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Defesa Civil interdita 24 casas depois de acontecimento de sábado

Pelo menos 20 pessoas foram removidas a ginásio na Vila Assis, em Mauá; demais famílias optaram ficar com parentes ou amigos

Por Dérek Bittencourt
Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
18/02/2019 | 07:00
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Nario Barbosa


 Os riscos de novos deslizamentos de terra e desabamentos em Mauá levaram a Defesa Civil a interditar 24 imóveis na cidade ontem, sendo quatro de forma parcial e 20 totalmente. Dez residências ficam no Jardim Zaíra – palco dos acidentes que vitimaram fatalmente quatro crianças no sábado –, duas no Jardim Miranda D’Aviz, seis na Chácara Maria Aparecida e quatro na Vila Nova Mauá e outras duas nas proximidades. De acordo com o órgão, as vistorias seguirão durante a semana para avaliar a necessidade de novas remoções nas áreas vulneráveis.

Durante as avaliações de ontem, a representante da Defesa Civil do Estado, Aline Betânia Signorelli, relatou que o grande volume de água que caiu sobre a cidade nos últimos três dias (140 milímetros) foi determinante para as tragédias, uma vez que os deslizamentos começam a ocorrer a partir de 80 milímetros de chuva acumulados.

Segundo Aline, desde 1º de dezembro está em vigor a Operação Chuvas de Verão, na qual a Defesa Civil traça planos para atuar em áreas de risco com o objetivo de realizar trabalho de prevenção. “Quando chove muito, colocamos os planos preventivos em ação. São atuações para evitar este tipo de tragédia. Emitimos aviso de risco meteorológico a fim de informar os perigos (aos moradores das áreas vulneráveis para deslizamentos)”, afirmou. 

A Secretaria de Promoção Social destacou equipe para cuidar e orientar as pessoas que ficaram desabrigadas por conta das interdições ou dos desmoronamentos. Segundo a secretária Silvia Regina Grecco, seis famílias (20 pessoas) foram encaminhadas ao Ginásio Poliesportivo Prefeita Berenice Rumiko Endo, na Vila Assis. As demais – o número exato não foi informado –, foram deslocadas para casas de parentes e amigos.

APOIO

Governador do Estado, João Doria (PSDB) usou seu perfil no Twitter para prestar solidariedade às famílias das vítimas de deslizamentos em Mauá. O tucano destacou ainda o trabalho das equipes de Defesa Civil e de técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e do Instituto de Geociência do Estado na ação.

Moradora é resgatada pelos vizinhos após ficar presa na lama

Marilei de Souza, 58 anos, conseguiu salvar, além da própria vida, documentos, uma televisão e um botijão de gás do imóvel onde mora, no Jardim Zaíra 6, vizinho ao ponto de deslizamento que matou casal de irmãos no sábado. Ela chegou a ficar presa em meio à terra que desabou sobre parte de sua casa e foi salva pelos moradores do entorno. “Fiquei presa e só conseguia escutar a Talita (dos Santos Silva, 35, mãe de Maria Heloísa e Miguel) gritar. Não conseguia me mover, até que alguém me ajudou a sair do barro”, relatou.

A moradora da área há três anos teve o lar interditado pela Defesa Civil da cidade, mas se recusa a ir para o abrigo sugerido pela Prefeitura. “Querem que eu vá morar em na garagem de uma mulher que eu não conheço. Não quero. Quero um abrigo digno”, disse a mulher. Ela conta com a ajuda de vizinhos para passar os próximos dias, já que está impedida de voltar para sua residência, na área de risco.

SOLIDARIEDADE

Assim que ouviu forte estrondo, na noite do sábado, o pedreiro Cleber Marinho, 28 anos, não pensou duas vezes para correr em direção à casa vizinha, que estava coberta por terra, para tentar resgatar as vítimas do soterramento. Sem equipamentos, só restou a ele utilizar as mãos para a tarefa. “Não demorou muito para que mais vizinhos chegassem para ajudar a cavar e a procurar Talita e os filhos”, disse o morador do local há nove anos.

Marinho mora em uma pequena casa junto da mulher, Josiene Andrade, 36, e casal de filhos no morro. “Vivo com medo aqui, mas para onde eu vou? Prefiro viver aqui com medo, do que não ter uma casa”, desabafa.

