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Moradora de Santo André envia carta para artista e ganha jardim

Lindinalva teve sonho realizado por meio de programa do Poupatempo de São Bernardo

Por Daniel Macário
18/11/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Natural de Garanhuns, em Pernambuco, a aposentada Lindinalva Bião da Silva, 69 anos, apresenta com orgulho o jardim exposto logo na entrada da sua casa, na Vila Sacadura Cabral, em Santo André. Com mais de 20 espécies diferentes de plantas, o quintal é considerado por ela seu bem mais valioso. A justificativa para tal sentimento não é por menos. A construção do espaço foi presente dado a ela pela apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo, após a moradora fazer o pedido por meio de uma carta escrita por voluntários do programa Escreve Cartas, no Poupatempo de São Bernardo.

Fã ‘de carteirinha’ da comunicadora, a copeira aposentada conta que desde que se mudou para o Grande ABC, há 29 anos, sonhava em ter um jardim em sua residência. “As plantas me fazem lembrar da minha infância na fazenda onde morava, e também da minha mãe, que amava flores”. recorda-se. Sem condições financeiras para executar a reforma, a dona de casa conta que, durante anos, alimentou o desejo de ter a área verde. Após sugestão dos voluntários do programa do governo estadual, ela criou coragem e fez o pedido à apresentadora. Lindinalva lembra que a carta foi escrita na véspera do Natal de 2017. “Já tinha até perdido a esperança de ela me atender, mas acabei sendo surpreendida em maio, quando a equipe do programa (Mais Você) veio em casa”. A empresa de jardinagem contratada pela equipe global se inspirou na história contada pela moradora em sua carta. “Quando o jardim ficou pronto, passou um filme na minha cabeça sobre a época em que morava em Garanhuns. Nunca vou conseguir retribuir essa ajuda dada pela apresentadora e pelas pessoas que escreveram a carta.”

Inspirado na personagem Dora, interpretada por Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil, o projeto Escreve Cartas, criado em 2001, permite que voluntários auxiliem moradores com dificuldades a enviarem correspondências. A copeira aposentada conta que descobriu o projeto há cerca de dois anos, quando foi buscar documentos no Poupatempo de São Bernardo – a unidade dispõe do serviço desde 2008. “Comecei pedindo para eles escreverem cartas para meus filhos, que moram no Interior de São Paulo. Amei o projeto e, de lá para cá, vou a cada duas semanas escrever para minha família.” Lindinalva interrompeu os estudos ainda jovem, quando cursava a 5ª série do Ensino Fundamental para trabalhar na fazenda. “Tenho dificuldades na escrita, mas nunca deixei de amar as cartas. Elas carregam uma carga enorme de sentimentos, os mais profundos que tenho.”

Projeto contabiliza 28,8 mil textos escritos na unidade são-bernardense
Desde sua implantação, mais de 293,2 mil atendimentos foram realizados por meio do Programa Escreve Cartas, sendo 28,8 mil somente na unidade de São Bernardo. Entre os principais pedidos feitos aos voluntários do projeto estão cartas para familiares e programas de TV, além de textos com reclamações endereçados a empresas. Conforme a administração do Poupatempo, nos últimos meses, no entanto, em virtude da crise econômica do País, a demanda por elaboração de currículo tem crescido nas unidades espalhadas pelo Estado. Em outubro, foram 399 atendimentos para o serviço apenas em São Bernardo.

Atualmente, 43 voluntários se revezam na unidade. “São pessoas que dedicam duas horas por semana ao serviço para ajudar o próximo”, conta Dina Fernandes Chagas, coordenadora do projeto. Integrante da primeira leva de voluntários da região, em 2008, Dina lembra que, muitas vezes, a atividade vai além do apoio da escrita. “Servimos até de ‘psicólogo’. Algumas pessoas só querem ser ouvidas.”

O motorista de aplicativos Daniel Moutinho Sousa, 33 anos, é um dos voluntários do projeto. Formado em Assistência Social, ele conta que vê na atividade uma forma de poder trocar experiências. “Não é apenas um trabalho de escrita, mas sim de poder tornar o dia do próximo melhor.” As cartas são escritas por voluntários gratuitamente e o Poupatempo doa o selo. A postagem é feita pelo próprio cidadão. Para ser voluntário do Escreve Cartas, é necessário, além de boa caligrafia, disposição, paciência, saber guardar sigilo e manter postura neutra durante a redação da carta.




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