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Kung fu 'família' brilha internacionalmente
Por Fernando Cappelli
Do Diário do Grande ABC
14/12/2009 | 07:00
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Saltos acrobáticos, indumentárias típicas e toda plasticidade dos movimentos letais da milenar arte marcial chinesa temperados com um clima familiar inerente, transformam cada vez mais esforço em medalhas para a equipe de kung fu wushu do Clube Atlético Aramaçan, em Santo André.

Sob a batuta do professor Alexandre Bento - há mais de dez anos no comando do projeto -, o time local faturou recentemente dez medalhas (sete de ouro e três de prata) na sétima edição da International Cup Brazil of Kung Fu, realizada mês passado em São Paulo e que contou com a participação de mais de 500 atletas do mundo todo. Os atletas competiram nas formas, que são movimentos que transmitem a essência tradicional da arte marcial.

"Cada detalhe mínimo de execução sempre é visto com muito critério. Ainda mais em torneios internacionais, onde geralmente há mestres chineses presentes. Eles são muito severos na análise de todos os quesitos", afirmou o professor. "Os alunos do Aramaçan que participaram ainda não têm muito tempo de prática. Mas descontam qualquer suposta falta de experiência na dedicação", completou.

Entre os participantes do projeto, o detalhe peculiar está justamente no parentesco que une gerações em treinos e competições.

O trio formado por Cristina Beraldo Poianas (faturou duas medalhas de ouro na competição) e as filhas adolescentes Lisandra (ouro) e Isabela (prata) está há mais de dois anos no esporte. "Nosso esforço em conjunto sempre tem âmbito diferenciado. A cumplicidade se reforça cada vez que é colocada à prova nos torneios. O apoio é constante e mais intenso, mas a cobrança quando algo dá errado também", brinca Cristina.

O mesmo sentimento é dividido por Valdinei Oliveira (ouro) e o filho César (duas de ouro), de apenas oito anos. "O mais interessante é que isso multiplica de forma positiva a imagem referencial que o filho pequeno sempre tem do pai. É algo valioso na formação de qualquer pessoa", endossa Valdinei.

O trabalho com as diferentes idades em uma modalidade de preparo minucioso também exige olho clínico do professor, que escolhe o estilo das formas de acordo com cada atleta. "As características físicas e de personalidade mudam constantemente no decorrer dos treinos. O que vale é sempre se reciclar e buscar aperfeiçoar a arte", comentou Bento.

Peculiaridades - Como praticamente todos movimentos do kung fu também são de essência performática, o professor Alexandre afirma que um dos segredos do sucesso nos treinamentos do grupo está na ‘desambientação'.

Com isso, além do preparo constante dentro da academia, costuma levar os alunos para lugares como parques e quadras, com intenção de tirar os praticantes da rotina e desinibir ainda mais os movimentos em lugares diferentes.

"Parece um mero detalhe. Mas é uma peculiaridade que contribui para muita coisa, principalmente para acabar com todo tipo de intimidação ou timidez na hora de executar os movimentos em qualquer tipo de situação", explicou.



Arte foi unificada como esporte em 1950

 

Em chinês, a palavra wushu significa genericamente arte de guerra. É o termo correto para designar as artes marciais chinesas, que no ocidente ficaram conhecidas popularmente como kung fu (ou tempo de habilidade, em uma tradução livre para a língua portuguesa).

O kung fu é uma luta baseada em movimentos de animais e fenômenos da natureza. Ela foi criada pelos monges budistas do templo shaolin, que passavam muitas horas em meditação, e imitavam as posturas de luta dos animais como forma de ginástica. Posteriormente, começaram a usar os movimentos para se defender de ladrões durante peregrinações.

No wushu moderno, as sequências de ataque e defesa foram convencionadas em rotinas fixas para dar uniformidade às competições. A reformulação da arte marcial em esporte de alto desempenho existe desde 1950 na China, mas só foi aberto para o mundo 30 anos depois.

"É bastante restrito até hoje pelo próprio estilo de vida chinês. Trata-se de algo muito antigo e cultural, e sempre há os mais tradicionalistas, que relutam em divulgar os segredos da arte. Mas a mentalidade tem mudado com o tempo. Isso ajuda bastante a divulgar cada vez mais a arte pelos quatro cantos do planeta", disse o professor Alexandre Bento.

Do Norte e do Sul - Entre as sequências de movimentos, também denominados de taolus (erroneamente chamados no Brasil de Katis) basicamente, há os do norte (movimentos amplos e mais habilidade), os do sul (trabalham mais força e respirações), o freestyle (improvisados) e também o tai chi. Quesitos como Fluidez, plasticidade e força são julgados o tempo todo durante a execução dos movimentos.

Na Olimpíada de Pequim em 2008, o wushu não foi integrado ao programa oficial. Mas o esporte é tão forte em território chinês que uma competição paralela aos Jogos foi realizada, com a participação dos melhores do mundo.

Kung fu e cinema sempre andaram juntos. O grande boom da modalidade no mundo foi na década de 1970, com os filmes de Bruce Lee, até hoje considerado um dos maiores ídolos do estilo. Atualmente, os atores/lutadores mais conhecidos das grandes telas são Jackie Chan e Jet Li.




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