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Entenda o que está rolando no Japão
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
03/04/2011 | 07:00
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Desde o terremoto seguido de tsunami que atingiu o Japão no início de março, a maior preocupação é a consequência causada pelo desastre natural: o vazamento de radiação de quatro usinas em Fukushima. Mesmo após o desligamento das usinas, cerca de 4% do calor gerado no período de funcionamento, por causa de falha na refrigeração do reator, causou problemas que levaram à contaminação da região.

Ok, até aí já ouviu falar nos noticiários. Mas tem ideia do que se trata? Radiação é a emissão e propagação de energia. A radiação vem de átomos de elementos - como urânio, rádio, tório, polônio, entre outros - que são instáveis e, por isso, estão em constante desintegração, liberando energia por meio de partículas ou ondas eletromagnéticas. Um dos tipos de emissão dessa energia é chamado de radiação ionizante, pois modifica (retira elétrons para formar íons) o meio por onde passa, incluindo o organismo humano.

Acontece que estamos acostumados a receber radiação todos os dias (em exame de raio X, por exemplo). E por que tanta preocupação no caso do Japão? Tudo depende da energia liberada. A emitida por materiais das usinas nucleares (no caso japonês, os produtos da fissão do urânio) possui energia elevada, proveniente da desintegração dos núcleos dos átomos (energia nuclear).

Os produtos de fissão podem se espalhar dependendo das condições meteorológicas, como direção e velocidade dos ventos, temperatura, chuvas, atingindo então o ar, o solo, a vegetação, os cursos d'água.

Se entrar em contato com os humanos, via inalação, ingestão ou pele, podem danificar nossas células, afetar o material genético (DNA) e até provocar morte celular. Doses muito altas podem causar dano na medula óssea, no trato gastrointestinal e sistema nervoso central, podendo levar à morte. Além disso, podem aumentar o risco de desenvolvimento de câncer. Este efeito é tardio e vai se manifestar anos após as doses terem sido recebidas.

Todos temem uma repetição do que ocorreu no acidente na Usina de Chernobyl, Ucrânia, em 1986, que causou oficialmente a morte de 45 pessoas e deixou milhares de doentes. Nesse episódio, o reator da central nuclear sofreu explosão química, liberando nuvem radioativa que contaminou o meio ambiente, pessoas e animais.

O governo japonês está tomando todas as medidas de segurança possíveis para que as partículas não se espalhem. Isolou área de 30 quilômetros de raio e equipes preparadas e protegidas trabalham no local, evitando que a contaminação ambiental se espalhe e aumentem os riscos para a população.

 

Pode trazer benefícios - Quando controlada, a energia da radiação pode ser usada em vários procedimentos. Tirando o uso condenável para fabricar armas nucleares, serve para produzir energia. Como o Japão tem pequena área territorial, população grande e limitados recursos naturais, não pode dispensar usinas nucleares para gerar eletricidade. No fim de 2010, estavam em funcionamento 54, gerando em conjunto 38.633 MW elétricos, o que corresponde a 29% da energia produzida naquele país.

Uma das aplicações pacíficas mais importantes é a utilização em tratamentos médicos, como a realização de exames com fins diagnósticos, para matar células de câncer e  esterilizar material hospitalar. Entretanto, os especialistas alertam: exames e tratamentos envolvendo radiação são importantes, mas não dá para abusar. Para se ter ideia, o limite é de 2,4 miliSievert/ano (medida de dose devido à exposição à radioatividade) e, dependendo do raio X, por exemplo, pode liberar 0,02 miliSievert cada. Para não serem afetados, os técnicos em radiologia usam avental de chumbo.

 

E mais

Aparelhos eletrônicos também emitem radiação, a eletromagnética. A diferença é que é um tipo não ionizante, ou seja, a energia é muito mais baixa e não interfere tanto no nosso organismo

 

Há três usinas nucleares no Brasil (uma está em construção), em Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro. Assim como as do Japão, utilizam combustível nuclear à base de urânio

 

* Com a colaboração de Luís Antônio Albiac Terremoto, físico e pesquisador do Centro de Engenharia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP), e de Sandra Bellintani, farmacêutica, bioquímica e pesquisadora da área de radioproteção do IPEN/CNEN-SP




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