FUGA

O medo motivou a auxiliar de limpeza Raquel Maria, 35, a passar a noite de sábado para domingo fora da casa onde vive com o marido, José Mariano Caetano, 42, a filha Maria Eduarda, 12, o filho Johnatan, 11, que é autista, o filho Eduardo, 15 e a nora, Tais Vitória, 15, grávida de três meses.

“Quem não tem medo morando aqui? Minha casa é logo abaixo da casa de Talita. Fiquei com medo no sábado e acertamos outro lugar para dormir”, disse a auxiliar de limpeza, que mora no local há 12 anos. Ela recebeu ajuda de amigas para passar a noite.


Atila e Alaíde usam episódios trágicos para se atacar sobre responsabilidades

Prefeito afastado e prefeita em exercício de Mauá, Atila Jacomussi (PSB) e Alaíde Damo (MDB), respectivamente, usaram os episódios de deslizamento de terra – que deixaram quatro crianças mortas – deste fim de semana para ampliar o clima de ‘guerra política’ instalado na cidade desde a prisão do socialista.

Por meio de publicação em suas redes sociais, além de culpar as administrações anteriores pelo crescimento desordenado das ocupações irregulares em áreas de risco, Atila acusou o governo Alaíde de “paralisar intervenções em andamento no Zaíra, sem justificativa ao povo”. “Lamento que a ânsia política de desconstruir o que foi feito em nossa gestão prevaleça sobre os interesses de nossa cidade”, atacou. O socialista prometeu decretar estado de atenção e luto na cidade hoje, quando provavelmente reassumirá o Paço.

Em resposta, Alaíde divulgou comunicado em que afirma ter permanecido no governo apenas 47 dias e que substituiu “o que o Tribunal Regional Federal chamou de organização criminosa”. A vice-prefeita ainda lamentou que “o sofrimento das pessoas, causado por esta fatalidade, seja utilizada para politicagem e auto promoção pelo prefeito Atila.”

Alaíde garantiu ainda que não paralisou obras no Jardim Zaíra, conforme apontou o socialista, e que “forneceu todos os meios necessários para ajudar os desabrigados”. “O momento é de arregaçar as mangas e pensar na cidade”, observou, ainda.

Preso pela Operação Trato Feito, da PF (Polícia Federal), no dia 13 de dezembro, o socialista foi solto na sexta-feira por força de liminar expedida, pela segunda vez, pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Além da liberdade, a decisão também garante a Atila o direito de voltar à cadeira para a qual foi eleito no pleito de 2016. A expectativa é a de que isso ocorra hoje.


Prefeituras fazem campanhas de doações

A Secretaria de Promoção Social de Mauá organiza campanha para arrecadar roupas, alimentos, material de higiene pessoal e de limpeza, além de roupa de cama e colchões para as famílias vítimas da chuva dos últimos dias na cidade.

As doações devem ser entregues na Rua Luiz Mariani, 96, Centro de Mauá. Quem está à frente da ação é a secretária de Promoção Social, Silvia Regina Grecco, que solicita a colaboração de quem puder auxiliar neste momento difícil. “O que vier é bem vindo. Até temos bastante alimento, mas arroz a gente tem pouco. Estamos de plantão com a equipe, que vai para os locais verificar a quantidade de famílias”, explicou.

Silvia explicou ainda que muitos vizinhos foram solidários e acolheram as vítimas desabrigadas. “Além da estrutura que estamos dando para ajudar as famílias que estavam em alto risco, também estamos ajudando com cestas básicas, colchões e roupa de cama, aquelas famílias que estão abrigando as vítimas desalojadas. Em alguns dos locais interditados, os moradores não puderam entrar nem para tirar qualquer utensílio por conta do risco iminente.”

AUXÍLIO

Devido à situação considerada crítica vivenciada pela cidade vizinha, o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), anunciou ontem, em seu perfil no Facebook, que o Fundo Social de Solidariedade separou doações de roupas e mantimentos que foram arrecadados nas lojas solidárias para enviar a Mauá.

Conforme o tucano, caminhão sairá com destino ao município vizinho hoje, munido de água, produtos de higiene pessoal e vestuário. “As nossas quatro lojas solidárias, nos shoppings ABC, Atrium, Grand Plaza e Shoppinho, seguem arrecadando doações para ajudar as vítimas. No momento, a cidade precisa de roupas de cama, toalhas de banho, produtos de higiene pessoal e de limpeza, água, colchões, entre outros”, destacou Paulo Serra.




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