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Prédios vazios na área central; barracos lotados na periferia
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
10/03/2007 | 20:56
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Há 32 anos o edifício Rosalina, na Rua Coronel Fernando Prestes, é a casa de Cemar Soares, 58. Faz quatro anos que o zelador vive só no conjunto formado por dois prédios, um comercial, de nove andares com 14 salas, e outro residencial, de oito pavimentos e 15 apartamentos.

Uma reforma – que nunca aconteceu – motivou o proprietário a retirar todos os inquilinos de lá. Cemar não sabe explicar por que nunca mais os apartamentos foram alugados. “Vai saber o que o dono pensa.”

Apesar dos amigos que perdeu no condomínio em que passou parte da juventude, para ele tanto faz se o dono alugar ou não o prédio novamente. Não é ele quem paga o IPTU, os dois vigias, a água ou a energia elétrica do local.

O prédio antigo, de apartamentos espaçosos de 100 m² cada, dois quartos, cômodo para empregada, banheiro e sala, fica perto de tudo. Na mesma metragem de seis apartamentos do imóvel vazio no Centro de Santo André, se espremem 20 famílias, no Jardim Irene 4, ocupação feita pelo movimento de moradia da cidade.

No barraco que Miriam Francisca Reis Tavares divide com seis parentes, o espaço no qual se movimenta o zelador Cemar é impensável. A família mora num pequeno quarteirão, sem qualquer saneamento básico, num casebre de madeira que, para cair, basta empurrar com a mão. A antiga casa estava para despencar também, mas era do morro, no Jardim Irene 5. Agora pelo menos não há risco de desabamento.

Na vizinhança, a maioria das moradias conta com uma só cama para toda a família. Gente desempregada, que fica em casa o dia inteiro, suando no calor e morrendo de frio no inverno.

O sonho de morar em um castelo imenso, como o da Coronel Fernando Prestes, nem passa pela cabeça de ninguém por ali. Os desejos são mais modestos, embora difíceis de se realizar. Água limpa, esgoto, ônibus, escola para as crianças. Essas coisas existem, em algum lugar, desconfiam os moradores do pior quarteirão do Irene 4.




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