Economia Titulo Faturamento
Comércio da região perde com jogos da Seleção

Em dia de partida do Brasil, movimento diminui até 90%
nas lojas do Grande ABC; faturamento mensal cai 40%

Carolina Lopes e Paula Cabrera
02/07/2010 | 07:00
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Ao contrário da Seleção Brasileira, o comércio do Grande ABC tem perdido nos dias de jogos da Copa do Mundo. Com clientes correndo para acompanhar as partidas, o movimento cai e prejudica o faturamento em até 90% a cada dia em que o time canarinho entra em campo. No mês, os lojistas reclamam que a queda nas vendas pode chegar a até 40%.

O Diário percorreu algumas das principais ruas de comércio popular da região e constatou que a reclamação é generalizada. "O movimento fica péssimo. No jogo de segunda-feira não tivemos venda nenhuma", reclama Cíntia Poltronieri Bolgar, dona de uma loja de roupas infantis na Rua Visconde de Inhaúma, em São Caetano.

Segundo ela, o prejuízo é maior quando a partida é às 15h30. "Bem na hora de maior movimento temos que fechar. O prejuízo chega a 90% em dia de jogo e, no mês, calculo queda de 40% no faturamento."

Segundo a ACSP (Associação Comercial de São Paulo), o movimento cai 40% duas horas antes e duas depois da partida e chega a incríveis 97% enquanto a bola rola. "Estimamos isso com base nas consultas aos órgãos de crédito SPC/Serasa, levando em consideração o mesmo dia da semana anterior", explica o superintendente institucional da entidade, Marcel Solimeo.

O primeiro setor a sentir a queda, de acordo com o economista, é o ligado às compras de impulso, como sapatos, livros e cds. "Realmente atrapalha muito. Antes do jogo, as vendas diminuem de 40% a 50%. Depois, a queda chega a 70%", conta Vladimir Teixeira, gerente de uma loja de calçados em Mauá.

Solimeo completa, no entanto, que quem trabalha por conta sente primeiro o reflexo da queda do consumo. "Quem ganha por aquilo que trabalha, como manicure, pedicure, taxista, salão de beleza também tem se queixado disso", aponta.

É o que acontece com Marcelo Hessel, taxista há 13 anos em São Bernardo. "O lucro cai mais de 50%. Estou torcendo para a Copa acabar logo, porque quanto mais o Brasil ganha, mais a gente perde."

O setor de serviços é um dos mais afetados. Com a correria para chegar a tempo de assistir aos jogos, ninguém se preocupa em abastecer o carro. "Para se ter ideia, em dia normal passam mais de 50 veículos no posto em 90 minutos. Já em dia de jogo da Seleção, cai para menos de cinco", estima o gerente de um posto de combustíveis em São Bernardo, Márcio Pedro da Silva.

O faturamento do local também fica prejudicado. "As vendas caem em torno de 30% a cada dia de jogo. No mês, devemos fechar com queda de 35% a 40%. Espero que o Brasil traga o hexa, senão o prejuízo será bem maior", brinca o gerente.

Uma grande rede de lojas de departamento confirma as perdas. De acordo com estudo da empresa, as vendas despencam 70% em dias de jogos.

Já o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo do Campo), Valter Moura, contesta a reclamação dos lojistas. Segundo ele, a estimativa do segmento é de que as vendas cresçam cerca de 20% no período.

"Mesmo parando com os jogos, recupera-se isso no dia seguinte e vende-se mais porque a satisfação da vitória acelera o consumo. O prejuízo é relativo, porque depende do ramo de atividade", argumenta.

Bares e lojas sazonais comemoram

Lojas com itens ligados ao Mundial, como as de artigo esportivo e comércio popular fazem parte do segmento que passa incólume as partidas. A Univinco (União dos Lojistas da 25 de Março) diz que não há motivos para reclamação. Com base forte em itens que fazem alusão ao Mundial, a entidade registrou 40% maior saída em junho. "Há perdas normais, mas não significativas. O volume de vendas tem sido alto para o mês, então isso compensa", avisa a nota da associação.

