Interação Titulo
Camila e José

É bom demais poder olhar para os pequenos...

Por Carlos Ferrari
20/03/2013 | 00:00
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É bom demais poder olhar para os pequenos e grandes fenômenos de nosso cotidiano com a consciência de que somos testemunhas legítimas da história. A rotina, o cansaço, os problemas e até mesmo o relaxamento - fruto de situações agradáveis -, acabam na maior parte do tempo fazendo com que nos esqueçamos dessa nossa significativa condição, e talvez por conta disso, acabamos nem percebendo a passagem do tempo.

Existem, porém, aqueles momentos especiais que nos fazem despertar. É como se acordássemos por um chacoalhão, desligássemos o piloto automático que nos conduz ao longo dos dias e, por alguns minutos ou horas, nos colocássemos atentos, fazendo com que nosso cérebro registre, analise, enfim, dialogue com aquela situação que a partir de então ganha local privilegiado em nossas memórias. 

Assim foi para mim o casamento de minha prima Camila, com o agora também primo, José. Me preparei para a cerimônia ainda com o piloto automático do cotidiano ligado. 

Sabe como é: acordar, tomar banho, escovar os dentes, escolher uma roupa bacana, tomar um cafezinho, e pronto, só faltava colocar a filhona na cadeirinha do carro e encarar a manhã chuvosa de domingo para acompanhar a celebração agendada para as 11h.

Já na chácara, preparado para ouvir o padre, o pastor (ou sei lá quem sabe até o juiz de paz) dar início aos trabalhos, vi de repente meu cérebro despertar para uma novidade que merecia atenção. Quem dava início à celebração era uma mulher, que se apresentando como mestre de cerimônia, anunciava a entrada do noivo ao som de uma deliciosa música do Sambô, uma banda que mistura rock e samba com muito swing. 

Criou-se, como que por um passe de mágica, uma atmosfera de alegria e informalidade para aquele ritual, digno de um momento pensado para ser único e marcar a história de duas pessoas que se amam.

A mulher soberana e reconhecida pelo casal como autoridade legítima para conduzir cada passo que marcava a união dos dois protagonistas daquela manhã, brindou a todos nós com um jeito diferente, porém não menos belo de celebrar um matrimônio. 

O casamento dos jovens cheios de amor, que se conheceram por meio de um amigo comum que os apresentou em um bate-papo pelo messenger, me fez pensar e me instigou a compartilhar nesse espaço uma experiência de vida, que devemos ter claro que será cada vez mais frequente. O velho Marx dizia que: "A revolução é o motor da História". Logo, re-evoluir significa encontrar novos meios e possibilidade do "fazer" e do "viver" em sociedade. Trata-se da construção dialética, produto das convergências e incongruências resultantes das interlocuções entre o velho e o novo. 

Há dez anos também casei em uma chácara, tendo entre os padrinhos os queridos Roberto e Nice, pais da noiva que inspirou essa coluna. A celebração foi revolucionária, mesmo tendo padre, marcha nupcial e daminhas de honra, pois para os padrões da época, sair do local formal para tal ocasião já era uma grande novidade. 

E será assim: a cada dia a vida nos convidará a revisitar nossas tradições e mergulhar em meio ao mar das inovações. Felizmente, o que nunca muda e o que nos faz humanos é nossa capacidade de amar.

Assim, me despeço desejando muito amor e sorte aos dois jovens que motivaram nossa conversa da semana.

* Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes). 




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