Economia Titulo Cartão de crédito
Cartão de crédito é empréstimo caro

"Comprar com um cartão é fazer um empréstimo. E para ter esse dinheiro tão fácil, o preço é caro, muito caro', explica a especialista

Luciele Velluto
Do Diário do Grande ABC
29/06/2008 | 07:02
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Próximo de bater a marca histórica de 100 milhões de cartões de crédito no mercado consumidor brasileiro, o acesso ao dinheiro de plástico se tornou simples e acessível. Mas o brasileiro sabe usar esse meio de compra? Conhece sua real função? Sabe quanto paga de juros e o que representa aquele valor mínimo que aparece na fatura todos os meses? Os especialistas acham que não e a reportagem do Diário foi atrás de dicas sobre como o consumidor, que já caiu nas armadilhas dos juros do crédito rotativo, pode escapar desse emaranhado sem muitos arranhões.

Uma das primeiras recomendações é entender o que é um cartão de crédito. "Comprar com um cartão é fazer um empréstimo. As pessoas não se dão conta disso, mas é. E para ter esse dinheiro tão fácil, o preço é caro, muito caro. Pagar o mínimo da fatura é pagar juros", explica a especialista em Educação Financeira Cássia d'Aquino.

Apesar de contrária à idéia de assumir mais dívidas, Cássia acredita que a solução para quem desorganizou suas finanças é concentrar todas as contas pendentes em uma única dívida. A proposta é buscar um empréstimo pessoal nos bancos ou crédito consignado, que tem taxa média de juros bem abaixo dos 10,39% cobrados pelas administradoras dos cartões em maio deste ano, segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Com esses recursos, é possível quitar todas as pendências e ficar apenas com essa dívida.

"Com isso, a pessoa consegue ‘ver' realmente quanto deve, visualizar o estrago e ainda quitar as contas que têm juros mais elevados que a taxa do empréstimo", explica. A ressalva, segundo a Anefac, é quanto aos juros embutidos nos empréstimos pessoais das financeiras, muitas vezes similar ou até mais caro que o rotativo.

Outra alternativa apontada pela Anucc (Associação Nacional dos Usuários de Cartões de Crédito) é renegociar a dívida em, no máximo, 90 dias contados da data em que o consumidor deixou de pagar a fatura integral. Para a associação, a medida pode ajudar para que a dívida não fique sem controle.

"Conversar com as empresas sobre a dívida não é fácil, pois o acordo sempre penderá para o lado das administradoras. Mas pode ser uma saída. Como a inadimplência está crescendo, há disposição das empresas para negociar", conta a especialista, para quem cerca de 30% dos usuários do plástico não estão em dia com suas faturas.

Cássia diz que o uso do cartão precisa ser consciente, planejado e muito cauteloso. Uma das recomendações é anotar sempre os gastos para manter o controle. Outra saída é reservar o valor necessário para pagar a fatura. "Não se pode assumir uma dívida e não saber se vai ter dinheiro para pagar."

Cultura da dívida e falta de experiência levam ao descontrole

A especialista em Educação Financeira, Cássia d'Aquino, chama a atenção para a necessidade de uma mudança de comportamento do brasileiro. "Quando nos acostumamos com a idéia de que dívidas são naturais, a dívida aumenta. Hoje, as pessoas acham que dever é normal, mas não é."

Para a pesquisadora, a oferta de crédito leva ao descontrole quando associada à falta de experiência em relação à importância da poupança.

Cássia acredita que o período de inflação alta que o País enfrentou nas últimas décadas deixou traumas na população, que não consegue guardar dinheiro para adquirir bens.

Pequenos gastos deixam o consumidor vermelho

Fazer o salário render até o final do mês não é uma tarefa árdua. Basta o consumidor tomar algumas atitudes para reduzir os gastos e chegar até a próxima data do pagamento com dinheiro no bolso.

O primeiro passo é montar uma planilha com os gastos do mês, para observar se há alguns excessos que possam ser eliminados com, por exemplo, o uso racional do celular, a opção por planos mais econômicos nas contas de telefones e redução o desperdício de água e energia elétrica.

"Orientamos que não existe mágica e que o salário não se estica", aponta Diógenes Donizete, assistente de direção do Procon-SP. "No entanto não é preciso se tornar pão duro, apenas ter mais prudência e se precisar fazer uma dívida, fazê-la por necessidade e não simplesmente porque quer possuir aquilo que viu na vitrine."

Reduzir as despesas no supermercado e evitar ir às com o cartão de crédito no bolso é a próxima mudança para impedir que a conta corrente chegue ao negativo e a dívida passe para o próximo mês.

O professor de economia da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite diz que uma outra saída para evitar gastar menos é trocar os produtos líderes das gôndolas pelos mais baratos e os hortigranjeiros que sofreram aumento de preço pelos que apresentaram queda. "Fazendo assim, na hora do caixa, o consumidor vai perceber a economia", assegura leite.

A dica é abolir ainda aqueles pequenos consumos, como a ida à padaria. Nessas compras, o consumidor desembolsa pouco, mas no final do mês pode-se tornar uma prática muito pesado na renda.

Donizete, do Procon-SP, explica que o hábito de se gastar cerca de R$ 3 todos os dias com um café e um pão na chapa pode parecer pouco, mas multiplicado por um mês, pode chegar a R$ 90.

"Pode ter certeza que evitar estas despesas diárias pode contribuir muito para a renda mensal doméstica. Pode parecer que não, mas estes gastos minam com o salário do mês do trabalhador", aponta o especialista.

Se evitar essas armadilhas ainda não permite que as finanças sejam controladas, o próximo passo é renunciar a alguns momentos de lazer - a ida ao bar depois do trabalho ou a viagens ao Litoral nos finais de semana.

"Se o dinheiro já está curto, freqüentar bares e fazer viagens vai fazer com que a conta corrente entre no cheque especial. Aliás, tenho a impressão que muitos consumidores vêem o limite do cheque especial um salário virtual", diz Diógenes Donizete.




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