"As vendas de camisetas e itens do Brasil crescem, assim como bebidas, que também apontam incremento, como se estivéssemos no verão", atesta o economista da Fecomércio-SP (Federação do Comércio de Bens e Serviços), Fábio Pina.

Já o setor de serviços, especialmente bares e restaurantes, vivem situações opostas. "Depende de onde fica esse estabelecimento, o movimento pode cair demais, se for perto da empresa, por exemplo, ou crescer. Varia conforme o horário do jogo e se o consumidor quer fazer festa com os amigos", comenta Pina.

Os jogos que ocorrem às 15h30 são os mais temidos dos lojistas. Com a decisão de fechar lojas e soltar funcionários mais cedo, é quase impossível retomar o ritmo de vendas após a partida. "Mesmo quando os jogos acontecem de manhã é difícil retomar os patamares. Os números só começam a melhorar por volta das 16h30", acredita Solimeo.

Aliás, os centros comerciais também são muito afetados com o Mundial, segundo integrantes do setor. "Mas se o shopping perde mais movimentação, outra parte abocanha isso, como bares e restaurantes, que tem aumento de 35% no movimento", atesta Pina.

Na região, o Mauá Plaza Shopping informa que o centro de compras tem queda de público e vendas de cerca de 30%. O Shopping ABC, em Santo André, e o Metrópole, em São Bernardo, não puderam passar dados porque estão em período de abertura de capital. Já o andreense Grand Plaza e o Praça da Moça, em Diadema, não se manifestaram até o fechamento desta edição.

TVs, cerveja e carne fazem redes faturarem 40% mais com evento

Supermercados e redes varejistas de eletrodomésticos são os únicos do segmento que podem rir à toa com o Mundial. Mesmo com o fechamento das lojas, o segmento não registra oscilação negativa nas vendas por conta do Mundial. Ao contrário, contabiliza movimento ainda maior.

Com a TVs de tela fina virando febre entre os consumidores brasileiros, a expectativa do setor é fechar o mês de junho com alta de 40% no faturamento. Em visita às lojas da região, o Diário constatou a elevação na saída dos itens.

"Antes do jogo, vendemos quase metade do estoque", conta vendedora de grande atacadista regional que prefere ter sua identidade preservada.

Durante a entrevista, as mesas dos atendentes do setor permaneceram cheias. "As TVs de 42 e 32 são as mais procuradas. Temos apenas duas em estoque", observa a vendedora.

Supermercados também comemoram o Mundial. A venda de carnes e cervejas registram saída até 20% maior. E mesmo as compras convencionais seguem em alta.

"Mesmo quem não vai fazer festa no dia de jogo, se precisar ir ao mercado, vai mudar o dia, a hora, mas vai voltar para fazer essa compra", justifica Marcel Solimeo, economista-chefe e superintendente institucional da ACSP (Associação Comercial São Paulo).

Liberação de funcionários causa prejuízo para empresas

Não é só o comércio que sente a fatia negativa do fanatismo brasileiro pela Seleção canarinho. Indústrias e empresas, que têm liberado profissionais durante os jogos, registram queda na produção.

Liberar os funcionários para vibrar pela Seleção Brasileira custa à unidade são-bernardense da Volkswagen 500 carros a menos nos dias de partida. De acordo com o diretor de recursos humanos, Nilton Júnior, os metalúrgicos são responsáveis por produção diária de 1.300 veículos.

Em uma das partidas da primeira fase do Mundial, a montadora armou estrutura para que 11 mil funcionários acompanhassem o jogo numa área preparada com dez telões, cadeiras, lanche e médicos para atender aqueles que se exaltassem mais. A compensação ocorre pelo sistema de banco de horas, mediante acordo prévio com o sindicato da categoria.

Há também quem prefira liberar funcionários, mas já com o acordo de que o tempo perdido seja reposto, caso da GM de São Caetano. A fábrica não dá expediente no turno do jogo - por exemplo, nas partidas das 11h30, o grupo da manhã não trabalha, enquanto o mesmo ocorre com a turmas da tarde nos jogos das 15h.

No entanto, a companhia não prevê queda na produção, já que os profissionais acordaram que devem repor diariamente 20 minutos para evitar perdas para a montadora. (Colaborou Alexandre Melo)




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