm passado por apuros para registrar boletim de ocorrência em delegacias. Isso é o que aponta relatório do TCE (Tribunal de Contas do Estado) feito com base em fiscalização surpresa deflagrada na última semana em nove distritos policiais da região. Todas as unidades, selecionadas aleatoriamente pela Corte, apresentaram condições precárias no atendimento prestado à população.

Segundo apontamentos feitos pelo órgão, os problemas vão desde prédios deteriorados e longo tempo de espera até funcionários desmotivados, viaturas sucateadas e distrito policial fechado durante horário em que deveria atender. A situação foi flagrada no último dia 30 de abril no 1º DP (Centro) de Mauá. Único posto da Polícia Civil da cidade a funcionar 24 horas por dia, o equipamento foi encontrado de portas cerradas, por volta das 7h, por agentes do TCE. Três pessoas aguardavam do lado de fora por atendimento, um deles, inclusive, usava muletas. O fiscal conseguiu verificar que, do lado de dentro, televisão da sala de recepção estava ligada. Funcionários não informaram o motivo para a interrupção do serviço.

Na lista de problemas observados pelo tribunal, foram apontados, ainda, improvisos nas estruturas internas das delegacias. No 3º DP (Taboão) de Diadema, durante a fiscalização, foi observada superlotação na carceragem. Ao todo, 20 presos foram encontrados em sela com capacidade para apenas 16 pessoas.

No geral, as nove delegacias vistoriadas apresentaram prédios com falta de acessibilidade, fiação exposta, infiltrações e situação generalizada de bolores em salas de atendimento. Os problemas foram constatados em distritos policiais de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá.

Não bastassem os problemas enfrentados por moradores, policiais civis também apontaram condições precárias de trabalho nas delegacias devido à ausência de equipamentos e materiais básicos para o serviço. No 1º DP (Centro) de Diadema, das 12 viaturas disponíveis, apenas quatro estão em condições de uso.

O sucateamento da frota de veículos também foi observado nas demais delegacias fiscalizadas, onde foram encontradas viaturas com vidros quebrados, bancos rasgados, além de problemas em sirenes e radiocomunicadores.

A falta de recursos destinados à corporação é tão grave que algumas delegacias têm colocado à disposição dos policiais armas que travam durante o disparo devido à ausência de verba para reparo do armamento. A situação foi observada em Diadema.

Com sobrecarga de trabalho, a Corte constatou ao menos oito funcionários afastados nas delegacias da região. Sem agentes em número suficiente, moradores têm enfrentado, em média, uma hora de espera para atendimento nas unidades.

OUTRO LADO

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, a Polícia Civil recebeu o relatório do TCE no início do mês e avalia, no momento, o conteúdo para eventuais providências. A pasta, no entanto, afirma que iniciou um programa para reformas e modernização das delegacias paulistas. Técnicos da instituição estão atualizando os projetos já existentes e realizando vistorias técnicas nos distritos policiais para apontar as melhorias necessárias, conforme o Estado.

Diário denunciou sucateamento em 2018

Desde o ano passado, o Diário tem denunciado o sucateamento vivido pela Polícia Civil do Grande ABC. Além da falta de profissionais, a corporação tem sido alvo constante de denúncia por moradores da região.

Relatório da Ouvidoria da Polícia de São Paulo, que avalia a conduta das polícias Militar e Civil, mostra que, em 2018, a Polícia Civil recebeu 24 reclamações de má conduta de agentes que atuam em seccionais da região. A demora no atendimento nas delegacias, segundo explica o ouvidor do Estado, Benedito Mariano, é a principal reclamação registrada. “O deficit do efetivo das corporações tem interferência direta nessa questão. Exemplo disso está presente na Polícia Civil, onde existe alto índice de reclamações devido à demora”, relata.

Levantamento divulgado pelo Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), no fim do ano passado, aponta que a corporação tem deficit de 680 funcionários, ou seja, atua com efetivo 30% menor entre as sete cidades. A situação mais complicada é observada na seccional de Santo André – que contempla também as cidades de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, onde há deficit de 288 agentes.

A defasagem no quadro de funcionários da Polícia Civil tem feito com que a corporação priorize os casos graves para a investigação e, com isso, ocorrências menos importantes acabam ou ficando sem esclarecimento, ou demorando mais para terem resposta.




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