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Real completa 17 anos contra a inflação
Leone Farias
do Diário do Grande ABC
17/07/2011 | 07:00
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Há 17 anos o governo do ex-presidente Itamar Franco colocou em circulação o real. E de lá para cá, a moeda já desvalorizou 287%. Portanto, R$ 1 da época equivale a R$ 3,87 hoje.

Apesar do percentual estar nos três dígitos, o Plano Real proporcionou ao País bons resultados econômicos. Entre eles o crescimento da massa salarial sobre a inflação, que por sua vez teve a aceleração controlada pelo governo sem agressões ao bolso do consumidor, como ocorrido em planos econômicos anteriores.

Quem viveu nos anos que antecederam o real enfrentou uma fera que devorava o dinheiro. O personagem da época era o dragão da inflação, que baforava labaredas de até 1.000% ao ano e corroía o poder de compra das famílias. Na ponta do lápis, um produto que custava R$ 1 em janeiro atingia o preço de R$ 11 no mesmo mês do ano seguinte.

É comum que toda economia cresça com alguma faísca de inflação. A engrenagem econômica bem lubrificada estimula a engorda da renda da população, que por sua vez resulta em acréscimo no consumo.

Com maior demanda, o produtor tem que investir mais para elevar a produção e equilibrar a balança com sua oferta. Para não ter prejuízo, repassa o encarecimento para a cadeia, gerando inflação até chegar ao consumidor.

 DESVALORIZAÇÃO - Mesmo com inflação controlada nos 17 anos, a diferença dos preços entre 1994 e hoje é grande. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo) acumulou 287% nesse período. Este é o indicador oficial de inflação. E mostra o comportamento dos preços para as famílias brasileiras com renda entre um e 40 salários-mínimos.

O frango, símbolo do Plano Real, custou R$ 1 por quilo e foi muito demandado pelas famílias em 1994. Hoje é encontrado por cerca de R$ 3,65. O quilo do contra-filé, em média, pulou de R$ 3 para R$ 16 na região, variação de 433%. É possível comprar apenas 180 gramas da carne, hoje, com R$ 3.

Outro exemplo é a garrafa de refrigerante de marca famosa. Com apenas duas moedas, uma de R$ 1 e outra de R$ 0,10, o consumidor garantia a bebida do almoço de domingo. Hoje, dificilmente ele paga menos de R$ 3 pelo mesmo produto.

Nem tudo acompanhou a desvalorização da moeda. Quem comprou um veículo Gol, com um ano de uso, pagou 175% a mais em junho do que pagaria em julho de 1994. A diferença é grande, de R$ 11 mil para R$ 28 mil.

CINEMA - Em julho de 1994, os pais se sentiram confortáveis para levar os filhos no cinema com o dinheiro novo. Pagavam os ingressos dos lançamentos da época, como o clássico da Disney Rei Leão, com algumas moedas.

Hoje, quem vai ao cinema gasta, em média, R$ 16 por uma entrada. Porém as chances das famílias de baixa renda desfrutarem da 7ª arte aumentaram. Três ingressos hoje representam cerca de 8% do salário-mínimo, que é de R$ 545. Quando o real entrou em circulação, os R$ 10 para esses tickets levavam 15% do salário-mínimo, que estava em R$ 64,79.

E a comemoração do tetracampeonato da Seleção, em 1994, foi bem mais barato. A lata de cerveja dificilmente ultrapassava R$ 0,50 no mercado.

 

Economistas avaliam que Plano foi o melhor da história nacional

O IPCA subiu 287,2% entre julho de 1994 e junho deste ano (última publicação do indicador oficial). A economia também cresceu, mesmo que em ritmo menor do que a inflação, e resultou em ampliação do emprego e no aumento da renda do trabalhador.

O salário médio de uma empregada doméstica, há 17 anos, girava em torno de R$ 190. Hoje, no Grande ABC, chega até a R$ 1.500, cerca de 680% maior. "O real foi o melhor plano econômico colocado em prática na história do Brasil", opina o Presidente da Ordem dos Economistas do Brasil e professor da Universidade de São Paulo, Manuel Enriquez Garcia. "De lá para cá, os reajustes salariais das classes de trabalhadores foram, em maioria, superiores à inflação."

Ele afirma que nenhuma economia caminha sem alguma inflação. E que a situação é bem melhor hoje do que no lançamento da moeda, o que prova o resultado positivo do Plano Real. A equipe do Diário apurou, em 21 de julho de 1994, que o primeiro registro de inflação com o real foi de 5,03% no mês, motivo para comemoração na época.

 IMPACTO - "O problema é que ela atinge, principalmente, as famílias com menor renda", destaca Garcia sobre a inflação. Se uma família tem faturamento de R$ 600, por exemplo, e gasta R$ 300 com alimentação, sobra apenas metade da renda para os demais gastos básicos. E pequenas altas são prejudiciais.

A mesma hipótese para um domicílio com receita de R$ 3.000 é bem menos dolorida, tendo em vista que o gasto de R$ 300 com comida leva apenas 10% da renda.




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