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Presidente corintiano vê saídas inevitáveis: 'Só vende quem tem jogador de ponta'
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18/09/2016 | 07:00
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O presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, recebeu a reportagem do Estadão.com na tarde da última quinta-feira no Parque São Jorge para uma entrevista exclusiva. No mês de aniversário do clube, o dirigente detalhou as ações para controlar as finanças e analisou acontecimentos marcantes no departamento de futebol, como a saída de Alexandre Pato, que nesta semana se destacou pelo Villarreal, da Espanha, em jogo da Liga Europa.

Na conversa com a reportagem, o dirigente admitiu não ser possível segurar atleta no clube quando o mesmo tem o interesse em sair e garantiu que só contrata jogador se puder pagar. E isso em uma reta final de uma temporada na qual o Corinthians sofreu um grande desmanche e viu sobrar no seu elenco apenas Cássio, Fagner e Uendel do time titular que se sagrou hexacampeão brasileiro em 2015. Confira a entrevista com o dirigente.

Quanto o clube tem de déficit?

Fechamos o balanço de 2015 com um passivo total de R$ 490 milhões. Agora no mês de junho, o déficit é de R$ 350 milhões. Então, tivemos uma redução em torno de R$ 140 milhões. Diminuímos a despesa, assim como aumentamos a receita. Esses resultados não são aparentes nos meses seguintes, mas sim ao longo do tempo. Até pelo contrário, nos primeiros meses você tem um aumento de despesa para desligar funcionário.

A saída do Pato ajudou nas finanças?

O erro do Pato não foi a saída, foi a chegada. Se tivesse bola de cristal, não teria trazido. Todo mundo fala do Pato, que pagamos 15 milhões de euros e vendemos por 3 milhões de euros, mas e os jogadores que trouxemos na nossa gestão por um valor baixo e negociamos bem? Isso ninguém coloca na conta. Alguém conhecia o Ralf? E o Paulinho? O Gil estava na França e ninguém lembrava dele. O Felipe saiu do Bragantino e agora está no Porto. O Renato Augusto não era ?bichado?? Vamos pegar os jornais antigos para lembrar. Desculpa, nós temos muito mais méritos do que deméritos. Só não vê quem não quer.

O que fez o Pato dar errado?

Não sei. Teve falta de paciência dos treinadores. Eu não teria emprestado o Pato para o São Paulo, nem para ninguém. Teria negociado em definitivo. Porque nós sabemos que depois de dois anos de empréstimo, ele volta, o ranço continua e o contrato está acabando. O Tite e o Mano tiveram pouca paciência com ele. O caso do Pato ficou um problema se arrastando. Aí empresta, ele volta e cria toda aquela polêmica um desgaste desnecessário.

Mas o senhor não participou da contratação dele como diretor de futebol na época?

Sim. Foi unânime a contratação dele na ocasião. O momento era outro, tanto que pagamos à vista. Não considero que foi loucura. Ele tinha 23 anos, é um grande jogador tecnicamente. Você podia usá-lo por quatro anos e revender. A única preocupação era com o físico. Foi mais um que a gente recuperou. Só que nesse caso, recuperamos para os outros.

Tem como evitar mais saídas em massa no elenco?

Não tem como. Se você tem o jogador que outro time quer e pagam aquilo que você quer, como vai evitar? Quem fala diferente disso é demagogo. Outros dirigentes falam isso porque ninguém procura jogador do time deles. Fora dos microfones todos falam para mim que queriam estar no meu lugar. Quem vem comprar, quem tem dinheiro, não vem atrás de jogador mediano, querem de ponta. Por isso que perdemos tantos. Quando o Corinthians em algum momento não tinha recurso para trazer jogador, tivemos de fazer parcerias, alguém me ajudou. Mesmo que tenha tido o lucro dele, faz parte do negócio. Na hora em que vier uma oferta é preciso entender que, quando precisei, ele me ajudou.

Mas essas parcerias com empresários não prejudicam?

Hoje não tem mais isso. Na minha gestão, além de não poder mais fatiar direitos econômicos, todos os atletas de todos os contratos que renovamos no Corinthians temos 80% do jogador. Se alguém faz questão de ter 50%, abro mão do atleta. Pode levar. Teve dois casos que não quiseram fazer a renovação. O Corinthians existe há 106 anos. Não é um moleque de 15 ou 16 anos que vai querer fazer história dessa forma.

O clube vai conseguir trazer mais jogadores de renome?

Desde que possa pagar. Apesar de acharem que vendemos um monte de jogador porque não queremos ter um time bom. Isso não é verdade. O atleta sai porque é uma conveniência pessoal. Não é o clube que segura. Não quero trabalhar gente insatisfeita.

Falta dar mais espaço para jogadores da base? O Corinthians é muito forte na Copinha.

Mas quantos da Copinha a gente nem sabe mais onde está? A maioria. O funil é estreito. Nem todo mundo que está com 20 anos de idade tem obrigação de estar no profissional. Hoje nós temos dez garotos treinando no profissional. O Corinthians, por ser um time muito grande, de camisa pesada, a exigência é enorme.

Como está a venda dos naming rights do estádio?

Não sei. Não ponho mais prazo porque já vi o negócio quase pronto e não se concretizou. O negócio está caminhando, só não sei te colocar uma data definitiva.

O quanto essa indefinição atrapalha as finanças?

Isso não tem ingerência no meu dia a dia. O valor está traçado, uns 100 milhões de dólares (cerca de R$ 330 milhões). A despesa operacional do estádio gira em torno de R$ 2 milhões por mês. Em outubro teremos resposta da Caixa se dá para aumentar o prazo de carência do empréstimo. Estamos pagando o estádio. Os juros são 90% da prestação. Dá uns R$ 4,3 milhões por mês.




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