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Macbeth' contra a ambição que cria desertos
24/10/2008 | 07:05
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Divulgação


Uma queimada toma conta do 5º andar do Sesc da Avenida Paulista. Sonoplastia que remete ao ruído de uma motosserra e tocos de árvores espalhados pelo espaço de representação abrem o espetáculo Macbeth - Como Nasce um Deserto. Com adaptação de Éderson José, que também assina a direção junto com Arieta Correa, a montagem estréia nesta sexta-feira e o elenco de 12 atores conta com a participação especial das irmãs Barbosa, Poroca (Regina), Maroca (Maria) e Indaiá (Conceição), conhecidas como as ceguinhas de Campina Grande.

"Nessa peça aquele que vê é cego. Cego de espírito", diz a Maroca à reportagem no espaço cênico do Sesc. "Um cego pode ver mais que o que tem olhos, porque vê com o coração", afirma Poroca.

Nessa montagem de Macbeth em vez de bruxas medievais são cantadoras nordestinas as videntes que anunciam o futuro de rei de Macbeth e assim desencadeiam nele a ambição e na trama a tragédia. "As músicas são conhecidas, mudam os versos", explica Indaiá.
Nem todas. Pouco antes do assassinato do rei elas cantam Lua Vermelha, composição de Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes popularizada na gravação de Maria Bethânia.

Mas a presença dessas cantadoras paraibanas - reconhecidas nacionalmente por meio do documentário do cineasta Roberto Berliner e A Pessoa é Para O Que Nasce - não significa uma radical adaptação.

A ambição que provoca desmatamento e assassinatos é só uma remissão. "Não mudamos o texto em nada, a idéia é que o público faça as associações e atualizações a partir de algumas imagens", diz Éderson José.

Como se sabe, a trama original se passa na Escócia e Macbeth, vivido por Éderson nessa montagem, é um general do exército do rei Duncan que luta contra rebelados em disputa pelo poder e os derrota, ao lado do amigo e também valente Banquo.

Porém, no caminho de volta para casa, ambos se deparam com três bruxas que anunciam: "Macbeth será rei e Banquo pai de reis." Tal predição desperta o veneno da ambição no honesto general. Ele se debate, rejeita a idéia que lhe vem à mente, mas cede e, assim, assassina o rei com a ajuda de sua mulher para alcançar o trono prometido. A partir daí começa uma ascensão sangrenta, sempre marcada por ambição e culpa.

Como usurpador que é, Macbeth sente-se frágil, e para manter esse poder ‘ilegal' terá de eliminar pessoas. "Não é o que vem acontecendo no Brasil? As mortes de Chico Mendes (Acre,1988) e da missionária Dorothy (Stang, Pará, 2005) são apenas duas de muitas outras causadas por ambição e disputa de terras. Nós estamos cegos ou vemos como as três videntes?", pergunta Éderson José.

Chamar a atenção sobre a ambição que cria desertos onde antes havia florestas é um dos objetivos dessa montagem. "Não faria sentido simplesmente encenar um clássico. Queremos fazer dele o nosso grito."

Macbeth - Como Nasce um Deserto - Teatro. No Sesc Av. Paulista - Av. Paulista, 119, São Paulo. Tel.: 3179-3700. 6ª a dom., 19h30. Ingr.: de R$ 5 a R$ 20. Até 7 de dezembro.

 




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