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Crianças têm contato com obras de arte
Mirela Tavares
Do Diário do Grande ABC
16/11/2011 | 07:00
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Ataide Alba/DGABC


 

Quando tinha 4 anos, a média de idade dos seus alunos hoje, a professora Alessandra Aparecida das Neves Santana, da Emeief Cidade de Takasaki, no Jardim Alzira Franco, em Santo André, rabiscava em tudo que via pela frente. Do caderno de receitas da mãe às paredes da casa, tudo que ela via virava uma grande tela em branco.

De lá para cá, a arte passou a fazer parte da vida de Alessandra, que não vê recurso mais interessante para atrair e despertar a atenção das crianças para o conhecimento com tanta animação e alegria. Hoje, aos 33 anos, ela senta com eles no chão ou em suas pequenas mesinhas para analisar as obras de Cândido Portinari, Aldemir Martins, Gustavo Rosa, do reconhecido artista Grande ABC, Adélio Sarro, entre tantos outros. De forma interdisciplinar e contextualizada para a idade deles, as atividades fazem parte do projeto pedagógico Espiando por uma janela do mundo.

"A arte é contagiante", justifica Alessandra. Para ela, enquanto algumas têm preferência por disciplinas como Língua Portuguesa, Geografia ou Ciências, a linguagem artística visual é quase que unanimidade. Ela conta que em dia de aula, eles já entram na sala animados. "É tão emocionante ver a qualidade do trabalho de crianças, que dá vontade de sentar e fazer com eles", afirma a assistente pedagógica Lourdes Leonello, de quem Alessandra teve todo o apoio.

Obras como Lavadeiras ou Retirantes, de Portinari, exploram a percepção das crianças sobre assuntos que vão desde a introdução de conceitos de História e Língua Portuguesa até aspectos ambientais.

 

Pais devem estimular trabalhos artísticos

Quem convive com crianças já deve ter passado pela experiência de receber um desenho e não saber o que dizer diante de tantos rabiscos. Em vez de tentar adivinhar o significado daquele traçado e tantas formas geométricas aparentemente sem significado, pergunte claramente o que ela quis expressar.

De outro modo corre-se o risco de frustrar possível artista, como aconteceu com o Pequeno Príncipe, personagem do livro de Antoine Saint Exupéry. Ao perguntar se seu primeiro desenho de uma jibóia digerindo um elefante causava medo, foi questionado por um adulto com pouca imaginação "por que um chapéu faria medo".

Para evitar decepções, é melhor receber o desenho sem discutir análises estéticas e descobrir junto com a criança o que ela quis dizer, como recomenda a professora Alessandra Aparecida das Neves Santana. Durante as reuniões de pais, ela procura alertá-los para não chamar de rabiscos as "obras de arte" dos seus filhos. "No primeiro momento, ele explora o papel, com riscos de um lado para o outro e traços soltos, para em seguida começar a formar figuras, como círculos", conta ela.

A partir daí e dos conteúdos discutidos na escola, as crianças ampliam essa linguagem da arte visual. Elas passam a reproduzir a realidade na tela, no papel ou qualquer outro meio de forma mais parecida como ela é. Os desenhos vão ganhando forma, passando a representar figuras humanas, ambiente doméstico, animais de estimação, a escola, ... E o que parecia um chapéu sem importância se transforma na expressão de uma cena tão marcante para uma criança, como uma jibóia digerindo um elefante.

 

Fauna marinha é descoberta em sala de aula

Antes mesmo de aplicar as atividades para os seus alunos do 1º ano da Emeief Carlos Drummond de Andrade, no bairro Silveira, em Santo André, a professora Camila Coutinho da Silva Teles se viu em situação que classificou de engraçada. Procurou na mente nomes de animais marinhos que conhecia. O primeiro a surgir foi o peixe-boi. Pediu ajuda às colegas: peixe-boi. Fez a pergunta em sala de aula: peixe-boi. Na pesquisa pela internet vinha uma relação maior de espécies e o peixe-boi não saia do ranking.

E não era por mera curiosidade que Camila questionava. Ela foi designada para trabalhar com a turma o tema animais aquáticos, dentro do projeto S.O.S. Ecologia, criado pela escola e desenvolvido pelas 26 turmas da escola.

A partir da experiência, conhecimento e repertório ampliaram. Foram catalogadas mais de oito espécies da fauna marinha: pirarucu, tucunaré, pacu, tartaruga marinha, peixe-abelha, arraia, jacaré do papo amarelo, além do tal do peixe-boi. Para não fundir a cabeça dos pequenos, com idade entre 6 e 7 anos, a professora restringiu a pesquisa aos tipos de nacionalidade brasileira. "Até para falar mais dos animais do Brasil e, como consequencia, sobre as localidades, porque as nossas referências vêm de desenhos como o Procurando Nemo."

As crianças foram levadas para passeio no aquário do Parque Escola do Conhecimento Sabina, em Santo André. No local, puderam conhecer alguns nomes pesquisados e até tocar em arraia. Com o contato, os professores ressaltaram a importância de preservar todo tipo de animal.

Ah! Em tempo: o Nemo, do filme Procurando Nemo, é peixe-palhaço, espécie encontrada no Oceano Pacífico. (Selma Viana)

Projeto S.O.S. Ecologia envolve a todos

Na sala de aula, os alunos da Emeief produziram esculturas e desenhos que faziam alusão ao tema estudado. Tudo o que foi utilizado veio de materiais trazidos de casa, como papel, caixa de fósforo, massinha de modelar, bandeja de isopor com o objetivo de ressaltar a importância da reutilização e reciclagem de embalagens consumidas.

João Vitor Oliveira, 7 anos, foi o que se saiu melhor na produção artística. O menino estuda desenho aos sábados em outra escola. Ele conta que no começo desenhava castelos, monstros e fazia cartões de aniversário. Com essa atividade aprendeu a traçar polvos, tubarões, concha e baú com tesouro, que ele chama de enfeites do mar. Enquanto faz os contornos de um peixe, não deixa de interagir com os três amiguinhos que dividem a mesa com ele. Na dúvida, pergunta sem timidez: "peixe tem nariz?". A amiga responde: "tem nariz e escama também". João Vitor para, pensa... e muda a cor de seu lápis!.

ENSAIO ABERTO - Por fim, a professora Camila pede para que todos se unam e façam uma pré-apresentação da canção que cantarão em evento público: "Jacaré na lagoa, jacaré na lagoa, foi por aqui, foi por ali, foi por aqui, foi por ali".

Quando acaba a apresentação, ela diz: "Agora, para os seus lugares como se fossem uma tartaruga". Os alunos obedecem e se arrastam pelo chão, lentamente. Sim, pais, eles se sujaram, mas aprenderam todas as lições. Para orgulho da professora. (Selma Viana)




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