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Saramago por Meirelles
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
12/09/2008 | 07:02
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Era muita responsabilidade adaptar o romance Ensaio sobre a Cegueira, para o cinema. E também já eram notórias as recusas do autor, o escritor português José Saramago, em ceder os direitos para produtores que batiam à sua porta. Os ‘nãos' não eram exclusividade para os figurões de Hollywood. O próprio Fernando Meirelles, responsável pela versão do romance que chega hoje aos cinemas da região e de São Paulo, foi um dos que não conseguiu, antes mesmo de Cidade de Deus.

O octagenário intelectual aprovou o resultado, como provou um vídeo em que ele diz a Meirelles, ainda na estréia do filme, no Festival de Cannes, que ficou tão feliz ao terminar de assistir ao longa quanto ficou ao acabar o romance, publicado em 1995, três anos antes de receber seu Nobel de Literatura.

O maior medo de Saramago era de que as metáforas políticas contidas no romance se diluíssem na tela, pensa o roteirista canadense Don McKellar, que, ao lado do colega Niv Fichman, foi o sortudo comprador dos direitos do livro. Seguro da independência da dupla em relação aos grandes estúdios, o escritor cedeu enfim, depois de uma reunião em sua casa, nas Ilhas Canárias, na Espanha.

Começava então a segunda empreitada do filme: pensar em imagens a história da epidemia de cegueira que assola uma população de personagens sem nome ou passado em uma grande cidade também indefinida. A escolha de Meirelles para a direção veio calcada na "energia cinética e nas atuações naturalistas de Cidade de Deus" e a "elegância e o sutil caráter político presente em O Jardineiro Fiel (estréia do brasileiro no mercado internacional)", explica o produtor Niv Fichman.

Com Meirelles veio quase a equipe técnica completa de todos os seus filmes: o diretor de fotografia César Charlone, o montador Daniel Rezende e o diretor de arte Tulé Peake, de Santo André, entre outros. No elenco, outra parceira anterior e amiga pessoal: Alice Braga, que estreara como atriz em Cidade de Deus e que forma com Rodrigo Santoro a dupla tupiniquim que tem emendado vários papéis em filmes internacionais.

Mark Ruffalo e Julianne Moore representam o casal ao redor do qual a história se aglutina: o Médico e a Mulher do Médico, a única personagem imune à cegueira generalizada, mas que finge ter perdido a visão para acompanhar o parceiro na quarentena imposta pelo Estado para tentar, inutilmente, conter o avanço da "doença".

Na mesma ala do casal deposita-se o restante dos personagens, assumidos por um elenco de bastante variação étnica: o Velho da Venda Preta (Danny Glover), a Mulher dos Óculos Escuros (Alice Braga), o Primeiro Homem Cego (Yusuke Iseya) e sua Mulher (Yoshino Kimura).

À medida que a epidemia vai tomando proporção, cresce também a degradação social: saques, estupros,assassinatos. No hospital onde os primeiros cegos ficam trancafiados, também surge um déspota, denominado o Rei da Ala 3 (Gael García Bernal). Uma vez fortalecido, o personagem escraviza os demais: controla a comida, exigindo em troca os poucos recursos à mão e, posteriormente, as mulheres. A personagem de Julianne, ainda escondendo a condição, é a única testemunha da brutalidade.




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