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Suspeita de cobrar 'pedágio', Mancha Alviverde é investigada por taxa da cerveja
09/07/2016 | 07:00
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A Polícia Civil de São Paulo está investigando a torcida Mancha Alviverde por suspeita de cobrar "pedágio" dos ambulantes que vendem cerveja nos arredores do Allianz Parque. Os indícios apareceram durante o inquérito que tem a organizada do Palmeiras como alvo por casos de violência e a invasão, no fim do mês de março, da Academia de Futebol. Os valores cobrados não foram revelados.

De acordo com a investigação, os ambulantes só conseguem trabalhar mediante pagamento de uma taxa para a torcida. Integrantes da organizada também atuam como vendedores.

A ação dos ambulantes é ilegal, mas a fiscalização tem dificuldade para coibi-los por causa da proteção que recebem da torcida. No último dia 30 de junho, quando o Palmeiras enfrentou o Figueirense, cinco fiscais da Prefeitura foram agredidos por integrantes da Mancha.

Para o promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal (Jecrim), a organizada passou a cobrar o pedágio depois de ter as receitas reduzidas por medidas como a adoção da torcida única nos clássicos. "Como perdeu fonte de renda, eles estão ?marretando?. A gente (as autoridades) fica cercando e eles ficam indo para outro lado. Não é fácil."

Castilho disse que as investigações detectaram uma ação ostensiva da torcida nas cercanias da arena. "Hoje quem comanda ali é a Mancha Verde", afirmou.

Um ex-integrante da organizada palmeirense disse à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, sob condição de anonimato, que a "taxa da cerveja" está sendo cobrada há muito mais tempo do que o promotor imagina. "Os caras que têm barracas lá na (rua) Caraíbas pagam uma propina para a Mancha. É fato. Depois que inaugurou o estádio novo, os camelôs apareceram com cerveja de garrafa de vidro e tem muitos que também dão um dinheiro para ajudar.??

Ele deu mais detalhes: "Agora também tem um ou outro que vende cerveja no isopor que é da torcida. E eles também dão a chamada ?ajuda?. Mas acho que não tem como provar, né...".

A Mancha foi procurada, mas preferiu não se pronunciar oficialmente. Um integrante da torcida negou a extorsão. "Essa história não é nova. Mas ninguém prova nada, pois não dá para provar o que não existe." Ele pediu para não ser identificado.

A delegada Margareth Barreto preferiu não se estender sobre a investigação. "A gente iniciou agora, não tem nada a adiantar", disse à reportagem.

Paulo Castilho se queixou do trabalho feito pelos fiscais da Prefeitura e pela Guarda Civil Municipal contra os ambulantes. "Tem uma fiscalização municipal com apoio da guarda. Estão falhando. Está deixando a desejar", reclamou.

A reportagem questionou a Prefeitura sobre a venda ilegal de cerveja nos arredores do Allianz Parque, a agressão aos fiscais e ao trabalho de fiscalização da Subprefeitura da Lapa.

"O policiamento de grandes eventos esportivos na cidade de São Paulo é atribuição da Polícia Militar. A fiscalização do comércio irregular no entorno da Arena Palmeiras é de responsabilidade daquela Subprefeitura, sob proteção da Guarda Civil Metropolitana (GCM)", respondeu a assessoria, por meio de nota. "Em função da presença de torcidas organizadas e da enorme repercussão que uma ação para inibir o comércio irregular pode promover junto ao público, as ações da GCM e da Subprefeitura Lapa estão sendo redimensionadas."

A GCM ainda não havia se pronunciado para comentar essa situação até as primeiras horas da noite desta sexta-feira.

MODO DE EXTORSÃO RELATADO EM LIVRO - A extorsão de comerciantes de bebidas e alimentos para a arrecadação de fundos é uma prática comum no mundo das torcidas organizadas. Um dos casos mais conhecidos no futebol foi retratado no livro ?La Doce?, do jornalista argentino Gustavo Grabia, que conta a história da barra brava do Boca Juniors.

Há mais de 40 anos, dirigentes do Boca sofriam uma oposição violenta dos torcedores e aceitaram ceder cotas de ingressos para a La Doce revender - situação que ocorre até hoje no clube.

Ambulantes e comerciantes regularizados no entorno do mítico estádio La Bombonera, em Buenos Aires, passaram a ter de pagar propina aos líderes, que ainda faturavam com estacionamentos nas ruas próximas ao campo. Quem se negava a dar o dinheiro apanhava. Se insistia, era morto.




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