D+ Titulo Depoimentos
'Tenho de ser forte a cada dia'
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
31/07/2011 | 07:00
Compartilhar notícia


Quem vê Fernanda*, 16 anos, bonita e sorridente não imagina que no passado não muito distante era uma garota triste e sem amigos. Perfeccionista e controladora assumida, queria repetir no balé o bom desempenho que tinha na escola. Aos 14 anos, começou a se preocupar em manter o peso. A princípio, o objetivo não era emagrecer, pois se achava magra.

Aos poucos, entretanto, foi perdendo o controle da situação. Primeiro, cortou doces e refrigerantes e passou a ingerir mais verduras e legumes. Depois, diminuiu muito o consumo de carne, arroz e feijão. "Não me via gorda, mas tinha medo de que o pouquinho que comesse, engordasse muito. Sentia culpa." Na época, com 1,58 m e 46 kg , chegou a pesar 34 kg.

No começo, foi difícil admitir que estivesse doente até que precisou ser internada. Ficou nove dias na ala pediátrica. Como não parava de emagrecer, foi transferida para a psiquiatria. "Lá, não podia ter acompanhante. Nos dois primeiros dias, chorei o tempo inteiro. Depois, percebi que tinha de me esforçar para sair dali."

Após 20 dias, Fernanda deixou o hospital, mas o tratamento não acabou naquele momento. "Já faz dois anos, mas agora é que estou me adaptando melhor. Ainda tenho medo de engordar. É um processo lento. Tenho de ser forte a cada dia."

 

"Não sentia o gosto da comida"

Até os 6 anos, Leonardo*, hoje com 17, era magrinho. Após a separação dos pais, no entanto, engordou bastante. Os comentários e apelidos da família e amigos o chateavam, mas ele ficava quieto. Entre o fim de 2009 e início de 2010, começou a emagrecer. Todos perceberam a transformação.

"Comia cada vez menos. Parei de sentir o gosto dos alimentos e nem percebi. A noção que tinha do prato era diferente da realidade." De 75 kg, Leonardo passou a pesar 45 kg. No entanto, não se enxergava magro. Foi, então, que em maio do ano passado os médicos decidiram interná-lo. O problema é que mesmo assim não parava de perder peso; chegou a 39 kg. Por isso, foi preciso colocar uma sonda para se alimentar. "É doloroso. Você fica com o instrumento no nariz e sente o alimento descendo pela garganta."

Ficou cerca de dois meses e meio internado. Aos poucos, voltou a ganhar peso e se recuperar. Leonardo garante que a família foi fundamental no processo. "Nessa hora vi quem são os verdadeiros amigos. Revi meu conceito de vida." Hoje, vai ao psicólogo semanalmente e faz acompanhamento trimestral no hospital. "A busca por ajuda é muito difícil porque você não consegue acreditar naquilo que não vê (não se enxerga magro). O principal é ouvir os outros."

 

Onde procurar ajuda

Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas): Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, tel.: 3069-6975, São Paulo (www.ambulim.org.br)

Proata (Programa de Orientação e Assistência a Transtornos Alimentares da Unifesp): Rua dos Otonis, 887, tel.: 5579-1543, São Paulo (www.proata.cepp.org.br)

Instituto de Hebiatria da Faculdade de Medicina do ABC: Avenida Príncipe de Gales, 821, Santo André, tel.: 4993-5400 (www.fmabc.br)

 

* Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;