Ex-presidente da CBF está mergulhado em esquema de pagamento de propinas para cessão de direitos em campeonatos no Brasil e no Exterior
Investigação iniciada em 2011 pelo FBI (sigla de Agência Federal de Investigação, em português) culminou ontem com a prisão de oito executivos da Fifa, em Zurique, na Suíça, entre eles o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Eles são acusados de crimes como corrupção, extorsão e lavagem de dinheiro, envolvendo as candidaturas da Rússia para a Copa do Mundo de 2018 e do Catar, em 2022. Todos foram banidos da entidade.
Outros sete nomes também tiveram prisões decretadas (veja relação abaixo). Agora, a investigação vai indicar a participação de cada um no esquema.
Pesa ainda contra Marin, entre outras denúncias, propinas recebidas para facilitar compra de direitos de transmissão das edições de 2015, 2016 – que será especial e terá seleções de todo o continente americano – 2019 e 2023 da Copa América, além de R$ 2 milhões anuais para ceder direitos da Copa do Brasil.
Abaixo, mais informações sobre o maior escândalo da história do futebol.
Mandatário cobrava propinas milionárias, apura investigação
A administração de José Maria Marin teria criado sistema de corrupção que passou a exigir de empresas com interesses na Seleção ou na CBF depósito de milhões em suas contas fora do País.
Contratos fechados com participações de instituições financeiras norte-americanas devem ter sido os motivos que levaram o governo dos Estados Unidos a investigar os executivos da Fifa. O professor da Mackenzie, Flávio de Leão Bastos Pereira, especializado em direito penal, acredita ainda em parceria com a polícia da Suíça.
Apesar de estar no início das investigações, a Justiça dos Estados Unidos prevê que a pena dos executivos da Fifa acusados de corrupção chegue perto de 20 anos. Porém, para o professor da Mackenzie, Flávio de Leão Bastos Pereira, especializado em direito penal, o brasileiro José Maria Marin pode responder em liberdade.
Presidente da CBF e ex-mandatário da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero deve destituir José Maria Marin do cargo de vice-presidente. A decisão será oficializada após o retorno do executivo, que está na Suíça, onde participa da assembléia geral da Fifa.
Outro ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira também corre risco de ser preso por recebimento de propina. Documentos comprovam que o dirigente obteve verba irregular de José Hawilla, dono da Traffic Group, empresa que negocia os direitos de transmissão de torneios de futebol, como a Copa do Brasil.
O escritório do procurador-geral da Suíça Michael Lauber afirmou que abriu investigação para apurar possíveis irregularidades nas escolhas de Rússia (2018) e Catar (2022) para sediar as duas próximas Copas do Mundo. Documentos e computadores foram apreendidos na sede da Fifa, em Zurique.
Integrantes do comitê organizador da Copa da Rússia garantiram não estar preocupados com a situação. “Não temos nada a esconder”, disse o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko.
Em contrapartida, o governo russo acusou oficialmente os Estados Unidos de aplicação extraterritorial de sua legislação nacional no caso da detenção na Suíça de vários dirigentes da Fifa.
Romário consegue assinaturas para a CPI da CBF
Assim que soube da prisão dos executivos da Fifa, o ex-jogador e agora senador pelo PSB Romário comemorou nas redes sociais e colheu 40 assinaturas, suficientes para instaurar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as denúncias de corrupção na CBF.
“Muitos corruptos e ladrões foram presos na Suíça, inclusive um dos maiores: José Maria Marin. A CPI tem intenção de investigar a CBF e o COL (Comitê Organizador Local) da Copa-2014. Vamos investigar os contratos irregulares para partidas da Seleção e outros campeonatos. Esee é o momento e temos chances de ter colaboração de outros países”, escreveu o senador no Twitter.
Estados Unidos garantem que vão ‘limpar o futebol mundial’
Após prender os sete executivos da Fifa na Suíça, representantes do Departamento de Justiça norte-americano e do FBI (sigla de Agência Federal de Investigação, em português) concederam entrevista e garantiram que as investigações estão apenas no início e que o grande objetivo é limpar o futebol.
“Esses esquemas não são novos, acontecem há mais de 20 anos e estamos aprendendo como funcionam. Quero deixar bem claro que esse é o começo do nosso trabalho e não vamos parar por aqui. Trabalharemos muito duro parar chegar ao fundo desse tipo de corrupção e limpar o futebol mundial”, prometeu o promotor federal de Nova York, Kelly Currie.
O diretor do FBI, James Comey, acrescentou que a punição será aplicada independentemente da importância do acusado. “Ninguém jamais sairá impune. Prometo que em algum momento vamos esclarecer tudo. Muitas pessoas se envolvem nesse tipo de prática pensando que vão se dar bem, mas não será assim. Estamos atrás de desmembrar os esquemas e não iremos descansar até o momento que o mundo entenda que esses esquemas não serão tolerados, mas castigados com todo o rigor da lei.”
Além do combate à corrupção, um dos fatores que motivam a fiscalização é a possível sonegação de imposto na Receita Federal dos Estados Unidos. “A Fifa levou cartão vermelho. Vamos continuar trabalhando com nossos melhores investigadores para limpar tudo e fazer com que joguem as regras do jogo”, disse o investigador da Receita Federal, Richard Weber. AF (com Agências)
J. Hawilla assume culpa e devolve R$ 476 milhões
Um dos envolvidos no escândalo, José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic, prestou contas à Justiça dos Estados Unidos, fez acordo, se declarou culpado e devolveu US$ 151 milhões – R$ 476 milhões na cotação atual.
“Em 12 de dezembro de 2014, José Hawilla foi indiciado e considerado culpado por extorsão, conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Hawilla também concordou em restituir US$ 151 milhões, sendo US$ 25 milhões pagos no momento do apelo”, afirmou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
O advogado do dono da Traffic, José Luís de Oliveira Lima, diz que Hawilla está nos Estados Unidos. “Ele não está com tornozeleira como estão dizendo”, afirmou. O advogado ainda divulgou nota: “O empresário Hawilla apoia as investigações e prestou esclarecimentos às autoridades americanas”.
Os US$ 25 milhões (R$ 78 milhões) pagos por Hawilla estão reservados caso vítimas devam ser ressarcidas. Além do brasileiro, três réus assumiram a culpa: Daryll Warner, Daryan Warner e Charles Blazer.
Daryll, ex-secretário de desenvolvimento da Fifa, se considerou culpado em 2013 por fraude eletrônica e transações financeiras estruturais. Também em 2013 Daryan confessou os crimes de conspiração por fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e estruturação de transações financeiras, devolvendo R$ 3,5 milhões. Charles Blazer, ex-integrante do comitê executivo da Fifa e ex-secretário-geral da Concacaf, aceitou as acusações por conspiração de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e evasão de imposto, ressarcindo R$ 6 milhões. (das Agências)
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