Política Titulo
Orestes Quércia: 'Quem vier é truco'
Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
19/03/2006 | 08:49
Compartilhar notícia


Há 16 anos fora do poder, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB) já não esconde mais a intenção de ocupar novamente o Palácio dos Bandeirantes. Um dos motivos para esse entusiasmo é o fato de o peemedebista ter aparecido nas primeiras colocações nas duas pesquisas eleitorais, realizadas pelo Datafolha e Ibope. Apesar de ser comedido na hora de cravar sua candidatura - diz que a possibilidade passa de 90% -, acabou confirmando a intenção no último fim de semana, em Diadema, quando, indagado por um militante se poderia 'trabalhar para pedir votos para ele', respondeu rapidamente: "Pode tabalhar".

Mas o fato é que o tom ponderado não condiz com os seus atos: Quércia tem viajado por todo o Estado, na companhia de lideranças do partido e, além de pedir votos para o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, contra o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho - nas prévias do partido que vai escolher o candidato à presidência da República, marcada para este domingo -, também tem sido pressionado a anunciar logo que enfrentará o desafio de colocar o PMDB novamente à frente do Estado.

Apesar de ter apoiado o presidente Lula nas eleições de 2002, o ex-governador de São Paulo criticou o governo do petista. "Não é conveniente que Lula continue presidente, porque ele vai continuar essa política econômica que paralisou o país. O Brasil precisa crescer."

Quércia reconhece que a manutenção da verticalização poderá prejudicar o PMDB, mas acredita que neste ano o partido terá um grande desempenho no resultado das eleições. "Pelo que eu estou sentindo, nós ganharemos a eleição." Essa confiança foi demonstrada quando perguntado qual seria seu principal adversário na corrida ao governo do Estado: "Quem vier é truco".

DIÁRIO - Qual a importância do Grande ABC no cenário político do Estado?

ORESTES QUÉRCIA - O ABC é fundamental, não só para mim e para o PMDB, mas para o Brasil. É uma pujança, uma coisa que precisa ser bem administrada. As coisas que melhoram o país passam pelo ABC. Nós temos de ter uma ação conjunta do ABC para melhorar a vida, dar melhor Saúde, melhor Educação. No mundo inteiro os grandes centros urbanos, como é o caso do ABC, têm hoje uma situação ótima.

DIÁRIO - Como seria sua relação com os prefeitos da região, onde cinco apóiam o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e dois são petistas?

QUÉRCIA - Boa. Quando fui governador, nunca discriminei ninguém de outro partido. O governador não pode discriminar. Tem que atender o representante do povo de cada cidade como se fosse do partido dele, que é o que eu vou fazer ser for governador.

DIÁRIO - Que importância o sr. vê no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC?

QUÉRCIA - Eu acho que é fundamental para equacionar os problemas da 'grande cidade', que é o ABC. O governo tem que prestigiar isso e ajudar.

DIÁRIO - Como o sr. vê o imbróglio jurídico que envolve a construção do trecho Sul do Rodoanel?

QUÉRCIA - O Rodoanel começou no meu governo. Eu comecei os primeiros estudos. Acho que é muito séria essa questão e tem que apressar. Sei que existe problema de Meio Ambiente, mas tem que resolver isso e fazer o Rodoanel, que é fundamental. Tenho visto que há uma divergência entre governo do Estado e União. Isso é que não pode acontecer. O que importa é o interesse público.

DIÁRIO - E o problema da Febem, o sr. teria solução?

QUÉRCIA - Eu já mostrei saída quando fui governador. Criei a secretaria do Menor, tiramos crianças das ruas. Mais de 200 mil crianças foram encaminhadas para emprego, com destino melhor, circos-escola. Durante meu governo, não houve rebelião. Porque você cuida de ser humano com jeito e não na 'paulada'. Eu cuidei com jeito, resolvemos muitos problemas, tiramos crianças das ruas. No meu governo foi a época de menor violência em São Paulo. E tirando as crianças das ruas é que ajuda a acabar com a violência.

DIÁRIO - O sr. ainda está zangado com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que tem usado seu nome para pedir votos no interior do Estado?

QUÉRCIA - Não, já acalmei (risos). Na verdade hoje a situação mudou em São Paulo. Ele estava sozinho fazendo campanha e hoje acredito que o Rigotto (governador licenciado do Rio Grande do Sul) tem 70%, 80% dos votos do Estado, incluindo o Grande ABC.

DIÁRIO - E o sr. acha que a verticalização cai?

QUÉRCIA - A informação que a gente tem é que não cai, mas tomara que caia. O STF (Supremo Tribunal Federal) não vai aceitar isso. Para essa eleição vai ter verticalização, para as outras não.

DIÁRIO - Como o sr. viu a última pesquisa Ibope, que colocou a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy na sua frente?

QUÉRCIA - Tudo bem. Mas se tivesse na pesquisa o segundo turno, eu teria ganho. De qualquer forma, o resultado de pesquisa é o momento. Eu ainda não anunciei que sou candidato, mas também não anunciei que não sou. Depois das prévias, nós vamos definir. Eleição é sempre junto, mas estou propenso a ser candidato. Na eleição de senador (em 2002, quando ficou em terceiro lugar e não foi eleito) não tinha candidato nem a governador nem a presidente. Ganhei pesquisa até uma semana antes e perdi a eleição. Fiquei sozinho, de um lado o PSDB e de outro o PT. Naquela campanha, achei que o PT fosse me ajudar um pouquinho porque apoiei o Lula, mas isso acabou não acontecendo. Mas pelo que eu estou sentindo, nós ganhamos a eleição, do PT, do PSDB, não tem conversa. O quadro é muito bom.

DIÁRIO - A que o sr. atribui essa confiança?

QUÉRCIA - Faz 12 anos que o Brasil está com a política econômica do PSDB e do PT. É uma política que segura a contabilidade do País, o equílibrio da balança externa, mas não faz o país crescer. Qualquer analista dizia, há alguns anos, que os países do futuro eram China, Índia e Brasil. China e Índia vão indo bem e o Brasil vai indo mal. Então o Brasil precisa crescer. Eu tenho impressão que a recordação do meu governo em São Paulo, que fez o Estado ajudar o Brasil a crescer e o meu discurso de crítica à política econômica ajuda muito a minha posição hoje nas pesquisas.

DIÁRIO - Como o PMDB vai se posicionar na campanha, que certamente será marcada pela troca de acusações entre PT e PSDB?

QUÉRCIA - É uma verdade que o PT vai acusar o PSDB de incompetente, que paralisou o País e o PSDB vai acusar o PT de corrupção. E o PMDB vai dizer que os dois têm razão.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;