Cultura & Lazer Titulo
Concretos em cartaz
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
17/04/2007 | 07:01
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Para ficar num paradigma estético, é arte aplicada. Para ficar no preconceito arraigado, é design (entendido neste caso como uma separação formal entre arte pela arte e arte útil). Entre a arte e o design, o cartaz sobreviveu no século XX como meio de informação visual e de divulgação de movimentos políticos e estéticos. Para pôr novamente em discussão a função artística do design gráfico, a mostra Gráfica Suíça: Cartazes abre nesta terça-feira ao público no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

O cartaz é a expressão do racionalismo estético nas artes gráficas. O pintor Toulouse-Lautrec (1864-1901) não era designer, mas pintou cartazes na França. As telas do holandês Mondrian (1872-1944), grelhas de quadrados coloridos em cores primárias, inserem no modernismo o rigor racional e geométrico, mas inspiraram também o design gráfico publicitário. Estas fusões entre arte e design tiveram leituras distintas no século XX, e colaboraram para o surgimento de muitos conflitos entre as funções da arte e do design, tido como mais utilitário e comercial, e menos artístico.

Tais conflitos tiveram origem a partir da Bauhaus, escola alemã (1919-1933) criada pelo arquiteto Walter Gropius para ser um centro de artes, design e arquitetura. Abrigou esquerdistas, foi perseguida pelos nazistas e influenciou escolas artísticas do ocidente.

Max Bill (1908-1994) foi um de seus alunos, destacando-se em design. Artista suíço, foi arquiteto, pintor e escultor (na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, ganhou o grande prêmio com a escultura Unidade Tripartida), mas fez cartazes também. Dois deles estão na mostra do Instituto Tomie Ohtake, organizada pelo Museu Basler Plakatsammlung (Museu do Cartaz da Basiléia).

Bill abraçou o conceito de arte concreta e foi decisivo no desenvolvimento do concretismo no Brasil. Influenciou artistas como o andreense Luiz Sacilotto, Waldemar Cordeiro e Geraldo Barros, e o design gráfico de Alexandre Wollner. Contudo, ganhou inimigos ao criticar a arquitetura moderna brasileira (cheia de “individualismo exagerado”), além de uma resposta do arquiteto Lucio Costa, que o chamou de designer “delineador de formas”.

Além das obras de Bill, cerca de 100 cartazes exemplificam o swiss style, forma radical de design surgida no pós-guerra, com designers formados a partir de conceitos da arte concreta e do construtivismo, e que por isso dispensam quase sempre em cartazes o uso de imagens figurativas.

O racionalismo estético dessa escola suíça atende pelo rigor no uso de formas geométricas e gráficas, fotos em preto e branco, uma única tipologia. Müller Brockmann, da Escola de Zurique, e Karl Gerstner, da Escola de Basiléia, foram os mais notórios representantes. Nas obras destes designers destacam-se o ortogonalismo, fotos retangulares, figuras geométricas, faixas e linhas retas verticais e horizontais, tipografia sem serifa, da qual os caracteres mais comuns são da família Helvética, referência à gráfica do país. Também rigorosos na estética, Roland Hess relê o significado médico-assistencial que a bandeira da neutra Suíça representa, e Stephan Bundi ‘vende’ o pronto-socorro humanitário da Anistia Internacional. Em ambos, a conversão do design publicitário em funções artísticas, legitimada nesta mostra de cartazes.




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