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Lula, caixeiro-viajante de combustíveis e aviões
Por Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
21/08/2007 | 07:10
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Com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Grupo Bertin inaugura hoje a usina de biodiesel que implantou em Lins, no Interior do Estado. A unidade produz o novo combustível a partir de sebo de boi fornecido pelos frigoríficos da empresa, a maior exportadora de carnes do País.

Esse é mais um passo do presidente na busca da consolidação do Brasil como potência energética, por isso ele faz questão de comparecer ao evento.

Ontem, Lula conversou com a Associação Paulista de Jornais. Falou de fontes de energia e de aviões produzidos pela Embraer. Veja abaixo as questões mais interessantes.

A redução das barreiras internacionais impostas ao álcool é considerada vital para o êxito da política brasileira no setor. Quais os próximos passos diplomáticos e comerciais do governo neste segmento?

LULA – O êxito da política de biocombustíveis depende fundamentalmente de transformarmos o etanol – e, numa segunda etapa, o biodiesel – em commodities internacionais. Isto é, criar um mercado para esses produtos no mundo. Isto requer, em primeiro lugar, um aumento na produção, e é por isso que o Brasil está engajado em transferir tecnologia e capacitação técnica a países interessados. O exemplo mais recente da nossa ação nesse sentido foi a inauguração da usina de etanol na Jamaica, da qual participei este mês. Em segundo lugar, precisamos assegurar um mercado consumidor para o etanol e, portanto, eliminar as barreiras protecionistas em outros países. Nesse sentido, o governo brasileiro está empenhado em divulgar junto à comunidade internacional os méritos dos biocombustíveis e apresentar nossos argumentos aos que criticam erradamente, pelo viés ambientalista ou do trabalho, o programa. É o que venho fazendo em minhas viagens internacionais, inclusive durante o seminário promovido em julho último pela União Européia sobre os biocombustíveis, na Bélgica. Com esse mesmo objetivo, o Brasil vai organizar uma conferência internacional para discutir o futuro da energia a partir das biomassas. No campo comercial, estamos lutando pela conclusão de um acordo ambicioso na Rodada de Doha, que inclua o compromisso de desonerar produtos agrícolas com potencial para produção de biocombustível. A idéia é dar a eles o mesmo tratamento aplicado a outras fontes de energia – caso do petróleo e do gás –, que não estão sujeitas a políticas protecionistas.

Que tipo de agências poderiam atuar na conexão das políticas públicas de apoio aos biocombustíveis e qual a dimensão da interferência da Petrobras, que desenvolve o HBio, neste processo?

LULA – Os órgãos do governo têm trabalhado de maneira concatenada, sob a coordenação da Casa Civil da Presidência da República. Nessa atuação conjunta trabalham os ministérios das Minas e Energia, da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, da Ciência e Tecnologia, além da ANP (Agência Nacional de Petróleo), o Imetro etc. A posição da Petrobras tem sido desde o início a de uma empresa com uma função importantíssima nesse mercado, a produção de petróleo e do Hbio, um diesel produzido em refinaria a partir do uso de óleo vegetal. Então, o Brasil tem, neste momento, o privilégio de contar com o etanol, o biodiesel e o HBio inseridos em uma estratégia de complementaridade. Todos cumprindo um papel fundamental na consolidação dos biocombustíveis como matriz energética brasileira. Todas as condições estão dadas. Estamos às portas de um salto de qualidade histórico para o desenvolvimento nacional.

O BNDES tem sido parceiro da indústria aeronáutica na concessão de linhas de crédito. Há margem para ampliar este volume de recursos disponíveis para financiar a atividade de empresas exportadoras, como a Embraer?

LULA – O financiamento à exportação tem sido e continuará sendo uma das prioridades do meu governo, que tem no BNDES um agente fundamental. A atuação do banco já se revelou um sucesso e tem sido especialmente importante nas exportações de maior valor agregado. O desafio, agora, é ajudar outros exportadores brasileiros a repetirem a história de sucesso da Embraer, e eu tenho certeza de que não faltarão recursos para isso.

Hoje a Embraer firma um acordo pioneiro com a BRA que o senhor prestigia in loco. Como o governo analisa a relevância da participação da fabricante de aeronaves na expansão da aviação regional e na renovação da frota das companhias aéreas do País?

LULA – Esse acordo é muito importante porque, mesmo com o sucesso comercial no mundo inteiro e a grande qualidade dos aviões produzidos pela Embraer, fazia tempo que nenhuma companhia aérea brasileira adquiria jatos feitos no Brasil. Esta é a prova de que a situação começa a mudar, e acredito que a Embraer terá um peso cada vez maior na aviação comercial brasileira daqui para a frente – principalmente com o aumento dos vôos regionais, para que o tráfego aéreo não fique concentrado apenas nos grandes centros urbanos.

Quando eleito, o senhor prometeu ser um 'caixeiro-viajante pelo mundo' dos aviões produzidos pela Embraer, levando aos quatro cantos do planeta as virtudes e os diferenciais das aeronaves brasileiras e auxiliando a conquista de novos mercados para a companhia nacional. Passados 5 anos de mandato, em qual extensão o senhor acredita que já cumpriu esta promessa?

LULA – Assim como as exportações brasileiras no geral, as vendas da Embraer têm crescido muito em mercados não-tradicionais. Atualmente, a empresa fechou contratos importantes de fornecimento para países da Oceania, do Oriente Médio e da África. Todos sabem quantas viagens fiz e o quanto a nossa política externa investiu nesses mercados nos últimos anos. A Embraer já é uma empresa competitiva e que tem seu lugar assegurado no mercado mundial. Agora, precisamos manter o ritmo de crescimento e a qualidade dos nossos produtos. O desafio para o Brasil é a entrada nos segmentos de aviação executiva e de defesa. A Embraer seguramente vai repetir, na aviação executiva, o sucesso alcançado no segmento de aviação comercial. Dado que alguns dos modelos executivos são variantes dos modelos comerciais, o desempenho obtido pela empresa é uma comprovação da grande aceitação do produto nacional em diversos mercados mundiais. No que tange ao segmento de defesa, sabemos que a Embraer já possuiu um novo projeto de aeronave: o Embraer C-390, uma aeronave de transporte militar e apoio logístico que se somará aos demais modelos que o Brasil já produz: o Super Tucano e o EMB 145. O sucesso da aviação brasileira é a prova de que o País que estamos construindo não se restringe ao papel de exportador de commodities: nossos produtos podem e devem ter tecnologia e valor agregado. Isso vale especialmente para os biocombustíveis. O Brasil tem terra, sol e gente para produzi-los, mas também know-how e tecnologia para ensinar ao mundo.



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