Política Titulo 60 anos em 60 entrevistas
'O jornalismo regional ainda terá vida longa’
Wilson Moço
do Diário do Grande ABC
12/03/2018 | 07:18
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Denis Maciel/DGABC


Em alguma parcela, o desenvolvimento econômico e social das sete cidades do Grande ABC deve ser creditado à atuação do Diário, assim como o jornal não seria tão forte, a ponto de influenciar a pauta nacional, se não tivesse nascido em uma das regiões mais importantes do Brasil. A opinião é do jornalista Evaldo Novelini, 42 anos, diretor de Redação, que abre a série de 60 entrevistas com personalidades dos mais diversos segmentos, do empresarial ao esportivo, passando por política e cultura, que será publicada diariamente até 10 de maio, véspera do aniversário de 60 anos do jornal. O profissional está entusiasmado com o futuro.

Nos primeiros 60 anos, o Diário ajudou a consolidar o Grande ABC como uma das regiões mais fortes do Brasil. O que esperar do futuro?
O jornalismo regional, ético e responsável, ainda terá vida longa. Para, no mínimo, mais seis décadas. Um veículo como o Diário pode colaborar sobremaneira para assegurar o bem-estar da população e garantir o desenvolvimento econômico e social do Grande ABC, na medida em que, além de noticiar com independência e rigor o que de relevante ocorre na região, for enxergado pela comunidade como tribuna de seus justos anseios.

O leitor de hoje espera do Diário o mesmo que esperava o de seis décadas atrás?
Creio que não. Houve algumas mudanças significativas. Atualmente, o leitor não quer mais apenas ser informado do que está acontecendo nas sete cidades; ele quer interagir, expressar seu ponto de vista, dizer se concorda ou não com o que se está fazendo. O tempo do leitor passivo ficou no passado. O jornal tem procurado atender a esses anseios, tornando-se cada vez mais aberto às colaborações externas. Abrimos canais nas redes sociais, como o WhatsApp, e resgatamos alguns projetos que ampliam a voz dos cidadãos, como a seção SOS Bairros publicada às quartas-feiras no caderno Setecidades.

O jornalismo regional vem se fortalecendo mundo afora...
É uma tendência global. Tome-se o mercado de notícias norte-americano, um dos mais profícuos. Os jornais locais e regionais vêm conquistando boa parte dos prêmios de excelência jornalística. No ano passado, por exemplo, The Storm Lake, que circula 3.000 exemplares em uma cidadezinha do Estado de Iowa, levou o Pulitzer por causa dos editoriais que denunciaram que a defesa de acusados por contaminação do meio ambiente era financiada por duas gigantes do agronegócio, Cargill e Monsanto.

O Diário, apesar de ser regional, tem relevância nacional, como mostram algumas coberturas recentes...
A repercussão nacional das nossas reportagens se deve à qualidade e à responsabilidade do jornalismo que praticamos. Em 2014, a nomeação de Arthur Chioro para o Ministério da Saúde quase foi abortada depois que o Diário revelou que ele infringia a Lei Orgânica de São Bernardo ao ser, concomitantemente, secretário municipal e sócio majoritário de empresa que prestava serviços para várias cidades. O Ministério Público chegou a investigar Chioro por improbidade administrativa.

É comum ver o Diário pautando os veículos nacionais...
Tivemos um caso recentemente, graças a uma história inusitada – e saborosa – descoberta por um de nossos repórteres de Política, Júnior Carvalho. Ao pesquisar processos contra a Prefeitura de Diadema, o jornalista descobriu que um dos autores de uma ação contra a administração era o próprio prefeito, Lauro Michels, que julgava ter direito a receber aproximadamente R$ 70 mil do governo relativos a férias e a 13º salário da época em que ele havia sido vereador na cidade. A repercussão foi tamanha, extrapolando os limites do Grande ABC, que não sobrou outra alternativa ao Lauro além da de desistir do processo.

Como equilibrar os assuntos regionais e nacionais?
É uma tarefa que exige bastante percepção do momento. Nesta segunda-feira, por exemplo, funcionários dos Correios devem cruzar os braços para pressionar os ministros do Tribunal Superior do Trabalho a votar contra o fim do plano de saúde extensivo aos seus pais, um benefício que representa custos em torno de R$ 1 bilhão e está corroendo o equilíbrio financeiro da companhia. O único jornal que discutiu a questão de maneira abrangente foi o Diário, ao qual o presidente da estatal, Guilherme Campos, concedeu entrevista exclusiva para tratar do assunto. Achamos o tema relevante, porque sabemos da importância dos serviços dos Correios para os nossos leitores e também para o Brasil. Nossa vocação é regional, mas qualquer tema relevante para o Estado, o País e o mundo também nos interessa.

Quais são as bandeiras do jornal em defesa do Grande ABC?
Três anos atrás, quando celebramos 57 anos, editamos a Carta do Grande ABC, documento no qual expressamos nossos princípios. Temos compromisso com Educação, Saúde, Desenvolvimento Econômico, Mobilidade Urbana, Segurança, Integração Regional, Industrialização, Sustentabilidade, Direito à Cidadania e Transparência. Nos últimos tempos, passamos a discutir de modo enfático maneiras de evitar a fuga de indústrias, processo que se acentuou e pode colapsar a região.

