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As duas mortes de Berro Dágua
Por Raphael Rocha
02/09/2015 | 07:00
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É um excelente conto, uma das melhores obras do grande Jorge Amado: A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua. Sim, Berro Dágua. Reza a lenda que um dia, pensando que o copo estava cheio de boas ideias, ele o emborcou de uma vez. E seu grito gigantesco, desesperado, assustou até os companheiros de sempre: “Áaaaaaaaagua!!!!!” E ficou mais famoso pelo apelido do que pelo nome.

Berro Dágua morreu num lugar pra lá de suspeito e alguém foi buscar seus parentes. E, enquanto a família providencia o enterro, deixou-o com os companheiros de bebedeira, os ladrões, as amantes, seus colegas de copo e de cruz, como diria Chico Buarque. Os companheiros, enquanto bebem industrialmente em homenagem ao morto, acreditam que ele sorri; portanto, vivo está.

Carregam o defunto e vão com ele beber nos bares que habitualmente frequentam, buscam a companhia das mulheres de sempre, dão-lhe cachaça, como de costume, e acreditam que ele a derrubou na roupa imunda porque estava bêbado demais. A horas tantas, resolvem passear de barco. E, num descuido – que os companheiros interpretaram como uma tentativa desesperada de fugir ao destino de ser enterrado em vida, e ainda por cima preso num caixão – Berro Dágua cai do barco desgovernado e desaparece para sempre entre as ondas e as marolas.

Para a família e amigos do tempo em que tinha emprego e batia ponto, ele já estava morto: a viagem enlouquecida só serviu para que não o prendessem num caixão. Para os companheiros, os bêbados, foi sua segunda morte. A definitiva.

Foi numa casca de banana...
Há duas definições possíveis para o governo Dilma, parte 2:
1 – à falta de oposição, o governo decidiu se opor a si mesmo (e com êxito).
2 – Se há uma casca de banana na outra calçada, Dilma vai lá para escorregar.
A aprovação da presidente vai mal. Aí o governo anuncia que, contrariando a tradição, não vai pagar em agosto a metade do 13º dos aposentados, por falta de dinheiro. Cai o mundo – e o governo dá um jeito de pagar em setembro. O preço do desgaste já foi pago; e o dinheiro que queriam poupar foi gasto assim mesmo.
É pouco? O governo anuncia a volta do Imposto do Cheque, a CPMF, com o nome-fantasia de CIS. Cai o mundo – e o governo desiste da tunga. O preço do desgaste já foi pago. E o governo continua sem o imposto que queria atochar.

O super-Pixuleco
Era um boneco inflável engraçado, para ser exposto em meia dúzia de manifestações e ser devidamente arquivado. Mas os petistas mais alucinados o encararam como manifestação de lesa-majestade, e já o perfuraram duas vezes, uma delas a facadas. Resultado: o boneco inflável de Lula vestido de presidiário, com os números 13 (do PT) e 171 (artigo do Código Penal que trata de estelionato), virou símbolo dos movimentos ‘Fora PT’. É a primeira vez, ao que se lembre este colunista, em que um governo e um partido polemizam com um boneco inflável. O prefeito Fernando Haddad, uma usina de factoides inúteis, quer proibir o Pixuleco em São Paulo por violação da Lei da Cidade Limpa (que proíbe outdoors, painéis publicitários, etc.) Resultado: já foi apelido de Mixureco. Tem lógica.

Essa moça tá diferente
Chico Buarque é um grande compositor. E também o autor do melhor conselho aos governantes petistas: numa entrevista de 2004, sugeriu a criação de um novo ministério, cujo nome seria, digamos, “Ministério do Vai Dar Errado”. Alguém de bom-senso, sem aquela devoção religiosa aos governantes, examinaria cada medida proposta pelo governo, e conforme o caso diria: “Vai dar errado”. A medida seria enterrada antes de se tornar pública. Este colunista, fã incondicional do Chico músico, descrente incondicional do Chico ideológico, se rende: só o ministério que ele propôs pode salvar o governo, se der tempo. Aliás, o nome do ministério não seria “vai dar errado”. Seria mais popular e contundente.




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