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Endometriose atinge cerca de 120 mil mulheres na região

Doença ginecológica acomete população feminina normalmente com idade entre 10 e 49 anos e está ligada diretamente à menstruação

Tauana Marin
21/03/2021 | 00:12
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DGABC


Endometriose é uma doença ginecológica que ficou bastante conhecida nos últimos anos e que acomete cerca de 120 mil mulheres no Grande ABC, ou seja, 15% da população feminina de 10 a 49 anos, faixa etária média em que a mulher menstrua, portanto, no seu período reprodutivo. Neste mês, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, também é período de conscientização da doença, sob a bandeira do Março Amarelo.

A endometriose é caracterizada pelo crescimento do endométrio, tecido que reveste a parte interna do útero, em outras partes do corpo. A patologia acomete mulheres em qualquer idade no período fértil, pois está diretamente associada à menstruação.

O quantitativo de mulheres que sofrem da doença no Grande ABC foi feito pelo Diário com base nos dados que constam de levantamento da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), vinculada ao governo de São Paulo. O índice de incidência aplicado é com base na estatísticas dos especialistas, que dizem que a doença afeta até 15% das mulheres. No Brasil, cerca de 8 milhões de mulheres foram diagnosticadas com a patologia e 180 milhões são afetadas no mundo.

Além dos sintomas físicos, a doença pode levar a mulher à infertilidade, sendo esse também um dos pontos que levam muitas delas a descobrirem o problema. Ainda não se sabe ao certo quais as causas que provocam a doença, que não tem cura. “É mais comum que a endometriose apareça entre os 25 e 35 anos, no entanto já tive pacientes com 12 anos e com 60 anos, não havendo regra. Geralmente, a endometriose vem acompanhada de cólicas graves, dor pélvica crônica, por algum período, em torno de seis meses; ou no momento da relação sexual”, afirma Rogers Camargo, ginecologista do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, em Santo André, e coordenador do núcleo especializado em endometriose da unidade hospitalar, que dá suporte à mulher em todos os estágios do tratamento.

O diretor de comunicação da SBE (Sociedade Brasileira de Endometriose), chefe do setor de videoendoscopia ginecológica e endometriose da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), ginecologista e obstetra Marcos Tcherniakovsky completa dizendo que apesar de nove em cada dez mulheres chegarem com o diagnóstico, oito entre dez não sabem definir a doença. “O que pode acontecer também é que a mulher passa com três, cinco médicos diferentes até receber o diagnóstico correto. Até porque outras doenças têm sintomas parecidos, como cistos ovarianos e miomas, por isso a importância de investigar.” O diagnóstico é clínico, com o histórico da paciente e exame físico, além de ultrassom ou ressonância magnética, quando necessário.

A endometriose também pode ter aderência no intestino, bexiga e apêndice. “É por isso que muitas pacientes passam a ter alteração na evacuação, sangue na urina, já que se trata de um processo inflamatório, podendo a dor ser irradiada para as coxas e para o períneo”, identifica Camargo.

O tratamento varia conforme a saúde de cada mulher e seus sintomas. Analgésicos, anti-inflamatórios e anticoncepcional são bastantes utilizados para tratar a endometriose, durando o período em que essa mulher menstruar. Em outros casos, é necessário a operação. “É importante falar que a mulher deve realizar exames periódicos de controle, onde vamos vendo se não há crescimento das lesões nos órgãos afetados. No caso da mulher que queira engravidar, 75% a 85% precisam da cirurgia. A fertilidade depende de paciente para paciente, algumas precisam de tratamento específico para este fim”, explica o médico do Hospital Brasil.

Os dois especialistas da região ressaltam a importância de a mulher com endometriose ter um atendimento multidisciplinar. É recomendada a prática de atividade física, fisioterapia para a musculatura pélvica, além do tratamento com nutricionista. “Há alimentos mais inflamatórios do que outros. Tudo pode contribuir para a qualidade de vida dessa mulher”, reforça Tcherniakovsky.

Dor muscular em período mentrual ajuda a conseguir o diagnóstico

A fisioterapeuta Carina Eiras Borges Janzantte dos Santos, 36 anos, de Santo André, descobriu a endometriose há um ano e oito meses, em julho de 2019. Entre os sintomas estavam dor intensa ao menstruar a ponto de precisar ir, todos os meses, ao pronto atendimento hospitalar para tomar medicação intravenosa. Além de dor abdominal, dor no cóccix, ânsia de vômito, dor ao urinar e ao defecar no período menstrual.

“Tive episódios parecidos quando tinha 15 anos, porém, os médicos em que passava por consulta diziam que eram pedras nos rins. Desconfio que desde aquela época eu já tinha endometriose, mas como tomava anticoncepcional isso era mascarado, e eu só descobri quando parei de tomar para tentar engravidar”, relata a fisioterapeuta.

Carina passou durante um ano em todos os especialistas “possíveis e imagináveis”, quando, em julho de 2019, uma médica do pronto-atendimento viu seu histórico mensal e a encaminhou para especialista em endometriose. “Fiz a videolaparoscopia por robótica em agosto de 2019, me recuperei bem e não tive dores como antes após a cirurgia. Foi tudo muito rápido, entre a consulta e a operação passou um mês apenas. Minha endometriose era extensa e profunda, que não dava mais para esperar, principalmente pela qualidade de vida que eu não tinha.”

A fisioterapeuta conta que, no seu caso, o tratamento todo é focado na tentativa de engravidar. “O que o médico me explicou é que ou eu engravido para ‘curar’ e depois tratar a endometriose ou eu tenho que fazer bloqueio hormonal para não menstruar, já que a menstruação é a alimentação da endometriose.”

A comunicadora Simone Aparecida Celotto Massuda, 36, de São Bernardo, é outra mulher que descobriu a endometriose. Seu tratamento e diagnóstico tem seis anos.

Simone explica que o que chamou sua atenção foi a dor abaixo da costela esquerda durante o período de menstruação. “Mas demorou para eu associar uma coisa a outra, pois devido à localização da dor, eu achava que era algum mal jeito na hora de dormir ou quando praticava esportes ao ar livre. Depois de algum tempo, notei que a dor aparecia somente no período anterior e durante a menstruação.” A descoberta foi na fase adulta, já que durante a adolescência nunca tive cólica. Simone conta que exames pedidos pela médica foram decisivos na conclusão da patologia. “Não fiz cirurgia. Minha médica receitou anticoncepcional e remédios para dores de cólica, já que não pretendo ter filhos.” 




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