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Região registra oito mortes nas enchentes em dez anos

Consórcio, que contratou empresa para identificar
alagamentos, não comenta mapeamento do Diário

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
19/01/2016 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Na última década, ao menos oito pessoas morreram em enchentes na região. O problema, que pode acabar em tragédia, é conhecido da população, como o Diário mostrou no domingo com o ‘mapa das enchentes’. Porém, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, criado em 1990, segue a passos lentos para resolvê-lo.

Em julho a entidade contratou a empresa KF2 Engenharia e Consultoria, por R$ 1,2 milhão, para mapear os pontos de risco. As respostas que o órgão busca descobrir foram abordadas pelo Diário e tiveram grande repercussão. Foram mais de 35 mil visualizações no Facebook e inúmeras manifestações de leitores. O Consórcio, porém, ignorou os dados (veja mais ao lado) e, consequentemente, aqueles que perderam a vida.

Em novembro de 2006, Marco Antônio Pessoa da Silva, 33 anos, tetraplégico e morador do bairro Demarchi, em São Bernardo, morreu afogado após a parede de seu quarto ruir com a força da água.

Em fevereiro de 2009, a vítima foi Daniel Junqueira Cremon, 20, de Americana, no interior do Estado. Ele foi eletrocutado por fio de poste que entrou em contato com a água em enchente na rua do Terminal Leste, em Santo André. O andreense Rubesnei Aguiar, 45, tentou ajudar, mas também foi atingido e não resistiu.

No mês seguinte, o coração do advogado José Mendes Moreira Filho, 74, não aguentou ao ver a água subindo na Avenida dos Estados com a Rua Pedro Alexandrino, no bairro Fundação, em São Caetano. Ele sofreu infarto. O veículo ficou submerso.

Em janeiro de 2011, Antônia Avelaneda Grande, 63, morreu afogada dentro de sua casa no Jardim Zaíra. O mesmo aconteceu em fevereiro de 2013 com Edmilson Martins de Queiroz, 57, após tentar ajudar amigos que tiveram a residência atingida no Jardim Santa Cristina, em Santo André.

Em 2014, um homem foi levado pela correnteza de córrego entre a Rua Fábio Eduardo Ramos Esquivel e a Avenida Piraporinha, em Diadema.

Agora, a mais recente família a chorar a perda de um ente querido é a do operador de máquinas Willians Florentino Sanchez, 32 anos, de Mauá. No dia 9, ele voltava do trabalho de bicicleta quando foi surpreendido pelo transbordamento do piscinão do Paço.

Entidade se cala sobre reportagem

O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC nada disse sobre o mapeamento de 39 pontos críticos de enchentes apresentado pelo Diário no domingo. A entidade paga R$ 1,2 milhão à empresa KF2 Engenharia e Consultoria pelo levantamento e propostas de soluções regionais, que integrarão o Plano Regional de Macro e Microdrenagem. A contratada, por enquanto, está de férias até o dia 20 e o documento deve ser entregue apenas em março, no fim do verão, justamente o período mais chuvoso do ano.

O Diário solicitou ontem entrevista com porta-voz do Consórcio para comentar sobre quais ações são executadas enquanto o plano encomendado não é concluído. Em nota, a entidade disse que não seria possível atender ao pedido.
Além do mapeamento, o documento do Consórcio trará metas de curto, médio e longo prazos para as ações estruturais de controle de cheias e orçamentos estimados de obras para as principais iniciativas.

A professora Gisele Cruz Sanchez, 33 anos, viúva de Willians Florentino Sanchez – vítima fatal da enchente no dia 9 –, carrega com ela dor e revolta. “Os pontos de enchente estão mapeados faz tempo. O que precisa é tomar providências, algo para já, antes que tragédias aconteçam novamente, pois todo ano é igual.” 




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