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Oportunidade muda a vida de morador de rua

Andreense comemora emprego e recomeço, longe das ruas, da criminalidade e das drogas

Por Bia Moço
10/09/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Para superar o ciclo formado pela situação de rua, dependência química e criminalidade é preciso, além de esforço pessoal, de oportunidade. Foi somente com essa união de elementos que o andreense Danilo Miranda da Silva, 31 anos, conseguiu recomeçar. Depois de praticamente 12 anos vivendo como sem-teto, hoje ele comemora nova fase da vida. Empregado e em processo de reabilitação contra o vício, o homem já sonha em concluir o Ensino Médio e cursar Medicina.

Silva é um dos casos de sucesso do programa Recomeçar, da Prefeitura de Santo André. Ele conseguiu emprego em empresa de construção civil, onde atua nos ramos de pintura, revestimento e alvenaria – o Diário mantém em sigilo o nome da companhia a pedido do governo. A proposta da ação, iniciada na cidade em março do ano passado, é ofertar atendimento multidisciplinar para pessoas em situação de rua. Além de auxílio psicossocial, os participantes recebem qualificação profissional e participam de ações educativas.

Apesar da dificuldade enfrentada pelos participantes para conseguir emprego, tendo em vista o preconceito enraizado na sociedade, Silva prosperou. “Hoje sou um cidadão. Tenho documentos e dignidade. Vou voltar a estudar. Tenho um sonho: ser médico cardiologista”, revelou.

O depoimento de superação leva em conta o período “difícil” vivido por Silva durante 12 anos. Por desavenças com o padrasto, deixou a casa da mãe, no Jardim Irene, onde morava com os cinco irmãos, aos 18 anos. Conseguiu emprego como pedreiro, na Capital, e alugou imóvel por lá. No entanto, demorou apenas cinco meses para que o pesadelo tivesse início. Após perder o emprego, optou pela rua ao invés de voltar para a casa da família.

“Depois de algum tempo morando na rua, não sei precisar quanto, comecei a usar drogas, a beber e a roubar para sustentar o vício, comer e me manter”, recordou Silva. A rotina durou até 2009, quando ele foi preso após roubar bebida e produtos de higiene em mercado de bairro. “Fiquei preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André e, depois de cinco meses, fui transferido para o presídio de Marabá Paulista (no Interior), onde fiquei até 2014.”
Quando foi solto, ainda cheio de sonhos, Silva pensou em mudar de vida. Conheceu sua companheira, passou a frequentar a igreja, e deu os primeiros passos para tentar recomeço. No entanto, não obteve sucesso ao tentar se livrar do vício em drogas. A mulher, na época namorada, conseguiu vaga em clínica de reabilitação. Nove meses depois, Silva teve alta, mas novamente sucumbiu ao vício e, de novo, foi parar nas ruas.

“Resolvi procurar minha família. Estava cansado daquela vida de rua, sempre imundo, drogado, sem consciência de nada. Fui rejeitado, minha mãe e meus irmãos não quiseram saber de mim. Foi quando descobri a Casa Amarela (albergue para moradores de rua de Santo André), e pedi ajuda.”

Santo André projeta ampliação de programa

Embora no primeiro ano o programa Recomeçar tenha encontrado obstáculos, a promessa do prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), é a de que, até janeiro, 70 ex-moradores de rua em processo de reabilitação estejam empregados.

Em entrevista ao Diário, o chefe do Executivo destacou ter firmado parceria com duas empresas, sendo uma delas o Instituto Guima Conseco, que presta serviço de zeladoria em diversos equipamentos municipais, como escolas e unidades de Saúde. A previsão é a de que, de imediato, sejam disponibilizadas dez vagas. Os novos empregados estão passando por seleção e entrevistas e começam a trabalhar ainda neste mês. “É uma empresa envolvida com a questão de dar oportunidades. O Guima prioriza quadro de funcionários que estiveram em situação vulnerável, morando nas ruas. O intuito é dar upgrade na vida dessas pessoas. Depois, até janeiro, mais 50 ex-moradores de rua, que já estão em acompanhamento, dão início no instituto.”

A outra empresa parceira é a rede de restaurantes Coco Bambu, que está em fase final de obras na Avenida Portugal, no Centro. No estabelecimento serão disponibilizadas dez vagas, assim que a unidade for inaugurada. A previsão é que a casa abra as portas no fim de outubro.

“O programa iniciou com dificuldades, até porque, é pioneiro aqui em Santo André, e na realidade, é uma mudança de conceito. Havia muita limitação, não somente das empresas, mas por parte dessas pessoas também em aceitarem regras, ordens e rotinas. É um trabalho cuidadoso, não podemos ofertar emprego se a pessoa que vivia na rua não estiver preparada para deixar a pseudoliberdade. Tem de ser tudo muito bem feito”, ressaltou Paulo Serra.

O prefeito comemora 70 quadros de emprego no início de 2019. “Empregabilidade no Brasil não está fácil, mas é um programa que dá dignidade e muda a vida de pessoas. Quando notam que superaram as dificuldades, tornam-se exemplos de funcionários fiéis. Queremos crescer cada vez mais esse atendimento.” 




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