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Grande ABC também tem seus agroempresários
Por Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
17/07/2004 | 23:12
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  Cultivar a terra, cuidar da plantação, alimentar animais, recolher mel e adubo, extrair sementes. Atividades pouco praticadas em regiões urbanas como o Grande ABC podem significar o sustento de várias famílias e se tornar uma fonte de renda para quem não tem alternativa de emprego. As iniciativas ainda são incipientes e a produção é pequena, mas já existem empreendimentos bem sucedidos, e alguns já começaram até a exportar.

Além da falta de tradição rural, a região é formada por áreas de proteção de mananciais e preservação ambiental, o que implica em uma série de restrições e peculiaridades em relação a esse tipo de atividade. “A pessoa que se envolve com empreendimentos ligados ao meio ambiente começa a ver a região onde mora com outros olhos. A preservação da natureza se torna uma preocupação concreta”, disse Patrícia Lorenz, diretora do Departamento de Meio Ambiente da Subprefeitura de Paranapiacaba e Parque Andreense, da Prefeitura de Santo André.

O ex-metalúrgico Murilo Alberto Pereira, 40 anos, proprietário de um sítio no Parque das Garças, em Santo André, é um exemplo de relacionamento harmonioso com o meio ambiente. Murilo criava porcos em sua propriedade (o que não é permitido pela legislação ambiental) e, com orientação de um engenheiro agrônomo, agora possui um minhocário e um apiário, além de cavalos e bovinos.

O sítio de Murilo produz duas toneladas de humus e de 18 a 20 litros de mel por mês, além de leite e queijo artesanal, vendidos diretamente aos vizinhos e visitantes. “Dá para sobreviver. Varia muito de mês a mês, mas ganho uma média de R$ 800”, contou.

Minhocultura, apicultura, agricultura orgânica, cultivo de flores e shiitake são as atividades mais comuns no Grande ABC, além das setores ligados a lazer e ecoturismo (monitoramento de trilhas, pesque-pague, aluguel de cavalos para passeios). “Há um potencial enorme de desenvolvimento econômico voltado para o ecomercado, que mal começou a ser explorado”, disse Iolene Cordeiro, assistente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo.

Em Ribeirão Pires, na região da IV Divisão, há pequenas propriedades que produzem tanto para subsistência quanto para comercialização – a Prefeitura não possui dados sobre os empreendimentos.

O Sítio do Luís, na divisa com Suzano, produz alface (25 caixas por semana), couve (40 dúzias por semana) e temperos, que são vendidos em São Paulo, no atacado, e na vizinhança, no varejo. O empreendimento emprega cinco pessoas diretamente e tem a estrutura de uma microempresa. “São muitas despesas, mas a gente consegue se manter. O sítio já tem 50 anos e sempre trabalhamos nessa área”, disse a proprietária, Lourdes Iwasaki, 53 anos.

Para Antônio Joaquim Andrietta, professor dos cursos de Administração do Imes (Centro Universitário Municipal de São Caetano), a distribuição dos produtos é outro ponto que precisa ser considerado. “O destino da produção deve ser o microcomércio representado por pequenas indústrias locais de processamento, mercados locais, feiras livres e sacolões, restaurantes e cozinhas industriais”, disse.

Alguns empreendimentos, contudo, já chegaram a um grau avançado de tecnologia e organização que abriram as portas do mercado externo. O CTPB (Centro Tecnológico de Pesquisas Biológicas), em Mauá, produz 50 mil orquídeas por ano, com um faturamento mensal de R$ 15 mil. A empresa, que é uma parceria com a Fundação Abraham Kasinski, emprega seis pessoas.

O CTPB possui um laboratório de reprodução in vitro para obter plantas perfumadas, em extinção, com floração em épocas diferentes e de cores diversas. “Vendemos nossos produtos em São Paulo, no Ceagesp, e exportamos para o Japão, Estados Unidos, Alemanha e Suíça”, disse o biólogo Luiz Walcyr Barreto, 50 anos, sócio da fundação no empreendimento.




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