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Vacinação contra o sarampo e a pólio não atinge meta desde 2016

Disseminação de fake news nas redes sociais e desatenção dos pais são tidas como causas

Por Juliana Stern
Do Diário do Grande ABC
23/09/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Apenas São Caetano, entre as sete cidades, atingiu a meta de imunizar 95% das crianças entre 1 e 4 anos contra a poliomielite e o sarampo (alcançou 99% do público-alvo) na campanha deste ano. Embora o período de oferta gratuita das doses nos postos de Saúde tenha sido estendido por três vezes – segue até sexta-feira – a taxa de proteção contra as doenças não ultrapassa 86% do total de munícipes nesta faixa etária (128.748 pequenos protegidos). O cenário já vem sendo observado desde 2016 na região, período em que a cobertura vacinal em relação às duas enfermidades ficou abaixo do ideal, e traz alerta em relação à possibilidade de retorno de males até então controlados.

Nos últimos dez anos, a cobertura vacinal contra a paralisia infantil e o sarampo registrou queda em todas as sete cidades (veja o gráfico ao lado). Em 2007, 99% das crianças foram protegidas contra a pólio, índice que baixou para 85,65% no ano passado. Já em relação ao sarampo, a tríplice viral apresentou redução de 103,18% para 92,06% no período. O cenário também é observado no Estado e no País.

Para especialistas, a baixa adesão às campanhas de vacinação tem dois motivos: a comodidade dos habitantes, que esquecem de se vacinar fora dos períodos de surto, e também à circulação de informações sobre o tema na internet com o intuito de associar a proteção a efeitos colaterais e até mesmo a doenças como o câncer e a Aids. Diante da situação, o Ministério da Saúde lançou, na semana passada, campanha de combate às chamadas fake news. Foram identificados 185 focos de notícias falsas. A estratégia do governo federal é conscientizar os pais, nas redes sociais e via WhatsApp, sobre os riscos do boicote às vacinas.

Exemplo de grupos brasileiros que pregam o perigo das vacinas é a página na internet chamada Vacinas: O maior crime da história, que reúne 1.700 pessoas. O administrador do perfil, Jorge Aramuni, 56 anos, é analista de sistemas. Além de postagens na rede social, ele também abastece canal no Youtube. “Todas as vacinas provocam doenças autoimunes. É um processo silencioso de autodestruição do organismo. Os sintomas podem aparecer depois de décadas de tomada a vacina”, disse.

A professora de Alergia e Imunologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Anete Sevciovic Grumach ressalta que não se pode associar a baixa cobertura vacinal apenas à existência dos movimentos anti-vacina, no entanto, considera preocupante a forma como os boatos são compartilhados e aceitos pela população. “Não existe nenhum estudo que comprove este tipo de resultado”, afirma. Ela, inclusive, desmente alegações que circulam pela internet. “Vacinas não causam doenças. Elas não contêm o vírus vivo e nem células de feto, por isso, não podem causar a doença que buscam imunizar. Isso é uma grande besteira.”

O uso do mercúrio em algumas vacinas como agente conservante, caso da tríplice viral – que protege contra o sarampo, a parotidite e a rubéola – , também é alvo dos grupos contrários à imunização. No entanto, a especialista da FMABC rechaça as críticas. “São quantidades extremamente baixas, não o bastante para fazer mal a alguém.” O volume de mercúrio usado nas doses é de 25 microgramas por 0,5 mililitro.

 

Medo de reações motiva 'boicote' de pais

O medo de possíveis reações pós-vacina é a principal preocupação dos pais que ‘boicotam’ as campanhas de imunização. Esse é o caso de Rose (nome fictício), afroempreendedora de Diadema e mãe de três filhos: duas meninas, uma com 14 anos e que tomou todas as as vacinas do calendário; outra de 5, que nasceu em casa e nunca foi imunizada; e um menino de 6, que recebeu as proteções na maternidade e até o segundo mês de vida.

Rose considera que a filha que nunca foi vacinada é a mais saudável. “Sempre disse que os vacinaria a partir dos 5 anos, mas devido à saúde maravilhosa que eles têm, tenho receio de que a vacina seja tóxica para o organismo. Fui contra o sistema e até a minha família. As pessoas acham que a vacinação é salvadora. Eu acho que faz mais mal do que bem.”

“Nunca tive qualquer garantia de que eles não fossem desenvolver alguma doença. Lembro que as primeiras crises alérgicas da minha filha mais velha foram logo após as vacinas aos 6 meses de vida.” No caso de Rose, a escolha foi acompanhada por mudança de vida. “Amamentei os mais novos até depois dos 3 anos e, até o 6 meses, a amamentação era exclusiva.”

Em relação a doenças como sarampo e febre amarela, evitadas pela imunização, Rose admite medo de os filhos estarem vulneráveis. “A falta de saneamento básico e a falta de boa alimentação são as principais causa de surtos de doenças, não a falta da vacina”, acredita.

 

Administrações investem na busca-ativa para conscientizar

Diante do cenário, prefeituras da região traçam estratégias para ampliar a cobertura vacinal.

Em Santo André, as doses passaram a ser ministradas não só nas unidades de Saúde, como também em bairros onde há menor adesão, em creches, igrejas, casa a casa em Paranapiacaba e Parque Andreense e associações de bairro.

Em São Bernardo, as cadernetas dos 82 mil alunos matriculados nas 180 escolas municipais foram requisitadas aos pais para avaliação detalhada pelos profissionais da secretaria de Saúde.

Diadema também vem desenvolvendo a busca-ativa, vacinação nos domicílios e nas escolas. Mauá conta com agentes de Saúde atendendo nas creches municipais e Ribeirão Pires tem intensificado a divulgação da campanha nas unidades escolares do município. “Essas são doenças perigosas. O sarampo, inclusive, pode matar. A vacinação é o meio de prevenir essas doenças”, destacou a secretária de Saúde de Ribeirão, Patrícia Freitas.

 




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