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'Doces Bárbaros' ainda fala ao nosso tempo
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
08/10/2004 | 09:48
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Vinte e oito anos depois de seu tumultuado lançamento, o documentário Doces Bárbaros reestréia nesta sexta em São Paulo. Quando saiu pela primeira vez nos cinemas, enfrentou problemas com a censura de um Brasil imerso em desmandos militares, teve cenas podadas da edição final e sofreu outros embargos. Dirigido por Jom Tob Azulay, sai agora na íntegra, sem cortes nem interferências.

O filme é o registro de uma turnê nacional do grupo efêmero que reuniu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia em 1976, para comemorar os dez anos de carreira solo de cada um dos integrantes do quarteto baiano. Os anos eram os 1970 e a Tropicália então era não mais que verbete da história, mas os anseios libertários e experimentais daquela geração continuava, ainda pulsava neles o desejo de levar ao mesmo baile umbanda, rock, samba e cristianismo.

A festa do sincretismo começou no Anhembi, em São Paulo, e depois percorreria demais regiões do país. Os figurinos de roupas colantes e peças rituais chamavam tanto a atenção quanto as músicas desse encontro único - revivido em show dois anos atrás. No palco, contagiam ao interpretar Esotérico, Chuckberry Fields Forever, Fé Cega, Faca Amolada, Um Índio e São João, Xangô Menino.

Mais do que registrar e aplaudir os bárbaros, Azulay decidiu tornar seu filme um espaço de reflexão sobre o privativo e o público. Por exemplo, Gil e um baterista do grupo são presos em Santa Catarina, por porte de maconha. O juiz dita a sentença e, do alto de seu conservadorismo, repreende o cantor com o blablablá de que ele é modelo para a juventude. A persona do huis clos, do espaço privado, está desautorizada a "sair na foto" junto à imagem pública. A imposição dessa distância é reforçada em outra tomada, quando Bethânia, ao conceder uma entrevista no camarim, diz que sua opinião e suas idéias são tão-somente dela e não devem ser entendidas como doutrina. Os Doces Bárbaros, apesar de obra trintona, ainda consegue falar ao nosso tempo.




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