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Servílio de Oliveira olha o futuro e flerta com MMA
Por Fernando Cappelli
do Diário do Grande ABC
14/11/2011 | 07:30
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Até hoje único medalhista olímpico no boxe brasileiro (bronze,no Jogos do México, em 1968), Servílio de Oliveira, comandou a modalidade por 19 anos na AD São Caetano, mas não escapou do corte brutal que afetou o esporte da cidade no ano passado.

O ex-pugilista, hoje empresário, dedica-se aos estudos e revela a intenção de montar uma equipe de MMA, modalidade que a cada dia ganha mais adeptos em todo o planeta.

O ex-campeão processa São Caetano por direitos trabalhistas, de imagem e danos morais. "Não passo fome, sigo com meu trabalho e com meu estudo (cursa Direito da USCS). Só quero o que é certo", disse o empresário.

Nesta entrevista exclusiva, Servílio fala abertamente sobre o caso, a fase nebulosa e de baixo apelo popular vivida pelo boxe profissional mundial, os novos talentos do País, o boom do MMA e também sobre o pupilo mais famoso Valdemir Pereira, o Sertão, que alcançou a glória de campeão mundial peso pena pela Federação Mundial de Boxe, em 2006, mas logo em seguida foi forçado a abandonar o esporte por um problema de saúde até hoje não revelado oficialmente

 

DIÁRIO - O boxe ainda oference a chance de mudar de vida, como ocorria na sua época de atleta?

 

SERVÍLIO DE OLIVEIRA - Em esportes de contato, o cara tem sempre de ter sede e fome. Almofadinha nunca vai ser campeão. Quem vence nestes esportes mais marginalizados vem da classe média baixa, e mesmo da periferia. Isso nunca vai mudar.

 

DIÁRIO - Você concorda que o boxe profissional está em decadência atualmente?

SERVÍLIO - O boxe perdeu por causa da má programação. Lamentavelmente, os caras de poder no esporte negligenciaram o público. Só queriam dinheiro, casaram lutas desinteressantes e isso acaba com a reputação e o glamour do esporte. A falta de ídolos também pesou. Agora, o MMA está em alta.

 

DIÁRIO -E você promoveria combates no MMA?

SERVÍLIO - Gosto mais da produção e de como é feito, tudo muito luxuoso e profissional. É algo moderno, dificilmente vai sair de moda. Promoveria combates de MMA numa boa. Tenho projeto para 2012, que será montar equipe em parceria com uma academia de jiu-jitsu.

 

DIÁRIO - A nova geração do boxe olímpico brasileiro tem ótimos resultados, com lutadores como Everton Lopes, campeão mundial neste ano. Esta pode ser considerada a melhor de todos os tempos do País?

 

SERVÍLIO - Everton Lopes é o melhor boxeador brasileiro da atualidade, sempre disse isso. Ele treinou algum tempo conosco. Antes ele só fugia do adversário. Agora, encontrou equilíbrio certo e tem padrão de luta muito sólido. Os irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão também têm boas chances, além das atletas do feminino.

 

DIÁRIO - Nos Jogos de Londres no ano que vem é capaz que sua marca de único medalhista olímpico brasileiro no boxe (bronze no México, em 1968) seja quebrada. Como é isso para você?

 

SERVÍLIO - Acho que vai ser superada com certeza, e vou aplaudir muito quando acontecer. Demorou muito, 43 anos é tempo demais para uma nova conquista. Isso vai reciclar o esporte. É essencial.

 

DIÁRIO - Jackson 'Demolidor' Júnior é o lutador profissional da sua equipe de maior destaque atualmente. Pode-se dizer que o trabalho com ele começa de onde parou com o Sertão (ex-campeão mundial)?

SERVÍLIO - Tem semelhanças. O Sertão pegou uma época melhor, estava tudo mais propício para os lutadores. Ele manteve sequência boa até faturar o título. O Jackson tem potencial para ser campeão mundial, mas não tem muita opção de combates, demora muito entre uma luta e outra. Além disso, precisa trabalhar para se sustentar, é torneiro mecânico. É mais uma das muitas histórias de raça que sempre tivemos no boxe.

 

DIÁRIO - Qual foi a principal falha no trabalho com o Sertão?

SERVÍLIO - Ele não soube lidar com o sucesso, desandou. Não temos mais contato por carta, e-mail, mais nada. Ele ainda fala com meus filhos, pede vídeos das lutas. É zelador de um ginásio em Cruz das Almas, na Bahia, e, infelizmente, nunca mais vai poder lutar. Mas é passado. Só o futuro me interessa.

 

DIÁRIO -Você move processo contra a AD São Caetano e Prefeitura, o que exatamente você reivindica?

SERVÍLIO - Só quero o reconhecimento devido e receber o que me é devido. Não tem como negligenciar e jogar no lixo quase duas décadas de trabalho.Quando o assunto é preconceito com modalidades, o boxe sempre está em alta, e isso também pesou. Acabou o investimento e não tive direito a nenhum ressarcimento. O problema foi este.

 

DIÁRIO - Mas ocorreu alguma tentativa de acordo?

SERVÍLIO - Queriam que eu assinasse um contrato de seis meses, passível de renovação por mais um ano, mas recusei. Isso poderia ser usado contra mim no futuro. Seria muito volúvel para quem fez tanto pela cidade.

 

DIÁRIO - E como está o processo atualmente?

SERVÍLIO - A Juíza de primeira instância (Lúcia Aparecida Ferreira da Silva Molina) estranhamente não reconheceu meu vínculo com o clube, e perdemos na primeira audiência. O (judoca) Carlos Honorato entrou com o mesmo processo e também deu na mesma.

 

DIÁRIO -Quantos títulos você e sua equipe ganharam por São Caetano?

SERVÍLIO - Foram inúmeros nos Jogos Abertos do Interior, Campeonato Paulista, Brasileiro, Forja de Campeões, Torneio Estímulo e outros. Tenho tudo documentado desde 1992, o que serviu como prova do processo. Os administradores da AD que foram depor contra mim foram honestos. A advogada da Prefeitura afirmou que não me conhecia, mas confessou que as verbas destinadas aos esportes de competição vêm da Prefeitura, por meio do Fundo de Apoio ao Esporte. Não tinha como dar errado, mas a juíza negou o vínculo empregatício e as verbas trabalhistas. Agora, vamos para segunda instância, em São Paulo. Em um ano espero que esteja resolvido.




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