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‘O Bem-Amado’ faz 35 anos
Por Ana Clara Werneck
Da TV Press
20/01/2008 | 07:03
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Em 1973, plena ditadura militar, Dias Gomes levou ao ar O Bem-Amado, uma adaptação de seu texto teatral Odorico, O Bem-Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte. A história era carregada de críticas à situação política da época. Na fictícia cidade baiana de Sucupira, o prefeito Odorico Paraguaçu tem como grande plataforma de governo a construção do cemitério do município.

Mas, para sua infelicidade, ninguém morre por lá. Para resolver o problema, Odorico, em atuação memorável de Paulo Gracindo, contrata o bandoleiro Zeca Diabo, vivido por Lima Duarte. No fim, acaba sendo o próprio prefeito o defunto que inaugura o cemitério. “Éramos desbravadores, ainda havia tempo de fazer um trabalho artesanal. Foi uma importante etapa da profissionalização da TV”, avalia Milton Gonçalves, que interpretava Zelão das Asas, personagem que no último capítulo realiza seu sonho de voar.

Na cidade, entre as figuras mais importantes estavam a corajosa delegada Donana Medrado, vivida por Zilka Salaberry, que lutava contra as falcatruas de Odorico, e as três irmãs Cajazeira, Dorotéia, Dulcinéia e Judicéia. Eram pudicas senhoras que, sob o pretexto de servir licor de jenipapo ao prefeito, em geral acabavam em sua cama. A interpretação do hilário trio ficava a cargo de Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio, respectivamente. “O conflito amoroso era centrado em pessoas de meia-idade. É muito raro haver papéis tão marcantes na TV para esta faixa”, sentencia Gracindo Jr., referindo-se a Odorico, o papel mais marcante da carreira de seu pai. Na trama, Gracindo Jr. era o jovem Jairo, que fazia par romântico com a bela Gisa, de Maria Cláudia.

Os censores do governo não deixaram passar em branco as críticas de Dias Gomes e proibiram algumas expressões, como “capitão”, usada para se referir a Zeca Diabo, e “coronel”, no caso do prefeito. Além disso, a canção de abertura, Paiol de Pólvora, de Toquinho e Vinicius de Moraes, foi substituída por O Bem-Amado, entoada por um coral. “Ainda temos muitos problemas políticos no País. Se fosse reexibida hoje, a história teria novamente forte impacto”, arrisca Ida Gomes, que também viveu Dorotéia na série homônima, exibida de 1980 a 1984.

Exibida às 22h durante nove meses, O Bem-Amado foi a primeira novela em cores da televisão brasileira. Emiliano Queiroz, que deu vida a Dirceu Borboleta, o ingênuo secretário de Odorico, conta que os atores tiveram de construir os personagens tendo em vista o novo recurso. “Percebi que seria mais real se o Dirceu ficasse com o rosto vermelho de vergonha todas as vezes que fosse humilhado pelo prefeito, por exemplo”, relembra.

Antes de começar a gravar, o ator já sabia que Dirceu estrangularia a esposa, Dulcinéia, quando descobrisse que ela estava grávida de Odorico. Emiliano optou por fazer do personagem não um assassino, mas um homem atormentado que um dia se descontrola. “Ainda hoje o público se lembra deste trabalho. Quando me chamaram para a série, pensei em recusar para não ficar marcado pelo Dirceu. Só me livrei do estereótipo com o Biju de Cambalacho”, admite.

A novela comandada por Régis Cardoso também foi um divisor de águas para Lima Duarte, que fora contratado pela Globo como diretor em 1972. Sua primeira experiência na função, a trama O Bofe, de Bráulio Pedroso, não obteve os resultados esperados. Assim, logo que ela acabou, foi convidado para atuar por uma semana em O Bem-Amado. A princípio, Zeca Diabo seria morto. Mas, devido ao sucesso, ficou até o fim, entrando também no elenco da série como o assessor de Odorico – que ressuscitou no primeiro episódio. “Foi uma das novelas mais ousadas da história da teledramaturgia. Zeca Diabo tem o mesmo destaque de protagonistas meus, como Sassá Mutema e Sinhozinho Malta”, reconhece, referindo-se a seus papéis em O Salvador da Pátria e Roque Santeiro.



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