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Opositores tentam obstruir UFABC
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
01/09/2005 | 07:51
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Os vereadores da bancada de oposição da Câmara de Santo André obstruíram terça-feira a votação do projeto de lei que doa o terreno de 70 mil m², na avenida dos Estados, ao governo federal. O local foi escolhido para a construção do campus da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) e por muito pouco o repasse da área não foi oficializado.

Houve bate-boca e troca de acusações entre os parlamentares e a discussão sobre o tema, que teve de ser adiada, continua na sessão de quinta-feira do Legislativo. Os que não são petistas se dizem "desprestigiados" por não terem participado da escolha do endereço e acusam os governistas de empurrarem o projeto "goela abaixo".

A base de apoio ao prefeito João Avamileno (PT) afirma que os colegas de oposição tentam colher frutos políticos com a polêmica. Enquanto a casa troca farpas, o MEC (Ministério da Educação) espera que a doação seja aprovada para iniciar o concurso de escolha do projeto arquitetônico para a futura universidade.

"Ninguém é contra a UFABC. Mas se precisamos aprovar a doação de um terreno, precisávamos ter discutido isso antes. As coisas não podem ser feitas desse jeito. Já resolveram o local e querem que a gente aceite goela abaixo. Mas precisamos debater e ver se realmente a área da avenida dos Estados é a melhor opção", sustenta a segunda-secretária da Câmara de Santo André, a vereadora Dinah Zekcer (PTB).

A parlamentar afirma que não votará a favor do projeto de lei antes de obter informações mais detalhadas sobre o local e o impacto que a construção de uma universidade pode causar nos arredores do terreno, localizado numa área residencial, de classe média e pouca movimentação noturna. "Obstruímos em forma de protesto. Isso não é brincadeira. Nós representamos uma parcela da população e sequer fomos ouvidos antes da escolha", protesta.

Um fato específico melindrou os vereadores da oposição. Em julho, quando o MEC apresentou o projeto acadêmico da UFABC em Brasília, uma espécie de cartilha foi distribuída com a descrição do perfil da universidade. No material já constava o endereço da futura instituição e afirmava que o prédio, com capacidade para 20 mil alunos, seria erguido na avenida dos Estados. Mas o projeto de lei que doa a área ao governo sequer havia chegado à Câmara Municipal. Nem o ministério, nem a Prefeitura, acharam que teriam problemas para aprovar a medida. Tanta certeza e confiança irritou quem bate de frente com o prefeito João Avamileno.

"Santo André não é como Brasília. Lá, qualquer projeto do presidente Lula passa. É tudo comprado e acertado. Mas aqui não é assim. O legislativo tem de ser respeitado. Não vamos aceitar essa imposição. Queremos mais informações. Se forem sensatas e convincentes, podemos aprovar a doação. Mas pode haver alternativas melhores de terreno", diz o líder da bancada de oposição, Marcos Medeiros (PSDB).

Em novembro do ano passado, o prefeito de Santo André sugeriu o terreno da avenida dos Estados para a construção da universidade. Em visita a Santo André, há um mês, comissão nomeada pelo MEC para detalhar a implementação da instituição aprovou a área. O início das aulas está previsto para o próximo semestre, e os primeiros estudantes seriam instalados num prédio provisório, alugado até que o campus fosse concluído.

No último dia 2, Avamileno entregou o projeto de lei à Câmara. O presidente da Casa, Luiz Zacarias (PL), disse na ocasião que não haveria empecilhos para a rápida aprovação. Quarta-feira, o discurso era menos otimista. "Os vereadores têm dúvidas que precisam ser esclarecidas. É um direito legítimo. Não se trata de guerra política. Depois dos esclarecimentos, a doação deve ser aprovada", avalia.

Representantes da Prefeitura se reúnem com os parlamentares para responder aos questionamentos do Legislativo. O líder do governo na Câmara, Antonio Leite (PT), acha que terá condições de emplacar a primeira votação ainda nesta quinta-feira. A segunda e última discussão ficaria para a próxima terça-feira. Dos 21 vereadores, 12 votam com o partido. Para que seja aprovada, a doação precisa de 14 votos a favor. "Só nos faltam dois votos. Estamos mobilizados. Não há mais o que discutir. Todos eles já têm informações suficientes. Deveríamos votar em consenso, dada a importância da matéria", sustenta.

Outra petista, a vereadora Heleni de Paiva (PT), diz que o projeto deve entrar em votação mesmo que o governo não tenha a maioria dos votos. "Assim, todos vão saber quem está atrapalhando a aprovação de um projeto tão importante para a cidade. Se ninguém tem dúvidas sobre quão relevante para Santo André é esta universidade, então vamos votar. Eles (oposição) querem usar a educação para fazer política", alfineta.




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