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Estacionar está cada
vez mais difícil e caro
Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
15/08/2011 | 07:08
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A frota de carros - só carros - no Grande ABC cresce em média de 4.000 por mês, conforme dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), e colabora para o aumento do caos viário. O motorista, que sofre diariamente com congestionamentos, tem dores de cabeça ainda maiores quando precisa ir às áreas: encontrar vaga para estacionar é um martírio.

As opções são as chamadas vagas rotativas nas ruas, pelas quais se paga, mas não se tem segurança (veja mais abaixo), e os estacionamentos particulares que proliferam em todas as cidades - são 1.246 em quatro municípios (Mauá, Diadema e Rio Grande da Serra não informaram) -, nos quais os preços são extorsivos porque não existe tabelamento por parte das administrações públicas.

A equipe do Diário visitou vários desses estabelecimentos, ouviu reclamações de todos os usuários e constatou que a média cobrada é de R$ 5,00. Em locais próximos a bares ou casas de shows, o valor chega perto dos R$ 20 no período noturno.

"É um absurdo ter que gastar para estacionar. Eu já pago imposto e seguro do carro e ainda assim tenho que gastar com estacionamento", protesta o vendedor Ricardo Marcatto, 53 anos.

Na avaliação do ótico Osmar Reno, 64, os proprietários das garagens aproveitam o excesso de veículos para inflacionar os preços. "É difícil estacionar na rua, além de ser perigoso. Então, quem tem estacionamento aproveita e enfia a faca."

Quando o estabelecimento é perto de locais de grande circulação, o preço é alto. No Centro de São Caetano, próximo a lojas e prédios comerciais, uma das garagens cobra R$ 8 pela primeira hora. Mesmo com o preço abusivo, usuários assumem que a proximidade é o principal critério para escolha do local para estacionar, ainda que seja mais caro. "Geralmente eu paro no lugar mais perto. Não dá para ficar perdendo tempo", admite o administrador Cleiton Burri, 34.

Apesar de os estacionamentos privados serem considerados mais seguros, é comum ouvir relatos de motoristas que tiveram problemas com o serviço. "Eles não cuidam direito do carro, principalmente quando tem manobrista. Eu já tive o meu carro amassado e arranhado em um estacionamento", reclama a costureira Edneia Ramalho, 43.

 

Para usuários, estabelecimentos deveriam fracionar tempo

Motoristas que utilizam estacionamentos privados se queixam da intolerância na cobrança pelo período utilizado. Se o usuário deixar o carro parado por 15 minutos, por exemplo, pagará pela tarifa mínima, que geralmente é de 30 minutos ou uma hora.

"Deveriam fracionar o tempo. Eu trabalho na rua, então tenho de ir a muitos lugares durante o dia. Fico pouco tempo em cada um, mas tenho de pagar caro porque não há divisão", critica o representante comercial Carlos Marcusso, 57 anos.

O motorista Armando Garcia, 64, chega a gastar R$ 200 por mês só para parar o carro em estacionamentos privados. "No dia a dia, não nos damos conta de quanto parar o carro pesa no orçamento no final do mês", acrescenta.

Nas áreas centrais das cidades do Grande ABC, a equipe do CF52Diário localizou apenas um estabelecimento que divide o tempo para montar a tabela de preços para os clientes. No entanto, a tarifa mínima cobrada é de meia hora, que sai por R$ 3. A partir daí, é cobrado R$ 3,50 por 40 minutos, R$ 4 por 50 minutos e R$ 5 por uma hora. O estacionamento está localizado na Rua Marechal Deodoro, no Centro de São Bernardo.

 

Rotativo garante verba para as Prefeituras

As Prefeituras de Santo André, São Bernardo e São Caetano arrecadam, mensalmente, R$ 637 mil com o serviço de estacionamento rotativo. Juntas, as três cidades oferecem 8.227 vagas de Zona Azul.

O Paço que mais recolhe é São Bernardo - R$ 570 mil -, mas, diferentemente de Santo André e de São Caetano, que terceirizaram o serviço, é a própria administração quem toma conta das vagas, assumindo também os custos.

Além de utilizar a verba arrecadada para a manutenção do rotativo, a Prefeitura repassa parte do montante para a Fundação Criança, que, entre outras atividades, acolhe jovens em situação de risco e que são vítimas de maus-tratos.

Em São Bernardo, a hora custa R$ 2. Se o motorista extrapolar o limite e não regularizar a situação do veículo, recebe aviso de multa, após 10 minutos, e pode pagar R$ 20 para escapar da infração.

A Prefeitura de Santo André informou que a Zona Azul é gerida por um consórcio, que repassa R$ 35 mil por mês aos cofres públicos. A verba é investida em sinalização e educação de trânsito e no Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

A tarifa é fracionada e vai de R$ 0,60, para 30 minutos de estacionamento, até R$ 2,40, que permite parar por duas horas. A taxa de tolerância para os que passam do tempo determinado custa R$ 8 e pode ser paga em qualquer um dos 129 parquímetros eletrônicos ou nas Centrais de Atendimento ao Usuário.

Em São Caetano, o motorista paga R$ 1,50 a hora, ou R$ 2 por duas horas. A Concessionária CelloAuto, que administra o serviço, repassa R$ 32 mil para a Prefeitura mensalmente.

Não há no município taxa que isenta cobrança de multa. O motorista recebe aviso de irregularidade e, se não colocar o cartão de estacionamento, é multado.

As três prefeituras, Santo André (2.494 vagas), São Bernardo (3.000) e São Caetano (2.733), informaram que pretendem ampliar o número de vagas públicas.

Em Diadema, onde o tíquete custa R$ 2 (duas horas) e R$ 1,50 (uma hora), existem 700 vagas, mas a Prefeitura não informou quanto arrecada com o serviço. Mauá, que terá em breve 2.900 vagas, está testando a cobrança em mais locais da cidade. A Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Pires, administradora da Zona Azul, não respondeu ao Diário. (André Vieira)

 

Vagas são dispostas para racionalizar o uso do espaço 

O princípio do sistema de estacionamento rotativo é racionalizar a oferta de vagas nas cidades. "Mas as pessoas, de maneira geral, não gostam de pagar pelo estacionamento, nem da restrição de tempo, porém é preciso entender que o volume de veículos é muito grande e não há espaço para todos", afirmou o presidente da Associação Nacional de Infraestrutura de Transportes, João Vírgilio Merighi.

Os motoristas ouvidos pelo Diário contaram que preferem tentar primeiro parar no rotativo por causa do valor. "É mais barato e as vagas estão perto do Centro", afirmou a peruqueira Maria Helena Grigio, 60 anos.

Nem a sensação de segurança, maior nos estabelecimentos privados, convence o eletricista Aldo Pereira Monteiro, 36. "Às vezes é preciso rodar um pouco para conseguir um lugar, mas deixo na rua porque nem mesmo os locais fechados estão hoje livre do perigo dos assaltantes." 

ALERTA
Segundo Merighi, mal-planejadas, as vagas de Zona Azul podem prejudicar o tráfego. "O serviço tem de funcionar em vias de trânsito local, nunca nas de grande circulação, pois a redução do espaço para a passagem dos veículos provoca congestionamentos." (André Vieira)




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