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Falta de energia deixa
Santo André na seca
André Vieira
Deborah Moreira
27/01/2011 | 07:14
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O intervalo longo e anormal de 21 horas sem energia elétrica na Estação Elevatória de Sapopemba da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), na Capital, foi o motivo do desabastecimento de água, ainda não inteiramente normalizado, que prejudicou 600 mil pessoas em Santo André.

A unidade teve o fornecimento interrompido às 23h do dia 23 e o serviço só foi restabelecido às 20h do dia seguinte, depois de quase um dia inteiro no escuro, segundo a Sabesp.

Sem luz, as sete bombas da estação elevatória, que são responsáveis por aumentar a pressão e levar água para os pontos mais altos, não funcionaram e deixaram de abastecer 15 dos 16 reservatórios de Santo André.

Apesar da justificativa da Sabesp, segundo a AES Eletropaulo, que informou ter feito vistoria no local, nenhum problema na rede elétrica foi verificado.

Por hora, a estação de Sapopemba, que também atende a Capital, transfere 7,9 milhões de litros de água para Santo André, mais do que duas piscinas olímpicas a cada 60 minutos. No intervalo de 21 horas sem energia elétrica, os reservatórios do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) ficaram sem receber 166 milhões de litros.

Para se ter ideia do problema, a falha prejudicou cerca de 80% da cidade, mas o volume de água não recebido foi maior do que toda a população de Santo André consome em um dia - 160 milhões de litros de água.

RECORDE
Como todo processo de abastecimento de água depende de energia elétrica, quedas de luz sempre provocam alteração no funcionamento do serviço.

Quando o período às escuras é pequeno, a água já armazenada nos reservatórios é suficiente para suprir a demanda dos clientes, que nem percebem que houve queda de energia na estação, porque nem chegam a ficar sem água.

Segundo a gerente de adução da Sabesp, Silvana Franco, "os reservatórios já trabalham com contingência, mas uma ocorrência de 21 horas sem energia elétrica requer aparato que não existe gerador que nos dê o fornecimento pleno."

As 21 horas registradas em apenas dois dias em 2011 já superam todos os registros recentes de problemas de energia elétrica na Estação Elevatória de Sapopemba.

Em 2009, a soma das interrupções do ano alcançou 15 horas. Ano passado, em 12 meses, a Sabesp contou 14 horas sem luz na estação.

Segundo o Semasa, apenas três dos 16 reservatórios ainda apresentam problemas de abastecimento, o que deverá ser normalizado até hoje.

Bairros da cidade ficam 90 horas sem água

Moradores de cerca de oito bairros de Santo André sofreram com a falta d'água pelo menos por 90 horas. Desde domingo, roupas e louças se acumulavam e todos procuravam racionar o pouco que ainda tinham para tomar banho. Durante a tarde de ontem, a água dava sinais de que estava chegando em algumas torneiras.

Foi o caso do professor Matozinho Alves da Silva, 35 anos, que há oito mora na Vila Lucinda com a mulher, Joana Pereira dos Santos, 40. Ela está de licença-maternidade para cuidar das filhas gêmeas Ana Elisa e Isabel, 2 meses. Na pia da cozinha, duas bacias para lavar a louça, uma com sabão e outra com água.

"A água está chegando, mas está com barro. As bebês são recém-nascidas e precisam de cuidados especiais de higiene. Hoje (ontem), precisamos ir até Mauá para lavar roupa e pegar água na casa da minha cunhada", disse Matozinho.

Mas na casa da boleira Ivani Aparecida Maciel, 53, no Parque Novo Oratório, a louça se acumula. Desde terça-feira à noite, ela, o marido e dois filhos encomendam marmitex para as refeições. Ivani lamenta a sujeira, principalmente do quintal, onde mantém três cachorros, e contabiliza o prejuízo. "Recebi encomenda de kit para festa com o qual ganharia R$ 280 reais. Mas, sem água, não pude pegar o pedido, que era para sábado", disse a boleira, que ganha R$ 800 ao mês com o trabalho em casa.

O entregador de água Hélvio de Sousa Júnior, 28, disse nunca ter tido tanto trabalho. "As pessoas estão usando para tomar banho e fazer limpeza da casa", comentou. Pelas suas contas, somou 470 galões de 20 litros entregues entre segunda-feira e ontem.

No Jardim das Maravilhas, a técnica de enfermagem Maria Neris, 38, já gastou o mesmo valor de sua conta de água em galões. "Pago R$ 40 reais por mês e gastei o mesmo com oito galões", disse Maria, que mora com filho de 10 anos e está hospedando duas sobrinhas.

Semasa recebe 4.000 ligações em quatro dias 

O serviço telefônico - 11 - para emergências do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) atendeu 3.980 ligações entre domingo e 18h40 de ontem. Segundo a autarquia municipal, o número superaria os 4.000 até o fim do dia.

Normalmente, a média de ligações diárias gira em torno de 800. Nesses quatro dias em que as torneiras estiveram secas, subiu para em torno de 1.000.

Todos os moradores ouvidos disseram que tiveram dificuldade para contatar o serviço. "Demora para a gente conseguir falar. E quando conseguimos, eles dão uma previsão que não é verdadeira. Só falta a gente colocar um nariz de palhaço", criticou a manicure e boleira Sandra Lúcia Pedro, 53 anos, que mora na Vila Lucinda desde que nasceu. Ela afirma nunca ter ficado tantos dias sem abastecimento.

O Semasa informou que o congestionamento foi devido ao grande número de ligações. Além do telefone, a autarquia disponibiliza informações no site www.semasa.sp.gov.br ou no Fale Conosco.




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