Para realizar seu trabalho, iniciado em 1998 e concluído este ano, Souza entrevistou 80 catadores e aproveitou 34 depoimentos. Ele conta que na década de 1940 Santo André já possuía catadores, que ficavam em lixões. Mas os carrinheiros só começam a se tornar mais comuns a partir dos anos 80. “Eles inauguram o mercado da coleta seletiva em Santo André.”
A maioria é migrante, que chegou ao Grande ABC nas décadas de 1980 e 1990, foi atingido pelas ondas recessivas de desemprego contínuo e não conseguiu lugar no mercado de trabalho formal. “Alguns até tinham emprego, mas perderam, e outros viviam de bicos na construção civil.”
Parte deles vive na periferia da cidade e tem uma relação familiar: “Mora em barraco, na favela, e cata ferro-velho na vizinhança”. O outro grupo perdeu os vínculos familiares. “São pessoas mais sujeitas à droga, álcool. Vivem de maneira degradada.”
O professor diz que faltam políticas públicas para resgatar essas pessoas, que ganham “R$ 5 por dia” para fazer “trabalhos anacrônicos, incompatíveis com uma economia avançada, ligada pela Internet e outros avanços científicos”. Esses trabalhadores, segundo o pesquisador, representam a ponta econômica mais fraca de uma longa cadeia de alta lucratividade.
Souza defende a inclusão do catador no processo de coleta seletiva implantado na cidade. Quando a Prefeitura contrata uma empresa para fazer a coleta seletiva, mantém a economia centralizada, explica o professor. “Santo André poderia ter feito como a Prefeitura de Oviedo, na Espanha, que, em vez de contratar uma empreiteira, colocou essas pessoas no mercado formal de forma organizada, descentralizando a distribuição de renda.”
Os caminhões dessa coleta seletiva, sugere o professor, poderiam ser coloridos. “Certamente gaveria uma adesão maior da população. Os moradores têm uma relação de sociabilidade e solidariedade com os catadores, embora também haja pessoas que os consideram apenas vagabundos.”
Emoção – Souza revela que o momento de maior emoção, durante a elaboração de sua tese, ocorreu quando ele entrevistava um catador na avenida dos Estados: “Ele estava me contando como era sua vida na roça e fazia uma comparação com a atividade de catador. Ele sabia verbalizar o que sentia e, em sua leitura, ele achava que tinha se tornado um animal, que vivia de sua força física. Um homem-cavalo. Ele começou a chorar quando refletiu sobre isso.”
Mesmo assim, Souza não utilizou, em seu trabalho, os termos “homem-cavalo”, nem “trabalhador informal” para se referir aos catadores. “Procurei caracterizá-los como pertencentes a uma categoria específica de trabalhadores”.
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