Três rapazes pulam o muro da casa. Vinte minutos depois, saem, um deles com um saco preto nas costas. Outro leva uma escada. O que sobra observa os arredores, alerta. O que ele não sabe é que também está sendo observado por uma das 26 câmeras instaladas por Diadema. De uma central, guardas civis vêem tudo. Pelo rádio, contatam os guardas de plantão na Unidade Básica de Saúde do bairro Eldorado. Ao meio-dia de quarta-feira, os três estavam presos, no 4º Distrito Policial da cidade.

Os rapazes que estrelaram o filme são Francisco Carneiro de Oliveira, 19 anos, e dois adolescentes, de 16 e 14 anos. O mais velho tem passagem por porte de drogas. Os três confessaram a motivação do crime aos guardas que fizeram a prisão: comprar drogas. Dentro do saco preto de lixo, os três levavam coisas miúdas, como panelas e cerveja. Na mão, a escada, que usaram para fugir.

A proprietária, que não estava em casa na hora do crime, não sabia da existência da câmera, mas aprovou. “As câmeras funcionam muito bem, sou totalmente a favor”, disse a mulher, que teve a residência invadida dois dias seguidos. Terça-feira, ela foi amarrada por quatro homens encapuzados e armados. E ameaçada: se chamasse a polícia, eles voltariam. Os criminosos levaram dinheiro, DVD, videogame, entre outras coisas. Só sobrariam mesmo as miudezas para serem roubadas no dia seguinte. Não se sabe ainda se pelos mesmos criminosos.

O primeiro crime não foi visualizado pela câmera, segundo a guarda. A corporação verificou no horário apontado pela vítima e não encontrou nenhuma anormalidade. Possivelmente, o equipamento estava virado para outra direção. As câmeras têm rotação de 360 graus. Algumas vezes, são programadas para girar automaticamente. Quarta-feira, o que chamou a atenção da guarda que descobriu o furto foi o fato de os rapazes estarem correndo. “Primeiro, pensei que estavam atrás de pipa. Porque, quando eles estão correndo, ou estão atrás de pipa ou roubaram alguém”, comenta a guarda Aldeci Durões Guedes, 48 anos, dois de corporação.

Desconfiada, a guarda não perdeu os jovens de vista. Depois que pularam o muro e voltaram com um saco cheio, teve certeza de que se tratava de furto. Há um ano, a guarda faz o trabalho de monitoramento. Diz que se acostumou com o sistema moderno, que até agora custou R$ 1,6 milhões. Cada câmera instalada sai por volta de R$ 25 mil. O equipamento canadense capta imagens de uma distância média de 1,2 km e é capaz de, com um zoom de alto alcance, visualizar os mínimos detalhes. O sistema grava até 40 dias seguidos.

Para este ano, a Prefeitura pretende instalar mais quatro câmeras. Até o fim do mandato do prefeito José de Filippi Júnior (PT), em 2008, a cidade deve ter cerca de cem câmeras. O que demandará um investimento de aproximadamente R$ 4,5 milhões. Parte da verba virá de parcerias com a iniciativa privada.

A secretária de Defesa Social da cidade, Regina Miki, afirma está satisfeita com os resultados do sistema de monitoramento. “É um instrumento trabalhando na inibição de crimes como este. No mês de maio, nossas câmeras fizeram nove flagrantes”, conta. Em uma das ocasiões, um seqüestro foi evitado, afirma ela.

As câmeras sempre são instaladas em bairros onde há maior criminalidade, como o Eldorado, Serraria, Inamar, Jardim Marilene. “Antes de implantar o equipamento, verificamos as áreas onde há maior necessidade por meio do mapa da criminalidade”, afirma Regina Miki.

Apesar de estarem em lugares vulneráveis socialmente, as câmeras nada têm de vulneráveis. Estão de 15 a 45 metros de altura e são blindadas, a prova de balas calibre 9mm. Talvez por isso não tenham sido roubadas ou destruídas até hoje. Segundo Regina Miki, o equipamente é objeto de desejo de muita gente. “Temos pedidos de vereadores e moradores para instalar o equipamento em seus bairros. Mas sempre damos a mesma resposta: nosso critério é puramente técnico”.