Qual o papel institucional do Diário?
Todos os profissionais do jornal têm a consciência de que precisam atuar para o fortalecimento do Grande ABC. Costumamos dizer que tanto o jornal quanto a região precisam ser fortes na mesma intensidade. De nada adianta ter um jornal forte em uma região fraca, ou vice-versa. Exatamente por isso temos muito respeito pelas instituições, sem, evidentemente, abrir mão das nossas liberdades de expressão e opinião. Temos a obrigação de denunciar o mau policial, assim como o dever de defender a Polícia Militar como corporação.

O jornal sempre se colocou ao lado da comunidade em questões importantes, como a necessidade de despoluir a Billings e a recuperação da Avenida dos Estados. Quais as bandeiras atuais?
No momento, estamos nos preparando para a cobertura das eleições de outubro. Entendemos que o Grande ABC precisa de bancada forte de deputados estaduais e federais para lutar pelos interesses das sete cidades. Temos 2 milhões de eleitores, potencial enorme, mas que não se revertem em representatividade. Atualmente só possuímos quatro nomes na Assembleia e dois na Câmara, o que diminui muito o nosso poder de pressão. Há 24 anos, por exemplo, elegemos cinco federais e oito estaduais. Precisamos resgatar nosso prestígio. E de que modo fazemos isso? Escolhendo representantes que, depois de eleitos, escutem os nossos anseios e lutem por eles.

Quais os planos para celebrar os 60 anos do Diário?
A celebração é contínua. Colocar cada edição nas ruas, dadas as circunstâncias do mercado que nós discutimos há pouco, enche a equipe de orgulho e renova nosso entusiasmo. Nossos 60 anos serão comemorados em grande estilo. A programação será extensa e vai focar basicamente na relação bonita que o jornal construiu com o Grande ABC. Em biologia, associação assim é chamada de simbiótica, que se dá quando dois seres vivos se beneficiam concomitantemente da relação. É difícil imaginar como seriam as sete cidades sem o Diário, ou vice-versa.

As comemorações começam quando?
Já começaram. Desde o dia 11 de maio do ano passado, por ocasião de nosso 59º aniversário, nossas edições têm circulado com o selo alusivo aos 60 anos na capa. A primeira grande realização foi a reformulação do DOL, o Diário OnLine, em 15 de outubro. A ideia era que a mudança fosse muito além da estética. O projeto inclui mudança significativa não apenas de layout, mas no espírito do site. Aprofundamos a cobertura factual, de modo que nossos leitores sejam informados instantaneamente dos acontecimentos que interferem no dia a dia das sete cidades, ocorram eles no Grande ABC ou em qualquer ponto do planeta.

Ainda há espaço para o papel ou o futuro do jornalismo está na internet?
Creio que o jornal impresso ainda vai durar muito tempo. Muito mais tempo do que previu, recentemente, o diretor-executivo do norte-americano The New York Times, Mark Thompson, que deu mais uma década de vida ao jornal em papel. Particularmente, entendo que esta é discussão reducionista. Atualmente, as empresas de comunicação estão se reestruturando para serem fornecedoras de conteúdo relevante, independentemente da plataforma. Nossa meta aqui no Diário, onde não cogitamos abandonar a edição em papel, é seguirmos sendo referência em jornalismo de qualidade e com credibilidade, seja na versão impressa ou na on-line, nas bancas, no computador de casa ou no celular. Jornalismo ético e responsável sempre terá mercado, no papel ou em outros suportes.

Que avaliação o sr. faz da volta do tradicional Jornal do Brasil às bancas do Rio de Janeiro?
Eis aí a prova inequívoca de que o papel ainda tem um futuro brilhante. Quando, há oito anos, os executivos do JB tomaram a decisão de suspender a edição impressa, argumentavam que o futuro estava na internet. De lá para cá, todavia, o cenário mudou. Hoje a internet é uma terra de ninguém, solo fértil para fake news – um fenômeno tão poderoso, e perigoso, que contribuiu para a eleição do presidente dos Estados Unidos.

Muitas empresas de comunicação tradicionais acabaram sucumbindo à fuga de leitores e de anunciantes. Qual o caminho?
Esta é a resposta de um milhão de dólares. Mas já é possível encontrar algumas rotas. Jornais tradicionais, como o já mencionado New York Times e o também norte-americano The Washington Post, tem dependido cada vez menos de publicidade e cada vez mais do interesse que as notícias geram. É evidente que os anúncios ainda respondem pela maior parcela das receitas, mas os leitores dos Estados Unidos, inclusive os jovens, já se mostram dispostos a segurar as pontas, pagando por conteúdo jornalístico, desde que de qualidade.

O Diário está preparado para o futuro?
Completamente preparado. Além da reformulação no site, fazemos investimentos contínuos em outras plataformas, como a webtv, cujo retorno de audiência tem sido espetacular. Atualmente, nossa grade é composta por programas ao vivo, transmitidos pelas redes sociais, como o Facebook, onde temos quase 200 mil leitores e espectadores acompanhando o nosso trabalho. Queremos expandir a credibilidade que conquistamos com o papel nestes primeiros 60 anos para as demais plataformas. 




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