Setecidades Titulo Reflexo da crise
Camelôs voltam às ruas da região

Com fiscalização falha, ambulantes irregulares retomam as atividades nas calçadas de áreas centrais

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
11/12/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A menos de duas semanas para o Natal, camelôs voltaram a atuar livremente nas regiões centrais de municípios do Grande ABC. Seja com discrição ou de forma escancarada, os ambulantes irregulares sequer mostram preocupação com a intensificação de ações realizadas por agentes da PM (Polícia Militar) às vésperas das festas do fim do ano.

Chinelos por R$ 10, meias, brinquedos, capas para celular e artigos importados de procedência duvidosa. Esses foram apenas alguns dos itens encontrados pela equipe do Diário ao longo da semana passada, durante visita a regiões comerciais de três municípios do Grande ABC (Santo André, Diadema e Mauá), onde ambulantes irregulares atuam livremente. Em São Bernardo e São Caetano não foram constatadas atuações de camelôs.

Em locais como o cruzamento das ruas Bernadino de Campos e General Glicério, em Santo André, pedestres praticamente são obrigados a desviar de barracas instaladas irregularmente nas calçadas das vias.

“Fazia muito tempo que não via tantos ambulantes na rua. Todo Natal já era ruim de andar pelo Centro, mas agora a situação piorou”, desabafa a copeira Cristiane Gomes da Silva, 35 anos.

Para driblar a fiscalização, a maioria dos ambulantes adotou como tática apresentar os produtos em lonas no chão, o que facilita a fuga quando os fiscais das Prefeitura se aproximam.

“O pior de tudo é que a Polícia Militar e a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) têm sido inexistentes. Eles passam e não fazem nada”, diz um comerciante, que preferiu não se identificar.

Em Mauá, a Praça 22 de Novembro, no Centro, continua sendo dominada pelo mercado ilegal, conforme noticiado no ano passado pelo Diário.

A abordagem aos possíveis clientes acontece durante todo o dia. “Prata (corrente) é R$ 20 na minha mão”, anuncia um dos ambulantes irregulares logo na saída da estação de trem.

O discurso dos camelôs não mudou. Eles defendem a atividade citando o desemprego e dizem querer organizar-se como comércio formal. “Infelizmente, a crise pegou todo mundo de jeito. Sei que deveríamos pagar impostos como todos, mas nas condições atuais o jeito foi improvisar minha tenda na rua mesmo”, desabafa a ambulante Zenaíde Martins, 56 anos, que na Praça 22 de Novembro vende pares de meias comprados no Centro de São Paulo.

Para comerciantes, no entanto, a atuação de camelôs tem que ser alvo de fiscalizações mais intensas. “Entendo que todo mundo precisa ganhar seu dinheiro, mas chegou a um ponto que não dá mais. Em dias de chuva, eles obstruem os espaços da loja e o cliente nem consegue entrar. A fiscalização precisa atuar”, relata Beatriz Ferreira Souza, 38, gerente de um dos comércios da região.

Segundo lojistas, está marcada para hoje reunião com representantes da administração de Mauá para tratar do assunto.

Embora em menor número, no Centro de Diadema a situação se repete. No cruzamento da Avenida Alda com a Rua Graciosa, camelôs não mostram receio algum de atuar próximo a agentes da Polícia Militar.

“Não vou ser hipócrita, até eu compro de ambulante. Sei que é ruim para o lojista, mas temos que ver o preço”, afirma a auxiliar administrativa Natália Barboza, 23.

Criação dialogada de galerias comerciais seria uma solução para problema

Ambulantes irregulares e comerciantes são enfáticos ao sugerir a criação de galerias comerciais para coibir a atuação de camelôs em ruas da região.

“A gente sugeriu aqui em Mauá que eles fossem para uma galeria, mas eles não quiseram na época. A meu ver é a melhor saída para todos, mas para isso ocorrer precisa ser discutido. Óbvio que para eles (camelôs) é cômodo ficar no melhor lugar sem pagar nada”, relata Antônio Carlos Lopes, 51 anos.

Em Santo André, a inauguração do Boulevard Itambé, no Centro da cidade, durante um período coibiu a atuação de ambulantes. Porém, hoje não tem se mostrado mais suficiente para reverter este cenário. “Tiraram a gente da rua e, no fim, outros surgiram”, destaca um comerciante que não quis se identificar.

Para ambulantes, a medida até seria uma alternativa viável em momento de crise, porém precisaria ser discutida de maneira clara, sem que a proposta sofra alterações com o avanço do projeto. “Não adianta eles oferecerem um lugar bom e depois mudarem para longe do Centro. Aí ninguém vai topar”, avisa o camelô Diogo Miranda, 31.

Prefeituras garantem fiscalização

Embora ambulantes irregulares tenham tomado conta de áreas centrais na região, prefeituras destacam realizar rotineiramente fiscalização para combater a atuação de camelôs.

Em Santo André, o Paço reconhece que, com o aumento no fluxo de consumidores no fim do ano, muitos ambulantes ilegais se arriscam na comercialização irregular de mercadorias. “Sabendo disso, a Prefeitura intensificou a ação dos GCMs (guardas-civis municipais) na Rua Coronel Oliveira Lima e outras vias da região central da cidade que já recebem ações de fiscalização de ambulantes durante todo o ano”, destaca, em nota, a administração municipal.

Segundo a Prefeitura, a Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) já realiza o mapeamento dos pontos apresentados pelo Diário e prepara ação específica nesta região, em parceria com a GCM e demais departamentos do Executivo. “Daqui para frente (a gestão) vai intensificar ainda mais as operações.”

Em Mauá, a Prefeitura informa ter publicado, em outubro, o decreto 8.347/2017, que regulamenta a lei 5.227/2017, que dispõe sobre as atividades de comércio e prestação de serviços ambulantes na cidade. O texto determina série de normas a serem seguidas pelos vendedores ambulantes.

De acordo com o Paço, no momento, “está sendo feito um trabalho de cadastramento dos vendedores ambulantes na cidade, o que facilitará a fiscalização por parte das autoridades municipais”. Porém, a GCM tem executado rondas diárias pela região central com o objetivo de garantir o cumprimento da lei.

Diadema não retornou aos contatos da equipe de reportagem até o fechamento desta edição. A Polícia Militar também não se manifestou. 




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