Setecidades Titulo
Compulsão por jogos atinge mais mulheres
Aline Mazzo
Do Diário do Grande ABC
02/12/2006 | 17:02
Compartilhar notícia


O ato de uma simples aposta, seja em bingos, jogos de cartas ou máquinas caça-níqueis, pode transformar-se em um tormento familiar. A compulsão pelos jogos de azar é uma doença que cresce de forma silenciosa e só é percebida quando já destruiu financeiramente suas vítimas. Uma pesquisa realizada pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro descobriu que existe uma parcela da população bastante suscetível a desenvolver a doença: mulheres com idade entre 40 e 60 anos.

O estudo foi realizado com base nos atendimentos feitos pelo Serviço de Psiquiatria do Jogo Patológio, Álcool e Drogas da Santa Casa. Foram analisados 120 casos de janeiro a outubro desse ano. “A maioria chega aqui arrasada; com dívidas impagáveis, sem perspectiva e sem vínculos familiares”, explica a psicóloga da Santa Casa, Ângela Duque.

O vício com o jogo pode começar após uma separação, a perda de alguém ou até como distração. “Ele sempre serve como fuga e é isso que faz com que se torne um vício, que pode ser potencializado quando a pessoa tem dinheiro para jogar”, argumenta a psicóloga e coordenadora do Proard (Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente) da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), Juliana Bizeto.

A compulsão em jogar é uma doença biopsicossocial, ou seja, depende de uma vulnerabilidade genética, uma condição psicológica favorável a isso e uma vida social que envolva o jogo.

Como a doença não tem sintomas físicos, como o alcoolismo, fazer o diagnóstico e convencer o jogador não é fácil e costuma demorar. “Eles só procuram ajuda quando a vida está destruída. Isso acontece depois de cinco, 10 anos jogando.”

Boa parte dos jogadores são depressivos, mas ainda não se sabe se é a depressão que causa a dependência ou vice-versa. “Entre as pessoas que atendemos, o índice de quem pensa e tenta suicídio é muito alto, tamanho o grau de desespero”, fala Juliana.

O crescimento do número de mulheres dependentes é atribuído ao advento dos bingos. “Antes não existiam lugares onde as mulheres podiam jogar. Agora, elas encontram as amigas e sua carência é preenchida pelo carinho das atendentes do bingo e da forte emoção que o jogo provoca”, analisa Ângela, que atende pacientes que já chegaram a jogar três dias ininterruptos.

O tratamento é feito de forma individual, pois é necessário saber o que o jogo representa na vida de cada pessoa. Dessa forma, são administradas medicação e terapia combinadas, para tentar resgatar a auto-estima e a vida do paciente e tentar diminuir a depressão, como observa Ângela. “O objetivo é sempre que se pare de jogar. Para isso, é preciso muita força de vontade. Caso ele volte a jogar apenas uma vez, o padrão de dependência volta e o vício está instalado novamente.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;